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Rayssa

Depois que eu saí da casa do Tito a dois dias atrás, me tranquei no meu quarto e não falei mais com ninguém. Não sai daqui nem pra comer e tudo que faço é chorar o dia todo, minha mãe já tentou conversar comigo, me fazer abrir a porta para pelo menos comer, mas eu nem movi um músculo pra isso.

Eu já estava decidida a tirar o bebê antes da conversa com Tito, mas depois que conversei com ele e ele me acalmou, comecei a repensar se era isso mesmo que eu queria, se não estava fazendo isso por puro impulso e medo. Vamos lá, eu nunca tive aquele sonho de ser mãe, queria sim ter um filho algum dia, mas nunca foi meu maior desejo. Só que agora aconteceu, e aconteceu por culpa minha mesmo, não usei camisinha e deu nisso, confiei demais no anticoncepcional mesmo sabendo que não era 100%.

O problema é que não me sinto preparada pra isso, acho que agora não tenho psicológico pra gerar e cuidar de uma criança, um ser humano que vai ser dependente de mim pelo resto da vida, não sei se consigo ser a mãe que esse bebê vai precisar. Não quero colocar filho no mundo pra criar de qualquer jeito, mas também não queria tirar, fui criada indo pra igreja aos domingo com minha vó e sei muito bem que é pecado. Sei também que Deus não dá uma cruz que não possamos carregar, mas e se eu não conseguir? E se eu falhar como mãe e meu filho me odiar?

Encaro a cartela com o remédio a minha frente e fico parada por alguns minutos apenas olhando pra ele, pensando se isso é o certo a se fazer e se isso é o que eu quero mesmo. Se eu tomar esse remédio agora vai ser um peso que vou carregar pro resto da minha vida, vou carregar essa culpa pra sempre e não vai ter como voltar atrás.

É isso mesmo que eu quero? Eu quero mesmo interromper essa gravidez? Eu não sei, não tenho certeza de mais nada na minha vida desde que descobri essa gravidez. Morro de medo de abortar e me arrepender, porque querendo ou não é uma vida, por mais que ele ainda seja um feto e nem tenha se formado ainda. Não sou contra o aborto, pelo contrário, super apoio em qualquer ocasião, mas não agora encarando essa cartela de remédio não sei se tenho coragem.

Penso na minha faculdade, nos meus estudos e no caos que vai se tornar minha vida se eu decidir ter esse bebê, o quão difícil vai ser conciliar tudo e o tanto de coisa que vou perder. Penso nas noites que vou ficar acordada de madrugada, na dor do parto, nas noites de cólicas e pensando nisso eu pego a cartela de remédios. Retiro um comprimido e pego o copo de água na escrivaninha, respiro fundo e fecho os olhos, quando vou colocar o remédio na boca ouço uma batida fraca na porta. Abro os olhos imediatamente e olho pra porta, com medo de que alguém entre, mas então lembro que está trancada desde que entrei aqui a dois dias atrás.

Como todas as vezes eu fico em silêncio, apenas esperando a pessoa lá fora falar o que quer e ir embora, aposto que é minha mãe novamente tentando me fazer comer. Se passam alguns minutos e a pessoa lá fora não fala nada, franzo a testa e encaro a sombra na porta, sei que ela está lá ainda e estranho. Coloco o remédio na penteadeira junto com o copo de água e quando estou pronta pra levantar da cama pra sabem quem é me surpreendo quando ouço a voz baixa.

RD: Rayssa...- Sua voz é baixa, tão baixa que se não estivesse um silêncio danado na casa eu não conseguiria ouvir.

Rayssa: O que você quer? Já não disse tudo que tinha pra dizer naquele dia? Vai embora!- Sou dura ao gritar mandando ele ir embora.

RD: Rayssa por favor, abre a porta.- Pede novamente com a voz estranhamente calma.

Rayssa: Eu não quero falar com você, vai embora Ricardo!- Uso seu nome pois sei que ele odeia, mesmo não conseguindo ver seu rosto sei que ele está com os olhos fechados e respirando fundo tentando manter a calma.

Amor proibidoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora