XIII - Os dois patetas

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Verônica não dormia tão bem há meses, sentia o calor contra seu corpo e o cheiro conhecido de Javi a mantinha calma. Poderia ter passado o resto do dia daquele jeito, mas o despertador tocaria a qualquer momento e os tiraria daquele pequeno casulo protetor.

Sentiu o corpo do mais velho afastar do seu e suspirou, derrepente o quarto parecia frio. Rolou na cama para poder encarar o moreno, mas ele ainda dormia tranquilamente. Os lábios entreabertos soltavam pequenos suspiros e os cabelos bagunçados estavam espalhados por sua testa. Esticou a mão e afastou com cuidado alguns fios rebeldes, Javier moveu o rosto na direção de sua mão, quase como se precisasse de algum mísero contato.

O som insuportável do despertador vinha da sala de estar, aquela distância parecia abafado o suficiente para  ser ignorado, mas o moreno ouviu e começou a espreguiçar-se na cama.

—Bom dia. —A voz rouca da ruiva o fez a encarar com um pequeno sorriso.

—Bom dia. —Então ele sentou e olhou as horas em seu relógio de pulso. —Dormiu bem?

—É, dormi sim. —Ela permanecia deitada, seu corpo ainda coberto pelo lençol colorido. —Te ofereceria café, mas eu não tenho aqui.

O homem soltou uma risada e voltou a encara-la, havia tanta calma e até certa familiaridade naquele momento, era algo que ele não estava acostumado. Não lembrava da última vez que havia apenas dormido com uma mulher e muito menos lembrava de acordar ao lado de uma.

—Quer tomar café lá em casa? —Sentiu as bochechas ruborizarem com a frase, o que aquela mulher estava fazendo com ele? Javier Peña não ficava envergonhado por tão pouco.

—Não costumo tomar café da manhã, ainda mais depois de toda  a bebedeira de ontem.—Ela fez uma careta engraçada e também sentou. —Então eu ainda tô de folga?

O moreno levantou  da cama e foi em direção a porta do quarto, não queria deixa-la de fora da investigação, mas não podia fazer nada até que o Coronel afirmasse que estava tudo bem.

—É, por enquanto sim. —Ele respirou fundo e apoiou-se contra a parede. —Mas fica pronta ok? Posso ter atualizações a qualquer momento.

—Certo, capitão. —A ruiva bateu uma continência desajeitada, fazendo o amigo revirar os olhos e sorrir.

Não pensava que sentiria um incômodo tão grande ao ver a figura alta sumir pela porta de entrada, derrepente o apartamento voltava a ser só um lugar estranho.

Verônica não podia dizer que havia seguido a risca as instruções dos amigos, afinal ela estava naquele momento sentada em um restaurante perto da delegacia. Já era quase hora do almoço e ela juntou o útil ao agradável, estaria por perto caso um dos agentes ligasse.

Estava sentada aos fundos do lugar e comia em silêncio, estava bem parado, apenas mais quatro mesas estavam ocupadas.

Não aguentava mais ficar longe do trabalho, começava a sentir-se impotente e até mesmo meio inútil, porque sempre tinha que ser um homem a estragar tudo? Maldito fosse qualquer sentimento que Simón achava que sentia por ela.

Duas pessoas sentaram em sua mesa sem cerimônia, ela bufou e revirou os olhos enquanto Van-Ness e Feistel a encaravam.

—Você não devia tá trancada em casa? —O homem loiro a olhava com desdém. —Peña vai ficar puto quando souber.

Verônica limitou-se a tomar um longo gole de seu suco, direcionou um sorriso de lado aos homens.

—Vocês não tem mesmo nada melhor pra fazer? —Apoiou os cotovelos sobre a mesa, não queria se desgastar com aquele dois.

Don't Blame Me - Javier PeñaOnde histórias criam vida. Descubra agora