Capítulo 3

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Laura

A celebração ocorreu conforme todos esperaram, exceto à mim. A homenageada do ano fui eu. A Professora cabelo de fogo, como alguns alunos docemente me chamavam. As apresentações teatrais, onde uma das alunas interpretou a mim em sala, deu o que falar. Todos riram muito. Foi reconfortante saber que sou tão querida, e que minhas aulas são tão legais, conforme a representação feita ali no palco. Em seguida, meu nome foi chamado, e fui recebida com aplausos. Joguei vários beijos para meus ex alunos e sorri emocionada.

Não vou chorar. Não vou chorar. Não vou chorar. Repetia silenciosamente este mantra, para não sucumbir às lágrimas que insistiam em cair. Peguei o microfone indicado pelo Altair e então minhas preces foram em vão. Lá estava eu, com o microfone em mãos e lágrimas escorrendo pelo meu rosto.

— Gostaria de parabenizá-los, meus queridos alunos, por conseguirem transmitir uma aula tão melhor que a real. O que foi isso? A interpretação foi demais e com certeza vou aplicar muitas coisas que presenciei hoje. — Todos riram com minha modéstia, então prossegui com o discurso.

— Sinto-me honrada e presenteada por ter tido a oportunidade de ensiná-los tudo o que sei, por ajudá-los com tudo o que posso, com todo o amor que tenho por vocês e pelo o que faço. O futuro está nas mãos daqueles, que hoje, fazem pirraças, brigam pelo desenho mais bonito, que sorriem sem motivo aparente... está na mão destas crianças, e tenho orgulho de prepará-los para serem cidadãos que cumprirão com seus papéis na sociedade de forma honrada e íntegra. — Mais aplausos são direcionados à mim. — Muito obrigada pelas lindas declarações e por todo o conhecimento que vocês, sem saber, passam para mim. Obrigada por essa troca tão maravilhosa.

Abraço o Altair, e os professores, agradecendo por tudo. Depois a avalanche de rostinhos felizes vem em minha direção para um abraço coletivo. Me despeço, e ando rapidamente até a escada, para que continuem com as apresentações, mas paro abruptamente meu percurso quando Bernando, um aluno, vem correndo estendendo a mãozinha e entregando-me um lenço.

— Para você secar as lágrimas, professora Laura. — Diz o menino

— Obrigada, Bernardo. — Agradeço e lhe dou um abraço. — Prometa-me que continuará tirando excelentes notas em português e inglês, viu?

— Cla-claro, professora. Vou estudar arduamente para não declinar. — Bernando já mostra uma maturidade e uma inteligencia bem avançada para sua idade. Até onde sei, ele acabara de completar cinco anos. Sempre me surpreendo com seu léxico.

— Assim espero. — Estendo a mão para nos cumprimentarmos formalmente. Bernardo é extremamente educado e formal, por isso o trato assim, e ele adora, embora ache engraçadinho seu jeito "homenzinho" de ser.

Em seguida, alguns pais me circulam e entregam-me presentes, abraçam e parabenizam-me. Agradeço e saio de fininho, pois quero ver o estrago que o choro fez ao rímel.

Sorrio sozinha ao relembrar tudo.

— Falta somente o meu presente, Laura. — Olho assustada para frente, voltando dos meus devaneios. Era ele. Estende a mão e me entrega uma caixa retangular aveludada preta. — Você parece impressionada. Com certeza está acostumada a receber presentes dos alunos e seus familiares. — diz.

Ele tem o poder de me desconcertar e me deixar vulnerável.

—  Oh, obrigada pelo presente, sr. Mascarenhas. Acho que meu espanto deve-se ao fato de não esperar vê-lo por aqui. O senhor pareceu estar bem apressado hoje mais cedo, sequer imaginei que estaria conosco na celebração. — Acho que o convenci com este argumento. Porque eu realmente estou impressionada, mas é com a profundidade de seus olhos azuis, com as sobrancelhas espessas, conferindo-lhe um olhar másculo e viril. Impressionada com seu sorriso lindo, que me aquece e me banha como o sol da manhã, mostrando dentes brancos e perfeitos.

Orgulho e Desejo (Revisando)Where stories live. Discover now