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Passei em disparada pelas choças armadas em volta do circo e entrei no bosque, seguindo os rastros da carroça até perder completamente o cheiro do veículo nos arredores da cidade. Um bêbado estava recostado em um prédio de tijolos, assoviando desafinadamente.

Numa fúria cega, ajoelhei-me sem jeito e o agarrei, mordendo seu pescoço e sugando seu sangue antes mesmo de ele ter tempo de ofegar. Senti gosto amargo, mas continuei bebendo, engolindo até não suportar mais.

Apoiado sobre os calcanhares, limpei a boca com as costas da mão e olhei em volta. Confusão e ódio corriam por minhas veias. Por que não havia conseguido salvar Damon? Por que só fiquei olhando Gallagher incitar o público a fazer mais apostas, enquanto o leão-da-montanha atacava meu irmão? E por que Damon permitiu ser capturado e me colocou nesta situação impossivel?

Desejei jamais ter insistido em transformá-lo em vampiro. Se ele não estivesse aqui e eu estivesse sozinho na cidade, tudo seria muito mais fácil. Agora eu tentava ser um bom irmão, e um bom vampiro, e fracassava em tudo.

Fui para casa, batendo os pés pela escada da entrada. Fechei a porta com força, abalando a dobradiças; um dos quadros na sala de visitas caiu no chão com um estrondo.

De imediato vi Buxton me fuzilar com o olhar do outro lado da sala, os olhos cintilando no escuro.

-Tem algum problema com a porta? - perguntou ele entredentes

Tentei passar, mas ele bloqueou meu caminho.

-Com licença - murmurei, empurrando-o

-Com licença você - disse Buxton, cruzando os braços - Entra aqui como se fosse a sua casa. Fedendo a humanos. Embora eu não vá questionar a Srta. Lexi, creio que é hora de você mostrar algum respeito epla casa dela, irmão.

A palavra irmão despertou algo em mim.

-Cuidado com que diz- sibilei, mostrando os dentes.

Mas Buxton se limitou a rir.

-Vou tomar cuidado com o que digo quando você cuidar de sua atitude

-Rapazes? - chamou Lexi do alto, a voz cantarolada contrastando com a cena tensa. Ela desceu deslizando a escada, os olhos compassivos de preocupação quando cairam em mim - E Damon...?

-Vivo - murmurei - Mas não consegui alcançá-lo

Lexi se empoleirou na beira da cadeira de balanço, os olhos grandes e solidários.

-Buxton, pode pegar um pouco de sangue de cabra para nós, por favor?

Os olhos de Buxton se estreitaram, mas ela saiu da sala e fui para cozinha. Na sala de estar, ouvi Hugo tocar uma animada marcha francesa ao piano.

-Obrigado - falei, afundando no estofado de dois lugares. Eu não queria sangue de cabra. Queria devorar galões e mais galões de sangue humano, beber até ficar enjoado e desmaiar em completo esquecimento.

-Lembra-se, ele é forte - disse Lexi

-Não estou preocupado com Buxton - falei

-Estou falando de seu irmão. Se for parecido com você, ele é forte

Olhei-a. Lexi se aproximou e pegou meu queixo.

-É nisso que precisa acreditar. É no que eu acredito. Seu problema é que quer tudo resolvido de imediato. É impaciente.

Suspirei. A última coisa que precisava era outro sermão sobre minha incompreensão do funcionamento do mundo dos vampiros.

Além disso, não era impaciência. Eu estava desesperado.

-Precisa apenas pensar em outro plano. Um plano em que possamos ajudar - Lexi viu Buxton entrar, trazendo uma bandeja de prata de duas canecas.

Buxton parou a meio passo.

-Faut -il l'aider? -perguntou ele em francês

-Nous l'aiderons - respondeu Lexi

Lexi e Buxton não sabiam que eu aprendera francês no colo de minha mãe, era estranho ouvi-los discutir se me ajudariam a libertar Damon. Olhei minhas mãos, que ainda estavam cobrertas do sangue coagulado de minha caçada no inicio da noite.

Buxton bateu a bandeja na mesa de cerejeira polida.

-Você não nos colocará em perigo - grunhiu ele, as presas a centimetros de meu pescoço. Ele me empurrou com toda a força contra a parede, e minha cabeça bateu ruidosamente no consolo de mármore da lareira.

Meu Poder me dominou e empurrei seu ombro com força. Mas Buxton era mais velho e mais forte do que eu, e continuou me mantendo preso na parede, as mãos firmes em meu peito. Sentia o sangue começar a verter da cabeça, no lugar onde bati.

-Seu monstro egoísta e ingrato - sussurrou Buxton, com a voz cheia de ódio - Já vi vampiros como você. Acham que são donos do mundo. Não se importam com os outros. Não se importam com quem matam. Vocês nos dão má fama.

Eu me retorcia, tentando escapar de suas mãs, quando de repente senti a pressão se aliviar de meu peito e, em seguida, o estrondo de Buxton caindo no chão.

-Buxton - repreendeu Lexi, oljando o corpo prostado a seus pés - De quantos séculos mais precisará para aprender a tratar um hóspede? E, Stefan, não concorda comigo que sangue humano simplesmente não combina com você? Este comportamento foi desnecessário - Lexi balançou a cabeça como uma professora irritada - Agora vou beber meu snague em paz. Comportem-se, rapazes - disse ela ao sair da sala, com a caneca nas mãos.

Como Lexi podia se afastar tão despreocupadamente, sabendo que meu irmão estava preso e sendo torturado? Eu passara a depender de Lexi para muitas coisas, e ter ajuda para encontrar e salvar Damon era minha prioridade.

Como se lesse minha mente, ela parou na arcada que levava a seus aposentos, olhando de um para o outro.

-Se e quando eu disser que ajudaremos Damon, vamos ajudar. Está claro para os dois?

-Sim. Srta. Lexi murmurou Buxton ao colocar lentamente de joelhos e se levantar

Assenti, mal contendo minha carranca. Se?

Buxton saiu mancando da sala, mas não antes de me lançar um último olhar.

De repente a casa parecia pequena demais, como se as paredes, o chão e o teto estivessem me comprimindo por todos os lados. Soltando um último rosnado, corri pela sala, saí pela porta e voltei a Lake Road.

sede de sangue -diarios de Stefan -vol.2Where stories live. Discover now