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Na manhã seguinte, acordei com alguém sacudindo meu ombro.

-Sai daqui - murmurei. Mas as sacudidas se tornaram mais insistentes.

Meus olhos se abriram e percebi que estava enroscado ao lado de uma das tendas do circo de aberrações de Gallagher.

-Você dormiu aqui? - perguntou Callie, cruzando os braços. Eu me sentei, esfregando os olhos e pensando no noite anterior. Sem saber para onde ir, voltei ao circo e acabei dormindo ali.

-Bom dia srta. Callie - falei, ignorando suas perguntas. Levantei-me e espanei a terra de minhas calças - Como posso ajudá-la?

Ela deu de ombros. Estava com um vestido de algodão rosa que marcava a cintura fina e mostrava os braços sardentos. A cor se destacava contra seu cabelo ruivo esvoaçante e, ela me lembrou uma rosa silvestre.

-Vamos levar alguns dias para arrumar tudo. Meu pai ganhou muito dinheiro e quer que o próximo evento seja ainda maior - sorriu Callie - Essa é a primeira regra do show business: faça com que queiram mais.

-Como está Da... o vampiro? - perguntei, protegendo os olhos do sol. Embora o anel me resguardasse da agonia de seus raios, o sol fazia com que me sentisse exposto e desajeitado. A noite encobria mais do que minhas presas: na luz do dia eu tinha de estar sempre atento para saber se não estava me movimentando na velocidade da luz, respondendo a perguntas que não devia ser capaz de ouvir, ou seguindo meu impulso de se alimentar.

Callie colocou uma mecha de cabelo cor de ferrugem atrás da orelha.

-Creio que o vampiro esteja bem. Meu pai mandou que os tratadores cuidassem 24 horas por dia. Não querem que ele morra. Pelo menos, ainda não.

Ainda não servia de pouco conforto, mas já era alguma coisa. Significava que eu ainda tinha tempo.

Ela franziu ligeiramente a testa.

-É claro que eu não acho que devam deixar que ele morra. O que estamos fazendo com ele e com os animais contra os quais ele luta é um barbárie completa - disse ela com suavidade, quase falando consigo mesma.

Levantei a cabeça rapidamente ao ouvir aquelas palavras. Ela era mais compreensiva em relação ao sofrimento de Damon do que eu imaginava?

-Posso vê-lo? - perguntei, surpreso com meu atrevimento.

Callie deu um tapa em meu braço.

-Não! A não ser que pague, como todo mundo. Além disso, ele não está aqui

-Ah.

-Ah - zombou de mim. Depois seus olhos se suavizaram. - Ainda não acredito que dormiu aqui. Você não tem casa?

Olhei em seus olhos.

-Tive... uma discussão com minha família - Não era bem uma mentira.

O circo de aberrações começava a despertar. O homem forte saiu, com olhos turvos, de uma barraca. Abuptamente, jogou-se no chão e começou a fazer flexões. O vidente foi para a parte isolada do lago, com uma toalha na mão, sem dúvida para tomar banho. E dois dos sempre presentes seguranças corpulentos olhavam Callie e a mim com curiosidade.

Callie também percebeu.

-Gostaria de dar uma caminhada? - pergunta ela, descendo de uma estrada de terra batida para a margem do lago, fora de vista de circo. Ela pegou uma pedra e atirou na água, onde caiu com um som oco.

-Nunca consegui fazer uma pedra quicar - disse num tom triste que me provocou uma gargalhada irreprimivel.

-O que há de tão engraçado? - perguntou ela, batendo em meu braço de novo. O tapa foi brincalhão, mas as pulseiras que ela usava eram trançadas com verbena e o contato provocou uma onda de dor em meu braço. Ela pôs a mão no meu ombro, a preocupação vincado a testa - Você está bem?

sede de sangue -diarios de Stefan -vol.2Donde viven las historias. Descúbrelo ahora