XXI - Prisão domiciliar

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Javier proibiu Verônica de sair do hotel durante o restante do dia, e pela primeira vez ela não reclamou, não estava com vontade alguma de sair daquele quarto. Ela não precisou falar para que os amigos tivessem percebido que o reencontro havia mexido com ela de uma maneira inesperada, estava estampado em seus olhos avermelhados pelo choro. Não era como se estivesse apaixonada nem nada do tipo, ela só não conseguia ser indiferente a alguém que parecia sentir tanto por ela.

Ficar trancada naquele quarto acabaria sendo uma benção, pois não teria que lidar com a expressão de mágoa que havia se instalado no rosto de Javi e nem com a frustração sufocante em que Steve se encontrava. Sua cabeça já estava lidando com muito naquele momento, havia sentido um alívio tão grande quando soube da morte do homem, mas agora a culpa a consumia.

Peña havia saído para jantar com Murphy, mas logo ambos retornaram para o hotel. Steve havia ido depressa até o próprio quarto deixando o moreno plantado no corredor com uma sacola em mãos. Ele havia comprado comida para a agente, pois algo lhe dizia que ela não havia tocado em nenhum tipo de comida desde o café da manhã. Estava parado em frente a porta da mulher a mais tempo do que podia imaginar, mas não conseguia se obrigar a bater na porta.

Ele havia evitado o máximo possível pensar no que a repentina aparição de Simón significava, tanto para a operação, quanto para Verônica. Sua mente simplesmente voltava a ficar nublada de desconfiança, e se a agente soubesse de algo e não quisesse contar para não prejudicar o cara? Seus instintos diziam para mandar a mulher de volta para Bogotá, mas sabia que se fizesse aquilo ela sabia que ela nunca o perdoaria.

Bateu insistentemente e logo pode ver o rosto levemente amassado de Verônica. A mulher parecia ter acabado de acordar, uma careta mal humorada surgia aos poucos em seu rosto.

-Trouxe o jantar. -Javi levantou a sacola a altura dos olhos da ruiva, ela não parecia nada animada com aquilo.

-Valeu, chefe, mas não tô com fome. -Começou a fechar a porta, mas a mão do moreno a impediu rapidamente.

-Comeu alguma coisa hoje? Além do café da manhã? -Ele tinha uma expressão séria apesar da voz ser o mais mansa o possível.

-É sério, Javi. - O tom da mulher era quase de súplica. -Não acho que consigo comer nada sem vomitar.

-Tem que tentar, princesa. -Ele colocou devagar uma mecha de cabelo atrás da orelha da mais nova. -Não quero que passe mal.

Verônica sentiu as lágrimas voltarem aos olhos com a suavidade com que o moreno se dirigia a ela. Era tão injusto que ele estivesse ali passando por cima dos próprios sentimentos para checar se ela estava bem, a última coisa que queria era causar qualquer tipo de sofrimento a Javier. Ela afastou levemente da porta e deixou que o homem entrasse.

É claro que ele havia percebido os olhos da garota marejados, mas não sabia o que fazer, não sabia do que ela precisava para poder se sentir minimamente melhor. O moreno colocou a sacola sobre a cama e se afastou para sentar na poltrona próxima a janela, ouviu o longo suspiro que a agente soltou antes de pegar a embalagem em mãos e sentar na cama.

-Posso ir embora se você quiser. -Ele murmurou enquanto observava a ruiva olhar para o hambúrguer.

-Não, eu não quero que vá. -Ela fungou e deu uma pequena mordida, seu rosto pareceu automaticamente verde e ela afastou a comida do corpo. -Não consigo, Javi, me desculpa.

Don't Blame Me - Javier Peñaजहाँ कहानियाँ रहती हैं। अभी खोजें