→10

631 28 0
                                    

Acordei pouco antes de anoitecer sobre a cidade. Pela janela do quarto, podia ver o sol alaranjado atrás de um campanário branco. Toda a casa estava em silêncio e por um momento não consegui me lembrar onde estava. Depois tudo voltou á minha memória: o açougue, os vampiros, eu sendo atirado na parede.

Lexi.

Como se seguisse uma deixa, ela entrou deslizando no quarto, mal produzido ruido ao abrir a porta. O cabelo louro estava solto nos ombros e ela usava um simples vestido preto. Se alguém olhasse rapidamente, podia confundi-la com uma criança. Mas eu sabia, pelos leves vincos em torno dos olhos e pelos lábios no de 19 ou 20 anos. Não tinha ideia de quantos anos Lexi teria desde então.

Ela se sentou na beira da minha cama, afagando meu cabelo.

-Boa noite, Stefan - disse ela com um brilho de malícia nos olhos. Segurava um copo cheio de um líquido escuro entre os dedos. - Você dormiu - observou ela.

Assenti. Até me afundar na cama de plumas do terceiro andar da casa, não tinha percebido que mal dormira na semana anterior. Mesmo no trem, não parei de me remexer , ciente ds suspiros e roncos de meus companheiros passagueiros e sempre, sempre ciente em bater constante do sangue correndo em suas veias. Mas aqui não havia batimentos que me tirassem o sono.

-Trouxe isso para você - disse ela, estendendo o copo. Eu o afastei. O sangue tinha cheiro ruim, amargo.

-Precisa beber - disse ela, parecendo tanto comigo mesmo falando a Damon que não pude deixar de sentir uma pontada de irritação...e tristeza. Levei o copo á boca e tomei um golinho, reprimindo o impulso de cuspir. Como eu esperava, a bebida tinha gosto de água parada, e o cheiro me deixou um pouco enjoado.

Lexi sorriu para si mesma, como se desfrutasse de uma piada particular.

-É sangue de cabra. Vai lhe fazer bem. Você ficará enjoado, dado o modo como vem se alimentado. Uma dieta exclusiva de sangue humano não faz bem para digestão. Nem para a alma .

-Não temos alma - zombei. Mas levei o copo á boca mas uma vez.

Lexi suspirou e pegou o copo, colocando-o na mesa de cabeceira ao meu lado.

-Tanto a aprender... - sussurou ela, quase para si mesma.

-Bem, não nos falta tempo, não é mesmo? - observei. Fui recompensado com uma risada deliciosa, surpreendentemente alta e gutural para o corpo de aparência frágil.

-Você aprende rápido. Vamos. Levanta-se. Está na hora de lhe mostrar nossa cidade - disse ela, entregando-me uma camisa branca e calças.

Depois de me trocar, segui-a pela escada de madeira rangente até chegar aos vampiros reunidos no salão de baile. Estavam bem-vestidos, mas todos pareciam meio antiquados, como tivessem saído de muitos retratos na parede. Hugo estava sentado ao piano, tocando uma versão desafinada de Mozart, metido numa capa de veludo azul. Buxton, o vampiro forte e violento, vestia uma camisa frouxa, branca e pregueada, e Percy usava calças desabotadas e suspensórios que davam a impressão de que estava atrasado para um jogo de bola com os colegas de escola.

Quando me viram, os vampiros ficaram paralisados. Hugo assentiu de leve, mas os demais se limitaram a observar num silêncio sepulcral.

-Vamos! - ordenou Lexi, liderando nosso grupo pela porta, descendo a calçada de ardósia pelas vielas sinuosas e finalmente entrando numa rua com a placa Bourbon. Cada entrada levava a um bar mal-iluminado, do qual fregueses embriagados saíam trôpegos para o ar noturno. Mulheres de roupas insinuantes se reuniam em grupos sob o toldos e homens caíam de bebados, pronto a rir ou brigar a qualquer momento. Imediatamente entendi por que Lexi nos trouxe aqui. Embora vestindo nossos trajes estranhos, não chamávamos mais atenção do que qualquer um dos farristas vivos.

sede de sangue -diarios de Stefan -vol.2Onde histórias criam vida. Descubra agora