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No fim da tarde seguinte, olhei satisfeito o sol se pôr sobre o porto. A Srta. Molly não exagera: as meninas da sua casa eram hospitaleiras. De café da manhã tivemos um com um cabelo longo e magio cor de milho e olhos azuis turvos. Ainda sentia meus lábios o gosto do sangue com vinho.

Damon e eu passamos o dia vagando pela cidade, admirando as sacadas de ferro batido n bairro francês - e as meninas que de lá acenavam para nós -, as alfaiatarias com rolos de seda suntuosa nas vitrines e as charutarias inebriantes, onde homens de barrigas redondas faziam negócios.

Mas de tudo o que vimos, o que mais me agradou foi o porto. Era o sangue vital da cidade, onde veleiros carregando mercadorias e artigos exóticos entravam e saíam. Sem o porto, eliminavam-se a cidade, tornando-a vulnerável e indefesa como as meninas da Srta. Molly naquela manhã.

Damon também olhava os barcos, esfregando pensativamente o queixo. Seu anel de lápis-lazúli cintilava á luz do sol poente.

-Quase a salvei.

-Quem? - perguntei, virando-me rapidamente, a esperança crescendo em meu peito - Você deu uma escapada e se alimentou de alguém?

Meu irmão estava de olhos fixos no horizonte.

-Não, claro que não. Refiro-me a Katherine.

É claro. Suspirei. A única coisa que a noite anterior havia feito era tornar Damon mais insatisfeito do que nunca. Enquanto eu desfrutava da companhia e do sangue doce de uma menina cujo nome jamais saberei, Damon foi para o quarto dele, tratando o estabelecimento simplesmente como o pensionato que fingia ser.

-Devia ter bebido -disse pela centésima vez naquele dia - Devia ter escolhido uma delas.

-Você não entende, Stefan? - perguntou Damon monotonamente - Eu não quero escolher nada. Quero o que tinha... Um mundo que compreendia, não um mundo que eu possa controlar.

-Mas por quê? - perguntei, perdido. O vento mudara e o cheiro de ferro, misturado com tabaco, talco e algodão, invadiu minhas narinas.

-Já é hora de se alimentar? - perguntou Damon com ironia. - Já não causou danos suficientes?

-E quem se importa com uma prostituta de um bordel sujo! - gritei, frustado. Gesticulei para o mar - O mundo está cheio de humanos e, assim que um morre, outro aparece. Importa se eu aliviar uma alma miserável de sua infelicidade?

-Está sendo descuidado, sabia? - grunhiu Damon. Sua língua disparou da boca para lamber os lábios secos e rachados - Alimentando-se sempre que tem vontade. Katherine nunca fez isso.

-E, bem, Katherine não morreu, não foi? - disse, minha voz saindo muito mas áspera do que eu pretendia.

-Ela teria odiado o que você se tornou - disse Damon, deslizando da cerca para ficar a meu lado.

O cheiro de ferro agora era mais penetrante, envolvendo-me como um abraço.

-Não, ela teria odiado você - retorqui - Com tanto medo de quem e, incapaz de buscar o que quer, desperdiçando seu Poder.

Eu esperava que Damon discutisse, até que batesse em mim. Mas ele apenas meneou a cabeça, as pontas do caninos retraídos visíveis nos lábios entreabertos.

-Odeio a mim mesmo. Não esperaria nada diferente dela -disse simplesmente.

Balancei a cabeça, decepcionado.

-O que houve com você? Antigamente era cheio de vida, sempre pronto para uma aventura. Esta foi a melhor coisa que nos aconteceu. É uma dádiva... Um presente de Katherine para você.

Do outro lado da rua um velho passou mancando, depois uma criança correu na direção contrária, cumprindo alguma ordem.

-Escolha um e alimenta-se! Escolha alguma coisa, qualquer coisa. Qualquer coisa é melhor do que ficar parado aqui, deixando o mundo passar.

Eu me levantei, seguindo o cheiro de ferro e tabaco, sentindo minhas presas pulsarem com a promessa de uma nova refeição. Segurei Damon, que se arrastou alguns passos de mim até que nos vimos em uma ladeira distante da iluminação a gás. A pouca luz que havia se concentrava num único ponto: uma enfermeira de uniforme branco, encostada num prédio de tijolos, fumando cigarro.

A mulher levantou a cabeça e sua expressão sobressaltada se transformou num lento sorriso ao ver Damon. Típico. Mesmo como vampiro sedento por sangue, Damon, de cabelos escuros, cílios longos e ombros largos, atraía o olhar das mulheres.

-Quer um cigarro? - perguntou ela, soprando a fumaça em círculos concêntricos que se misturavam com a névoa no ar.

-Não - disse Damon rispidamente - Vamos, irmão.

Eu o ignorei, aproximando-me dela. Seu uniforme estava sujo de sangue. Eu não conseguia parar de olhá-lo, vendo o vermelho intenso formar um contraste com o puro branco. Não importava o quanto eu o tivesse visto desde minha transformação, sangue ainda me deixava pasmo pela sua beleza.

-Teve uma noite ruim? - perguntei, me inclinando contra o prédio ao lado dela.

Damon segurou meu braço e começou a me puxar em direção ás luzes do hospital.

-Vamos, embora irmão.

A tensão serpenteou pelo meu corpo.

-Não! - Fui preciso apenas um golpe para jogá-lo na parede.

A enfermeira largou o cigarro. A brasa brilhou, depois se extinguiu. Senti o volume de minhas presas por trás dos lábios. Agora era só uma questão de tempo.

Damon tentou se levantar com esforço, mas logo se agachou, como se eu o fosse golpear de novamente.

-Não quero ver isso - disse ele -Se for em frente, nunca o perdoarei.

-Preciso voltar para meu turno - murmurou a enfermeira, afastando-se um passo de mim, como se quisesse fugir.

Segurei-a pelo braço e a puxei. Ela soltou um grito curto antes de eu cobrir a sua boca com a mão.

-Não precisa mais se preocupar com isso - sibilei, cravando meus dentes no pescoço dela.

O líquido tinha gosto de folha podres e antisséptico, como se a morte e a putrefação do hospital tivesse invadido o corpo da mulher. Cuspi o líquido ainda quente na sarjeta e joguei a enfermeira no chão. Seu rosto se contorcia numa careta de medo.

Mulher idiota. Deveria ter sentido o perigo e fugido enquanto podia. Aquilo não tinha sido nem mesmo uma caça. Inútil. Ela gemeu e eu coloquei os dedos em volta de seu pescoço, apertando até ouvir um estalo satisfatório do partir de ossos. A cabeça pendeu em um ângulo estranho, ainda pingando sangue da ferida.

Agora ela não fazia qualquer barulho.

Virei-me para Damon, que me fitava com uma expressão de horrorizada.

-Vampiros matam. É o que fazemos, irmão - falei calmamente, o olhar fixo nos olhos azuis de Damon.

-È o que você faz - disse ele, tirando o casaco dos ombros e atirando sobre a enfermeira - Não eu. Jamais.

A raiva latejava ardentemente dentro de mim.

-Você é um fraco - rosnei.

-Talvez seja - disse Damon - Mas prefiro ser um fraco a ser um monstro. - Sua voz ficou mais forte. - Não quero participar desta carnificina. E, se nossos caminhos voltarem a se cruzar, juro que vingarei todos os seus assassinatos, irmão.

Então virou-se e saiu correndo á velocidade de vampiro pela viela, desaparecendo rapidamente nas espirais de névoa.

sede de sangue -diarios de Stefan -vol.2जहाँ कहानियाँ रहती हैं। अभी खोजें