𝖛𝖆𝖎 𝖊 𝖈𝖍𝖔𝖗𝖆

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Eu tinha certeza de nós dois

Mas não sabia

Que um dia só iria fazer mal para o meu coração

DEPOIS.

Ana Flávia:


       A claridade no céu começava a dar sinais de que o dia estava apenas começando. Mas pra mim, é como se o dia estivesse começado desde a noite passada porque eu simplesmente não havia dormido. Meus olhos ardiam pelo cansaço e minha cabeça doía pelo esforço, mas minha mente simplesmente não desligava.

Eu pensava em milhares de coisas que Gustavo poderia ter feito no tempo em que ele ficou fora de casa ontem. Eu não conseguia desvendar a dor do meu peito, que acelerava a cada vez que minha mente me fazia voltar para a nossa briga.

Será que eu havia exagerado?

Será que tudo isso é minha culpa?

Essa era uma dúvida cruel, que me perseguiu durante a noite inteira. 

Porém chega, eu não posso me culpar por isso, não é saudável. Não posso simplesmente me responsabilizar por algo que eu não fiz. Eu estava tentando, eu juro que tentei ignorar toda aquela angústia, mas quando vi Gustavo chegar em casa em um horário que ele não é acostumado, com cheiro de bebida e claramente nervoso, meu mundo caiu. Foi nesse momento que minha cabeça virou a minha pior inimiga, em todos os sentidos. 

Levantei da cama e fui tomar um banho. Precisava por minha mente no lugar e despertar um pouco. Estou encostada na parede do boxe, deixando o jato de água gelada correr no meu rosto. O fluxo intenso do meu chuveiro faz com que meu choro seja quase imperceptível e eu me sinta menos patética por chorar uma noite inteira por causa de uma briga. Fica mais fácil aceitar minha derrota quando a maior parte do que molha meu rosto é apenas água. E não lágrimas. 

Assim que saí do banho, coloquei uma roupa apresentável já que eu teria reuniões mais tarde com a minha equipe, queria deixar tudo esquematizado para isso. Saí do quarto e encontrei Gustavo diretamente na cozinha. Eu esqueci que ele ainda estava casa, e que eu teria que lidar com toda a situação logo pela manhã.

O clima na cozinha era tenso, um silencio nada agradável e confortável. Eu reconhecia as atitudes do Gustavo, sabia quando ele estava triste, com raiva, desconfortável... E nesse momento ele estava completamente ansioso, inquieto com a minha presença. Ele nos serviu café e se sentou na mesa, não fez ao menos questão de me perguntar algo como: ''O que eu perdi enquanto você dormia?"

E foi nesse momento que eu percebi que as coisas estavam bem pior do que eu pensava.

— Está mais calma? - Gustavo se pronunciou quebrando o silêncio.

Respirei fundo.

É sério que ele ainda achou que eu fiz aquilo tudo ontem só porque eu estava ''nervosa''?

— Eu nunca estive nervosa. - respondi no mesmo nível. 

— Ana... - passou a mão no rosto. - Desculpas por ontem. Eu realmente estava com a cabeça tão cheia que não pensei em te avisar que voltaria mais tarde.

— Tá bom. - comi um pedaço da minha torrada mas me arrependi no mesmo instante. O clima desagradável na mesa me fez perder totalmente a fome.

— A minha intenção nunca foi te deixar chateada ou insegura, amor. Eu tô' me sentindo um merda por te fazer chorar.

— Tudo bem. - respondi minimamente e ele me olhou por alguns instantes, respirou e jogou  o garfo que segurava em cima do prato, causando um barulho alto.  Apoiou suas costas na cadeira e cruzou os braços.

(ɪᴍ)ᴘᴇʀғᴇɪᴛᴏs, ᴍɪᴏᴛᴇʟᴀWhere stories live. Discover now