I- O começo

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O calor em Bogotá naquela época do ano era insuportável, do tipo que fazia ondas de calor emanarem do asfalto. Tudo que se via pelas ruas da cidade eram mulheres em vestidos de verão, crianças tomando algum tipo de sorvete e senhorinhas com guarda-chuvas buscando proteção contra o sol escaldante.

Javier Peña estava encostado despreocupadamente em seu carro atento a movimentação da rua a sua frente, estava aguardando que seu companheiro e amigo, Steve Murphy, lhe desse algum sinal através do rádio que um sicário de um cartel qualquer estava pelas redondezas. 

Nada parecia fora do comum, mas Javier vivia na Colômbia a tempo suficiente para saber que alguém poderia aparecer atirando, ou ate mesmo uma bomba poderia explodir, a qualquer momento. 

Havia perdido as contas de quantos cigarros já havia fumado naquele dia, mas definitivamente fumaria mais um. Soltou a fumaça com certa rapidez, o falatória na rua estava deixando-o tenso, sua cabeça parecia preste a explodir, tanto pelo calor, quanto pelo estresse dos últimos dias. 

A questão é que já faziam semanas desde a ultima vez que haviam feito qualquer progresso  em relação ao Cartel de Quiteña, os filhos da puta haviam simplesmente sumido do mapa. Como era de se imaginar a chefia não estava nenhum pouco satisfeita com a falta de atualizações, pressionavam constantemente, diariamente, para ser mais especifico, por qualquer tipo de atualização do caso.

Aquele maldito sicário era a última esperança de Javier em conseguir um pouco de paz. Não havia como negar, Javi já começava a se sentir um pouco incompetente, sentia como se todos os colegas murmurassem quando ele e Steve passavam, afinal eles haviam pego Escobar, como não conseguiam absolutamente nada sobre aquele grupinho de traficantes desorganizados?

-Peña? - A voz de Steve soou pelo rádio. -Parece que fomos enganados... -Javier jogou o cigarro no chão, passava as mãos pelo rosto, exasperado - Denovo. 

Aperto o rádio das mãos com um pouco de força demais, estava prestes a jogar aquela maldita coisa no meio da rua, mas respirou fundo e respondeu o amigo.

-Certo, vamos embora. 

Deu a volta no carro e assumiu o volante, passava as mãos por aquela coisa como se sua vida dependesse daquilo. Alguns minutos depois ouviu Steve entrando no banco do passageiro.

-Cara, a gente tá muito fodido. -O loiro soltava o ar com certa rapidez, era perceptível que o ambiente no carro era no mínimo tenso. 

Peña limitou-se a dar partida no carro e dirigir de volta para o trabalho. A viagem silenciosa só o fazia pensar nos olhares de reprovação dos outros.

-Vão mandar um cara novo. -Steve murmurou enquanto ascendia um cigarro.

-O que? -Javier desviou os olhos para o amigo, ele era o chefe daquela operação, como não sabia que alguém novo estava chegando para a sua equipe?

-É, porque a gente é incompetente. -Murphy batucou os dedos na porta do carro, atento às reações do amigo. -Como você não sabia?

-Porque ninguém me falou, porra. -Apertou o volante com um pouco mais de força. -Aquele velho maldito do Crosby.

O loiro preferiu ficar em silêncio, sabia o amigo não estava lidando bem com aquela estagnação no caso.

O restante do dia se arrastou em papeladas jogadas sobre a mesa e um calor infernal, Javier praticamente pulou da cadeira quando notou que era finalmente hora de ir embora. Deu um leve aceno de cabeça ao amigo e saiu daquele prédio com pressa.

Mal podia esperar para chegar em seu apartamento e tomar uma bebida, seguida de uma foda descente com Maritza.

A prostituta bateu em sua porta 20 minutos depois de que havia chegado em casa, fora tempo suficiente para que ele tomasse umas boas doses de whisky e já sentisse seu corpo levemente relaxado.

Peña não era muito de conversa, ia direto ao ponto, tudo que precisava era comer aquela mulher como se sua vida dependesse daquilo.

E de certa forma dependia. Os únicos momentos de relaxamento que aquele homem tinha era quando estava fodendo alguém.

-Meu Deus, Javier. -A garota gemia conta a cama, o rosto pressionado com certa violência conta o colchão. -Porra!

Aquele grito com certeza seria ouvido pelos vizinhos, mas Javi não se importava, continuava metendo violentamente na mulher. Essa era a parte boa sobre as putas, elas não davam a mínima se ele era carinhoso ou violento, desde que recebessem seu pagamento no final.

Alguns minutos depois e ele havia finalmente gozado e, como a pessoa tensa que havia se tornado, levantou rápido da cama e vestiu a cueca indo em direção a janela do quarto.

O vento que entrava era quente, deixava a sua pele infinitamente mais pegajosa do que já estava, ele ascendeu um cigarro e ficou olhando a rua pela janela.

-Aconteceu alguma coisa? -A voz de Maritza era doce, ela sempre direcionava a ele aquele tom levemente preocupado.

Era uma garota bonita. A pele da mulher sempre parecia bronzeada, seus olhos eram de um azul absolutamente angelical enfeitando aquele rosto esculpido por Deus. Os cabelos chegavam aos ombros, sempre retos, com uma cor preta que Javi nunca havia visto em mais ninguém.

Ele encarou aqueles olhos, e se sentiu meio mal por ter sido bruto com a mulher.

-Porquê? -Soltou a fumaça e um suspiro, não gostava de como aquela garota parecia se importar com ele.

-Você foi um pouco diferente hoje. -Ela terminava de colocar o leve vestido azul que o mais velho praticamente havia arrancado de seu corpo mais cedo.

-Desculpa, tô com alguns problemas no trabalho. - Ele voltou a encarar a janela.

Ouviu os passos da mulher se aproximando e logo tratou de pegar a carteira e estender o dinheiro para a mesma. Notou os olhos da garota contrariados, talvez até um pouco tristes.

Ela se aproximou um pouco mais, ficando na ponta dos pés e depositou um beijo na bochecha do moreno.

-Boa noite, Javi. -Maritza finalmente havia ido embora.

Javier havia acordado com uma dor de cabeça insuportável e a movimentação no trabalho não estava ajudando em nada. Alguns minutos atrás Steve o havia arrastado até uma sala, completamente abarrotada com seus colegas de trabalho, para ouvir o que Crosby tinha a dizer.

A figura ao lado do velho definitivamente chamava atenção, era um contraste a sala repleta de testosterona. A garota devia ter no máximo 25 anos, e não parecia nenhum pouco intimidada de estar diante de todos aqueles olhos julgadores.

Os cabelos ruivos estavam presos em um coque apertado em sua nuca, a expressão séria em seu rosto era no mínimo intimidadora. Os olhos eram grandes e castanhos bem escuros, o nariz era pequeno e reto com a ponta levemente arredondada. A boca era pequena, com o lábio inferior mais cheio que o superior e estavam levemente abertos, revelando os dentes arredondados da garota.

Javier não havia ouvido uma palavra sequer que saia da boca daquele velho, seus olhos simplesmente não conseguiam se desviar da novata.

-Ei, Peña? -Murphy cutucava levemente o braço do moreno. -O que achou?

-Espero que seja boa. -Foi tudo que conseguiu falar, bebericando seu café para desviar um pouco de atenção.

Minutos depois todos foram dispensados e os dois amigos seguiram para a sala em que trabalhavam, mas não tiveram tempo de sentarem em suas cadeiras pois foram interrompidos por Crosby.

-Rapazes. -Cumprimentou brevemente os dois e esticou a mão em direção a mulher que estava ao seu lado. -Está é Verônica Miller, como já sabem ela é a mais nova adição à operação para pegar o Cartel de Quiteña.

Steve e Javier se entre olharam com as sobrancelhas levantadas, se a garota se abalou com os olhares de desdém não deixou transparecer.

-É um prazer conhecer vocês. -A mulher falou completamente impassível, o tom de voz firme e absurdamente profissional. 

Don't Blame Me - Javier PeñaOnde histórias criam vida. Descubra agora