XII - Dirty Dancing

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Verônica estava trancada em casa a pelo menos duas horas e nada parecia fora do comum: a rua permanecia calma e relativamente silenciosa, e não havia sequer um carro estacionado ao lado de fora.

Ela já havia feito tudo que passava pela cabeça, fez uma faxina decente, dobrou todas as roupas, lavou alguns pratos e até hidratou o cabelo.

Mas agora estava sentada de frente a televisão assistindo uma novela e havia começado a sentir-se irritada. Não lidava nada bem com o tédio, e muito menos com a sensação de impotência.

Caminhou até a pequena mesa próxima da janela e abriu uma garrafa de whisky, tomou vários goles seguidos da bebida até sentir que sua garganta não suportava mais o ardor do álcool. Deus passos lentos até o aparelho de som velho e sincronizou com uma rádio qualquer, aumentando o volume apenas o suficiente para não irritar o restante do prédio.

Porque ela tinha feito a idiotice de beijar Simón? Se tivesse se controlado um pouco não estariam naquela situação de merda. Soltou um riso alto e meio histérico, nunca em toda sua vida havia pensado que teria um "romance" com um traficante, ela era a porra de uma policial, aquilo parecia mais o roteiro de uma novela muito ruim.

E ainda tinha o Javier. Ela havia passado todos aqueles dias tentado esquecer da noite no bar, se fechasse os olhos ainda conseguia sentir a respiração dele próxima, sentia a pressão das mãos sobre sua cintura e o calor do corpo. Mas nada havia acontecido e provavelmente nunca voltaria a acontecer, o moreno estava envolvido demais com Maritza, apesar de ele se quer perceber isso. Odiou ver a mulher vestida com a blusa dele, mas odiou ainda mais por  parecer que aquilo já havia acontecido milhares de vezes.

As coisas entre eles pareciam terrivelmente normais, se a situação do bar também atormentava Javi, ele era muito bom em esconder. Tomou mais um longo gole da bebida e encarou a janela, o sol já começava a sumir no horizonte deixado o interior do apartamento pintado de laranja e sombras. Como ele conseguia ser tão fodidamente indiferente? Quer dizer, ela agia como se não ligasse, mas odiava que  ele fizesse o mesmo.

Aumentou mais o volume da música e começou a dançar, não ligava se seus movimentos eram desordenados e nada sensuais, não havia ninguém ali para ver. Uma fina camada de suor  começava a cobrir sua pele, a camiseta branca já estava grudando desconfortávelmente em sua barriga e costas.

Batidas altas na porta da frente se sobressaíram ao som da música, Verônica se sentia bastante tentada a apenas ignorar, afinal era isso que os amigos haviam falado que ela deveria fazer. Mas quem quer que estivesse a porta não parecia desistir fácil, pois as pancadas só ficaram mais intensas.

Bufou e caminhou até a porta, pelo olho mágico viu um Javier impaciente esmurrar mais uma vez a pobre madeira.

—Pelo amor de Deus, eu já ouvi! —Ela abriu a porta e voltou para a sala de estar para abaixar o volume da música, ouviu Javier trancar a porta. —Novidades?

O moreno apenas jogou as chaves sobre a mesinha de centro e observou a garrafa de whisky pela metade, algumas bitucas e cinzas de cigarro estavam dentro de um copo de vidro.

—Passou a tarde toda bebendo? —Ele tinha as mãos apoiadas na cintura, seus olhos terrivelmente sérios.

—Foi você que me deu folga, chefe. —Ela pegou a garrafa e levou lentamente aos lábios. —Alguma novidade?

Peña sentou ao sofá, estava uma pilha de nervos e lidar com Verônica bêbada não melhoraria seu humor.

—Ainda estão trabalhando nisso, o Coronel Martinez vai dar algum retorno sobre amanhã. —O homem suspirou e jogou a cabeça para trás, seu pescoço encontrando uma acomodação perfeita no estofado macio.

Don't Blame Me - Javier PeñaWhere stories live. Discover now