𝖊𝖓𝖙𝖗𝖊 𝖖𝖚𝖆𝖙𝖗𝖔 𝖕𝖆𝖗𝖊𝖉𝖊𝖘

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A gente se dá tão bem

Entre quatro paredes

Que pouco me importa

Do quarto pra fora

Eu e você, sem regra, sem lógica

DEPOIS.

Gustavo:

           Me encosto na pequeno sofá observando a paisagem perfeita na minha frente. Respirei fundo ao sentir o vento bater contra o meu rosto, aliviando o calor que fazia. 

Estávamos na fazenda da Ana Flávia, em sete quedas. Eu, ela e os pais dela resolvemos vir pra' cá e descansar um pouco antes de voltar para as nossas rotinas agitadas.

Nós não tínhamos conversado de fato, depois da pequena discussão que tivemos na frente da mãe. Mas após eu voltar da gravação, eu e minha esposa quase não estamos nos falando. Como sempre.

Eu a amo mais que tudo nessa vida, e ver a situação em que estamos, faz meu coração errar quase uma batida. Essa não era a situação que eu queria estar, e acho que não desejo isso pra ninguém.

Voltei minha atenção ao caderno no meu colo, finalizando de escrever a carta.

Finalmente te achei! -escutei a voz da minha esposa.

Olhei para a mesma que vestia um biquíni e uma camisa social minha aberta, como se fosse uma saída de praia.

Faz tanto tempo eu não vejo ela vestindo minhas camisas...

O que quer? - minha fala saiu meio grosseira, mas ela pareceu não se importar. Fechei o caderno no meu colo e coloquei ao meu lado.

— Vim te chamar para almoçar, mas não sabia que estava escrevendo música. - sentou ao meu lado.

— Não é música. - ela me olhou curiosa.- Estava apenas... Escrevendo!

— Hm, ok. - voltamos a olhar para a paisagem. O silêncio pairou sobre nós, mas não absoluto, pois os pássaros contribuam.

Olhei para a mulher do meu lado que mordia o lábio inferior, como se estivesse se prevenindo de falar ou fazer algo.

Apenas respirei fundo respeitando seu tempo.

— Gu. -me chamou pelo apelido. Apelido esse que fazia um tempo em que não escutava saindo da sua boca.- Eu não queria que a gente chegasse nesse estado.

Permaneci em silêncio.

Pela primeira -e talvez única- vez, Ana Flávia estava se abrindo diante a situação do nosso casamento. Achei que era apenas eu que percebia, mas com o tempo, notei que ela também estava ciente da situação. Somos mais parecidos do que achamos.

Vamos empurrando com a barriga até não aguentar mais, e uma hora a merda explode. E a gente sabia que se ela explodisse uma vez, talvez não teria mais volta.

— Desculpa deixar chegar nesse estado. -continuou falando.- No início eu achei que era o estresse, mas, depois percebi que não. Me desculpa por estar sendo uma idiota com você. Me desculpa por estar gritando, brigando e te cobrando sem motivos. - disse com a voz chorosa.

— Ana. - a chamei fazendo ela olhar pra mim.- Vem cá!

Peguei a mão da minha esposa, fazendo ela levantar e se sentar no meu colo. Fitei seu semblante por alguns minutos, percebendo que ela estava tão esgotada quanto eu.

(ɪᴍ)ᴘᴇʀғᴇɪᴛᴏs, ᴍɪᴏᴛᴇʟᴀWhere stories live. Discover now