Capítulo 23

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Atuar é combater. - Pierre-Joseph Proudhon

Paula

Sempre gostei de observar as pessoais conversarem. É como se através dessa análise eu descobrisse seus segredos, suas manias e suas fraquezas.

A ampla sala de estar está cercada de conversas por todo o lado e pegação a cada metro quadrado. Costumava achar o máximo ficar me esfregando com qualquer cara, mas agora não vejo tanta graça nisso, nem mesmo quando estou carente. Quero um companheiro, um amigo, um irmão e, possivelmente, um amante que saiba respeitar meus limites.

Bebo mais um gole da minha cerveja e continuo a observar a todos.

Felipe Rocha, o carinha do sorriso fácil, está acompanhado daquela menina, a amiga da Laura. Quando passamos um tempo na praia e trocando conversas triviais e aleatórias, jamais imaginaria o inferno que ela passa. As aparências enganam e eu posso provar, como posso!

Jamais me esquecerei de seu depoimento.

Neste momento, seu semblante está radiante e descontraído ao lado dele, mas daqui consigo sentir sua insegurança. Também não é por menos, ela está usando a mesma roupa de quando foi à delegacia hoje mais cedo: calça Jeans, blusa do uniforme escolar e um tênis All Star branco; uma verdadeira colegial. Tá explicado o receio que está sentindo. Não estão todos muito arrumados, mas de longe ela é a pior do lugar.

Ela me pega observando-a e afasta o olhar. Tenta se concentrar na conversa com o carinha fofo ao seu lado, mas apenas sorri e concorda algumas vezes. Retorna a me observar, então, confiantemente, ando em sua direção.

— Posso roubá-la por alguns minutos, Felipe? — ele concede.

Ela me acompanha silenciosamente. Posso enxergar sua tensão através da postura reta e dura. Entro no quarto que costuma ser o meu quando durmo aqui e fecho a porta.

— Você parece intimidada e tenho tudo para acreditar que seja por conta da sua roupa... Desde a praia já pude perceber que você se sente meio inferiorizada por algum motivo patético que não quero discutir agora. Trouxe-a para escolhermos uma roupa mais apropriada e tirar esse uniforme escolar. Um vestido, talvez, que realce ainda mais sua beleza, que a faça se sentir poderosa ao lado do Felipe. O que acha? — falo de maneira sorridente.

Ela abaixa a cabeça e toca a própria blusa com o símbolo do estado.

— Percebi que todos vocês são muito amigos. Apreciaria se você não contasse nada do que falei hoje na delegacia. — ela ignora completamente minha observação e minha pergunta.

Sua expressão é de dor ao mencionar aquilo. Ainda posso sentir todo o desespero desta menina.

— E eu apreciaria se você confiasse mais em meu profissionalismo. Aquela para quem você contou efetuou uma queixa-crime é uma representante da lei. Esta que está diante de você é uma mulher  e amiga — enfatizo a palavra — vaidosa com o objetivo de extrair todo o sentimento de baixa autoestima de uma jovem.

Tinha acabado de chegar do almoço quando vi Daiane Silva sentada numa cadeira, com um copo de água em suas mãos, portando um olhar triste e amedrontado. Ela olhava de um lado para o outro como se estivesse certificando-se de que ninguém conhecido estivesse ali. O policial Guilherme me passou todas as informações, então, chamei-a para minha sala. Ela me contou todos os detalhes e aquilo me deixou em choque.

Pedi para ela juntar provas concretas. Decidi que, pessoalmente, a ajudaria naquele caso. Era uma questão de honra.

— Pegue, vista este aqui — entrego-lhe um vestido preto, justo no busto e rodado da cintura para baixo. — Combinará perfeitamente com você.

Orgulho e Desejo (Revisando)Onde histórias criam vida. Descubra agora