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FELIPE

Eu não mudava esse jeito de querer resolver tudo sozinho e poupar Lara, porém prometi para mim mesmo que seria a última vez, não posso deixar com que ela pense que continuo sendo esse cara tão parecido com o meu pai. No outro dia pela manhã Ernesto chegou na minha casa com diversos homens, o carro blindado para não correr o risco da minha irmã fugir ou algo do tipo, eu escolhi não estar por perto quando levaram ela para o carro, estava na minha sala de pé em frente a janela fumando um cigarro que seria outra coisa que descartaria quando virasse essa página. 

Ernesto: O julgamento será em algumas semanas, você pretende ficar por aqui? -dei um trago e assenti confirmando- 

Felipe: Quando for o julgamento vou para São Paulo de vez -fiz uma pausa- e meu pai? Ele vai saber?

Ernesto: Você quem decidi o que fazer, você está no comando de tudo -dessa vez ele fez uma pausa e suspirou- não se esqueça disso. 

Felipe: Obrigado Ernesto, agora eu sei porque os Bottini's confiam tanto em você. 

Ernesto: O nosso objetivo é um só Felipe, e seu pai nunca compreendeu isso. 

Ele tinha razão, meu pai achava que qualquer pessoa queria passar por cima dele e do que ele achava. Somente ele poderia ter poder e razão, e dentro de uma organização não é assim que funciona. 

Os dias se passaram devagar demais, por um lado eu me sentia um merda por não estar ao lado de Lara e por outro eu precisava daquele tempo. Colocar a cabeça no lugar e chegar no dia da audiência da Ana Júlia sabendo o que vou querer de fato e assim eu fiz. 

Dei uma última olhada para a vista do meu quarto que era a minha preferida da casa, o sol estava nascendo as ondas quebrando na areia suavemente, o céu começando a ficar azul por completo. Peguei a minha mala e fechei a porta do meu quarto descendo de encontro à Francesco que já estava me esperando em frente ao carro, conforme fui me aproximando ele abriu a porta de trás e neguei.

Felipe: Quero acelerar hoje -abri um sorrisinho e ele fez o mesmo assentindo e deu a volta abrindo a porta- 

Entrei e o mesmo foi no carro de trás com os demais seguranças, eu não confiava no meu pai e nem mesmo na minha irmã. Pela manhã não havia trânsito, o dia estava favorável e pedi nos meus pensamentos que continuasse assim. Ernesto pediu um carro para me buscar na mansão, e assim que cheguei o carro já estava a minha espera e fui sozinho, eles me deixariam aqui novamente. 

O caminho todo eles nos fazem ficar vendados para não correr o risco, e entendo o procedimento, regras são regras e lido muito bem com elas. Quando tiraram a venda do meu rosto em seguida me levaram até um sala onde haviam alguns chefes abaixo e acima de Ernesto, cumprimentei todos eles sem exceção, me pediram para sentar e em seguida trouxeram minha irmã. Ela já estava completamente diferente, o cabelo loiro batia no ombro e o rosto bem pálido, ela passou reto e desviou o olhar do meu, se sentou e abaixou a cabeça. 

Ernesto: Bom dia a todos! -respondemos em uníssono- Estamos aqui hoje para o julgamento da Ana Júlia Agostini Ferrari -ele explicou tudo o que havia acontecido desde o início, e relembro todos que estavam ali sobre o que ela havia feito com os Bottini's em tentar se aproximar por ordem do meu pai- Como todos vocês sabem o tribunal do crime é algo mais embaixo, o Felipe -ele me olhou- poderia muito bem ter escolhido qualquer tipo de tortura ou morte para Ana Júlia, mas optou por decidirmos, você fez o certo tomar uma decisão quando é alguém da nossa própria família vai muito mais além do que nós somos, e com certeza falaria mais sobre você do que ela mesmo. 

Engoli seco, meu coração estava tão acelerado que tive medo de conseguirem ouvir. Minha irmã não conseguia me olhar, e isso me deixou mais confortável, porque eu sei que mesmo fazendo todas essas merdas o ego dela ainda falava mais alto, a verdadeira cópia do meu pai.

Ernesto: O que Ana Júlia fez passou por cima de tudo o que consideramos ético dentro da nossa organização, os Russos é algo que está completamente fora do nosso controle. 

Anajú: E não deveria né? -ela riu debochando e neguei com a cabeça, um caso perdido- 

Ernesto: Dentro do Brasil quem controla somos nós, se você fosse tão esperta teria ido para a Rússia com os seus novos chefes mas não fez -ele fez uma pausa e ela se calou completamente- com isso, Ana Júlia Agostini Ferrari, filha de Alberto Agostini é considerada culpada por todos os crimes dito aqui no tribunal e cumprirá prisão perpétua em nossa sede, sem direito a visita ou qualquer tipo de regime semiaberto. 

Anajú: Vocês são ridículos!! -ela gritou da cadeira e dessa vez me olhou- eu prefiro morrer, porque você não apertou a porra do gatilho? -choramingou no final e continuou me olhando- 

Ernesto: Farei questão de contar para o seu pai a pena que você pegou, que ele também faz parte. 

Assim que encerrado levantei e saí daquela sala, não queria ver tirando ela dali. Estava parado em um canto com as duas mãos no bolso da frente, de cabeça erguida, logo em seguida Ernesto saiu e foi na minha direção. 

Ernesto: Ela é mesmo a cópia do seu pai Felipe, eu sinto muito por isso. 

Felipe: Não sinta -ri baixo- 

Ernesto: Você decidiu o que vai ser daqui pra frente?

Felipe: Estou abrindo mão de todos os negócios ilegais dos Agostini's, vou ficar apenas com a rede de academia que já está no meu nome -fiz uma pausa e tirei um papel do bolso que havia escrito a próprio punho- não quero nada que venha deles Ernesto, e sei que essa parte é com você -ele assentiu pegando o papel- 

Ernesto: O valor de tudo será repassado para a sua conta que nós já temos, nada mais justo do que esse dinheiro ir para você Felipe, iremos te tirar de tudo e limpar o seu nome, ninguém saberá sobre o seu passado. 

Felipe: Obrigado Ernesto. 

Saí de lá com o coração leve, sentindo que o meu dever foi cumprido em relação a minha família. Fui fiel e segui tudo o que aprendi desde pequeno, quem não pode errar sou eu e assim eu fiz. 

Me deixaram na mansão e eu já sabia o que iria fazer. Lara estava na casa da Amanda e do Gabriel com o seu pessoal e sabia que chegaria a noite, então aproveitei para colocar algumas coisas em ordem e decidi vender a mansão que também fazia parte do meu passado, conforme foi anoitecendo tomei um banho e coloquei uma calça de sarja preta, um tênis e uma camisa preta com a manga dobrada no antebraço, coloquei um cartier dourado no meu pulso e mantive a corrente fina de ouro por debaixo da camisa, passei um perfume e peguei meu celular, desci e fui pegar um dos carros e acelerei para a casa da Lara. 

Vi quando Vic e Gustavo a deixaram na porta do AP, ela estava tão linda com uma camisa branca e calça jeans, o jeito mais tradicional possível, porém eu sabia bem o que havia por debaixo daquela roupa. Ela entrou e minutos depois fui até a portaria, consegui conquistar o porteiro com a minha lábia e mostrei uma foto nossa falando que passei um tempo fora,  e que gostaria de fazer uma surpresa, bingo. Toquei a campainha do seu AP e ela levou alguns segundos para abrir, quando me viu sorriu de orelha a orelha e não esperou muito para pular em meus braços prendendo as duas pernas na minha cintura, envolvi meus braços a segurando firme e nos beijamos. 

Lara: Eu não acredito nisso! Você não me disse nada -ela afastou um pouco o rosto para me olhar e ri baixo afirmando, toquei seu rosto e acariciei com o dedão-

Felipe: Surpresa -falei baixo encostando os lábios no dela e nos beijamos outra vez-

Desci a mesma do meu colo e segurei a sua cintura com força puxando-a para mais perto de mim, ela estava na ponta dos pés mesmo estando de salto ainda enquanto segurava o meu rosto. Era um beijo com um misto de sentimentos, e saudade é um deles. 


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REFÉM | LIVRO 3 DA SÉRIE: EU DEPOIS DE VOCÊWhere stories live. Discover now