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De mãos ainda erguidas, cerrei os lábios. Já aprendera que qualquer sinal de estresse levava minhas presas a incharem e minhas pupilas dilatarem, e não queria me preparar para atacar antes de saber como o que estava lidando.

-Jack? Charley? - uma voz de mulher chamou enquanto dois homens corpulentos corriam na minha direção, vindos da casa principal. Embora tivessem duas vezes o meu tamanho, eram sem sombra de dúvida humanos. Cada homem me segurou por um braço, mas friamente notei que bastaria uma única torção rápida para me livrar dos dois antes de partir para o ataque.

No entanto, lutei com cada fibra para manter a calma que me restava, de mãos ao alto, na esperança de que parecesse um vagabundo comum. Não havia garatias de que uma briga fosse levar ao resgate de Damon.

Uma menina caminhou da varanda em minha direção e parou a pouca distância.

-Peço desculpas - falei a ela. Tentei fazer com que a minha voz parecesse que respirava com dificuldade por conta do nervosismo -Não percebi que era propriedade particular. Sou novo na cidade e estava na taberna e, bem... - Eu me interrompi, sem saber se minhas mentiras não me meteriam em problemas ainda maiores.

-Acho que podia me roubar? - A menina avançou. Seu cabelo caiu em cachos flamejantes nas costas e ela usava o que parecia uma coroa de verbena. Estava com uma camisola branca, mas usava botas de homem, e eu podia ver calos em suas mãos. Embora fosse claramente de família rica, não era uma menina mimada da cidade.

-Não, não! Eu não estava roubando. Só estava procurando o vampiro - falei

Ela uniu as sobrancelhas.

-Para roubá-lo? - perguntou ela duramente, com as mãos nos quadris.

-Não! - repeti, meu braço dando um solavanco involutário. Um dos homens que me segurava me soltou, surpreso - Não - falei novamente, obrigando-me a continuar calmo - Vi o cartaz do espetáculo perto do lago, e bem, acho que minha curiosidade falou mais alto - dei de ombros.

Um galo cantou. O sol aos poucos se espalhava no jardim dos fundos. Olhei meu anel cintilante, grato por Lexi ter partido.

-Muito bem, então - disse a menina. Ela estalou os dedos e os dois grandalhões soltaram meus braços - Se é novo na cidade, então veio de onde?

-Mys...Mississipi - menti - Do outro lado do rio.

Ela abriu a boca como quem pretende dizer alguma coisa, mas a fechou.

-Ora, bem -vindo a Nova Orleans - disse ela - Não sei como são as coisas em no Mississipi, mas aqui não pode invadir o jardim das pessoas para olhar seus animais. E da próxima vez pode ser que não encontre gente tão amistosa quanto eu.

Repremi o impulso de bufar para a ideia dela de amizade, considerando o estado lastimável de meu irmão.

-E então, qual é o seu nome, forasteiro?

-Stefan - respondi - É a senhora Gallagher?

-Espertinho - observou ela com sarcasmo - Sou eu. Callie Gallagher

Um dos grandalhões se aproximou dela de forma protetora.

-Deixe-nos - ordenou ela - Vou acompanhar o Sr. Stefan até a saida

-Obrigado - Falei, comedido, enquanto a seguia pelo longo caminho de cascalho, passando pelo solário da casa em direção ao portão - Agradeço por confiar em mim - completei

-Quem disse que confio em você? - perguntou ela incisivamente, mais um leve sorriso de diversão por seus lábios.

-Bem, talvez então eu deva agradecer por não ter deixado que seus brutamontes me matassem.

Ela abriu outro sorriso, desta vez mais largo. Seus dentes eram de um branco perolado e um dos dentes da frente era meio torto. Sardas pontilhavam o nariz arrebitado. A menina tinha um cheiro doce, de laranja. Percebi que fazia muito tempo desde que eu achara uma mulher bonita por um motivo além do doce cheiro de seu sangue. Mas a crueldade estava por trás daquela beleza, porque esta mulher era responsável pelo aprisionamento do meu irmão.

-Talvez você seja bonito demais para ser morto. E todo mundo merece um pouco de gentileza, não acha?

olhei suas mãos calejadas, com uma ideia surgindo em minha mente.

-Seria imprudência demais de minha parte pedir-lhe mais uma gentileza?

Callie semicerrou os olhos.

-Depende do que vai me perdir

-Um emprego - falei, endireitando os ombros

A menina balançou a cabeça, incredula.

-Quer que o contrate? Depois de ter invadido minha propriedade?

-Pense nisso como uma expressão da minha energia e meu entusiasmo por...aberrações - falei, as mentiras agora flutuando facilmente para fora da minha boca - Sendo novo, estou com dificuldades para encontrar um trabalho e, para ser franco, sempre quis participar de um circo.

Ela ficou séria, e me preocupei que de repente fosse chamado seus capangas para me prender. Mas ela me olhou de cima a baixo, para a minha calça desbotado, e suspirou.

-Tinha a sensação de que vou me arrepender disto, mas vá a Lake Road amanhã a noite. Precisamos de um novo bilheteiro... O nosso fugiu com uma das mulheres gordas. Terá de chegar cedo...e ficar até tarde. Amanhã haverá movimento por causa da luta.

-É verdade. A luta - falei, mais uma vez fechando os punhos e reprimindo a raiva.

-Sim - ela sorriu com certa melaconlia - Então terá a oportunidade de ver seu vampiro em ação

-Imagino que sim - falei, dando-lhe as costas e saindo pelo portão de ferro. Mas, se dependesse de mim, ninguém veria o "vampiro em ação", porque Damon e eu já estariamos longe de a luta sequer ter começado.

sede de sangue -diarios de Stefan -vol.2Where stories live. Discover now