Capítulo 26

2.4K 216 57
                                    

"Os desconfiados desafiam a traição."
- Voltaire

Laura

Ao sair do quarto, deparo-me com Olívia aos prantos. Ela me vê e não diz nada; resolvo não lhe perturbar com mais perguntas, mas aproximo-me e a abraço, pois sua aflição é notória. Desvencilho-me delicadamente do abraço e sigo em direção a casa. Passo pela piscina, pelo jardim e entro pela sala de estar. Subo as escadas correndo e me deparo com uma única porta no final do corredor. Respiro fundo e tento manter a calma, pois todos estão nervosos. É quase uma obrigação transmitir-lhes tranquilidade neste momento angustiante.

Claramente Fernando é respeitado e admirado por todos, inclusive por sua equipe doméstica. Lentamente aproximo-me e adentro a sala. Parece mais que estou na prefeitura de Porto Verde, e não na casa do prefeito. A sala é formal, opulenta e fria. Repleta de livros, títulos e fotografias. Fernando está caído ao lado da mesa, com os olhos abertos e respirando com dificuldade.

- A ambulância já está a caminho - diz Lourdes.

- Ótimo. Só mais uma coisa, pegue o AAS e traga para mim - Bruno pede.

Assim que Lourdes retorna, Bruno ajuda o enfermo a erguer lentamente a cabeça e lhe dá o medicamento. Aparentemente, Fernando não fraturou nada com o baque e também não está inconsciente, mas as caretas de dor e o suor gelado que escorre pela testa constatam que alguma parte do seu corpo dói.

Bruno segura a cabeça e uma das mãos do pai. Aos poucos, as expressões de dor são amenizadas, mas não por completo, pois continua pálido.

Ao ver a tranquilidade tomando conta do rosto de Fernando, Bruno começa a falar com ele como se estivessem debatendo alguma banalidade que provavelmente eles gostam. Apesar de Fernando não responder nada, faz menção de um sorriso e ou se esforça para responder através de suas expressões faciais.

Ao ver aquele gesto amável, meu coração enche-se de paz e amor por ele, porque faz de tudo para que o pai se concentre em algo que não seja a dor, mantendo-o entretido e tranquilo. De repente, Fernando mexe a mão pedindo para que eu me aproxime mais. Bruno olha para a mão estendida do pai e em seguida para mim.

- Querendo tirar casquinhas das mulheres alheias, hein, seu velho - Bruno brinca. - Vem, Laura - ele pede.

Ajoelho e sento-me sobre o calcanhar ao lado de Fernando. Tomada por compaixão, seguro a mão disponível sem a autorização de ninguém. Uma pequena felicidade me invade quando vejo o semblante calmo e sereno ao sentir meu toque, apesar de toda aquela situação. Totalmente comovida com esta cena, acaricio a testa de Fernando e começo a dizer palavras de incentivo, mesmo não tendo a mínima noção de qual o estado de sua saúde.

- Tudo ficará bem, você vai ver. Imagine-se correndo ou nadando com a sua esposa e com seus filhos. Vocês estão sorrindo e almoçando juntos, porque é a coisa mais importante para você. Então, para que consiga mais uma vez realizar seus desejos, você vai lutar e vai ficar bom. Vai continuar comandando Porto Verde excelentemente e continuará sendo o melhor prefeito que nós temos. Apenas imagine e respire.

Ao terminar de dizer, olho para frente e pego Bruno me observando atentamente; em seguida, sorri e brinca mais uma vez com o pai.

Alguns minutos se passam e a equipe paramédica adentra a sala.

Enquanto o filho explica os sintomas para o enfermeiro, outros socorristas ajeitam o corpo do pai em uma maca. Bruno é parabenizado pelo socorro rápido que deu a Fernando, pois ele realmente estava enfartando.

Enquanto levam Fernando, fico alguns instantes a mais arrumando alguns itens caídos no chão e quando vou saindo e passo por uma porta, paro abruptamente ao escutar os esporros e um choro, aproximo-me e vejo toda a cena pela fresta.

Orgulho e Desejo (Revisando)Onde histórias criam vida. Descubra agora