Capítulo 36

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Pensar é fácil. Agir é difícil. Agir conforme o que pensamos, é de todas a maior dificuldade. – Johann Goethe

Bruno

Solto uma risada forçada, desprovido de qualquer humor.

— Está achando graça? Não vê que falo sério?! 

—  Como isso pode ser possível? A menos que acredite que minha ejaculação seja tão poderosa a ponto de criar asas e voar direto para a vagina da sua esposa.

Fernando semicerra os olhos como se estivesse avaliando o que eu acabei de dizer.

— Por mais que eu adore uma sacanagem, não sou adepto ao incesto — firmo a voz e o encaro fixamente.

— De uma coisa eu tenho certeza: não foi através do método tradicional.

— Eu estava zoando, pai. Acredita mesmo que meu sêmen foi parar nas mãos de Olívia?

— Porra, Bruno! Se Inácio a ameaçou, então há possibilidade de você ser o pai da Virginia.

— Não vejo como isso é possível...

— Acho que agora entende o motivo da minha angustia, meu filho... Olívia tramou alguma coisa para conseguir o seu esperma, só não sei como e por que quis fazer isso.

— Faremos o exame de DNA e logo sua angustia passa; fácil.

Por mais que eu tente passar naturalidade e tranquilidade ao propor o teste de DNA, sei o quão desastroso aquilo significa. Meu pai está velho, teve um infarto e mesmo assim resolveu problemas que até mesmo pessoas em seu melhor estado de saúde não conseguiriam resolver. Ter que lidar com o fato de que estamos falando de uma menina que sempre acreditamos ser minha irmã, e agora, do nada, mudar o que já foi estabelecido para caracterizá-la minha filha, mudará nossas vidas radicalmente, principalmente a dele.

— Meu filho, não é a comprovação de um teste de paternidade que me abala, é todo o processo. É difícil ter que lidar com o fato de que casei com uma mulher que sempre manteve um interesse por você.

Olhando para Fernando, pela primeira vez vejo como se toda sua opulência e inteligência tivessem sido furtadas. É difícil para o ego de um homem saber que dorme com uma mulher que deseja o corpo de outro, principalmente se o outro cara for seu próprio filho.

No entanto, não acredito que eu seja o pai de Virginia. Nunca dormi com Olívia, e muito menos doei meu esperma para inseminação artificial, ou seja, zero de chance disso ser possível.

— Não há chance de ser eu o pai dela — repito veemente.

— Bruno, tudo leva a acreditar que você seja o pai. Estive relembrando a dificuldade que tivemos para Olívia engravidar, e depois de anos, sem nenhuma intervenção médica, ela engravidou. Na época, fiz o espermograma; trata-se de um exame para ver a condição do esperma, e indicou Oligospermia, ou seja, eu fabrico menos espermatozoides que o normal, em pouca quantidade. Foi aí que descobrimos que o problema era comigo e não com ela. O médico disse que seria impossível de eu engravidar Olívia. No entanto, quando pensei que jamais seria pai novamente, eis que minha esposa aparece, onze anos depois, com a notícia da gravidez e com o médico dizendo que a baixa produção de espermatozoides estava relacionada com o estresse diário, tratando-se assim de uma oligospermia transitória, mas não solicitou um novo exame para comprovar o que afirmou.

— Então você acredita que o médico mentiu? Na verdade, acho que ele falou a verdade, caso contrário eu não teria nascido.

— Se foi verdade, por que quando fiz o exame ele disse que seria impossível fecundar Olívia com meu esperma? Consultei um médico especialista agora a pouco, ele me explicou que seria impossível engravidar Olívia se meu exame tivesse constatado menos de dois milhões de espermatozoides, e se esse fosse o caso, não teria relação com estresse, ou seja, não seria Oligosperma transitório, e sim um grau severo da patologia.

Orgulho e Desejo (Revisando)Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt