Capítulo 15

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Amor é fogo que arde sem se ver; é ferida que dói, e não se sente; é um contentamento descontente; é dor que desatina sem doer. - Luís de Camões 

Laura

Saber que hoje será o último dia no Jardim Elite, parte-me o coração. Cheguei absurdamente cedo para conversar com Altair. Ele percebeu que seria sério, então pediu para que conversássemos ao final da manhã.

Meu dia estava parcialmente bom, mas quando vi o Bruno aproximando-se, senti uma pontada no peito. Queria ter podido falar com ele naturalmente, e segurado-lhe na mão intencionalmente, só para deleitar-me com um simples toque de um pedaço de seu corpo enquanto ocultássemos as reais intenções de um casal apaixonado; mas a realidade era o inverso. Não éramos um casal, e ele não estava apaixonado.

Evitei-o ao máximo. Não queria me desmanchar com o seu charme natural. Fugi, sutilmente, da presença dele. Sou uma covarde.

Virginia é uma menina encantadora. A princípio, observara silenciosamente o ambiente e não brincara com ninguém. Depois de um tempo, conforme foi acostumando com o restante da classe, participou ativamente e fez questão de me ajudar quando solicitada. Passei a manhã inteira lembrando-me dele; tudo por causa de uma menina com um olhar idêntico ao que eu já conhecia. Poderiam, facilmente, ser reconhecidos como pai e filha, por causa da diferença de idade.

Ao término das aulas, respirei profundamente, na esperança de encher meu corpo de coragem para falar com o Altair, sem demonstrar nenhuma hesitação. Toda vez que julgo não ser a coisa certa a ser feita, e mesmo assim faço, demonstro muita insegurança. Altair pode perceber e convencer-me a ficar.

Em uma semana, pais chateados procuraram a ele para saber o motivo de não ser mais eu a professora de seus filhos. Altair utilizou seus argumentos treinados para consolá-los, mas depois ofertou-me uma proposta de trabalhar todos os dias no Jardim Elite a fim de atender as outras classes. Ele sabia que eu estava sem tempo, mas mesmo assim insistiu. Não me sinto melhor que as outras professoras da pré-escola; sinto-me feliz por saber que o trabalho realizado com tanto amor tem me dado tantas honras.

Se a falta de tempo fosse o grande empecilho, eu estaria dando pulinhos de vitória. O fato é que não estarei mais aqui; e isso soa mais difícil de aceitar do que imaginei. Tenho que falar logo.

— Altair, estou muito feliz por saber que fui requisitada por tantos pais, mas triste por deixá-lo em tantas saias justas — rimos.

— É uma pena que não queira. Seria ótimo tê-la por aqui mais vezes na semana. — Altair é cordial, mas sei que o motivo de interesse seria apenas para descansá-lo da chata tarefa de dar desculpas aos pais de plantão.

Antes que eu perca a coragem, digo de uma vez:

— Altair, meus pais mudaram-se para a Irlanda. E pediram que eu vá para lá também, o mais rápido possível. Você sabe como minha mãe é insistente — ele sorri quando pronuncio a maior característica dela. Altair trabalhou anos ao lado da minha mãe. São amigos até hoje. — Portanto, venho informá-lo de minha demissão. Sei que não é normal o professor fazer isso no início das aulas, mas trata-se de um caso atípico.

Os olhos castanhos claros se arregalam sutilmente. Encara-me avaliativo e um silêncio se faz presente. Bate rapidamente duas vezes com o lápis em sua mesa, como se tivesse achado a solução.

— Tem certeza desta decisão, Laura?

Acho que não era a solução, afinal.

— Meus pais já planejaram. Não quero mudar a nova vida que estão levando por minha causa. Se eu recusar ir, vão correr de volta para cá. Você sabe como eles são protetores. Além do mais, prefiro sair agora a ter que sair depois, quando os alunos estiverem mais acostumados comigo.

Orgulho e Desejo (Revisando)Where stories live. Discover now