Capítulo 4

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Bruno

A semana começou conturbada. Houve eventos do partido, entrevistas e reuniões para discutir os projetos que planejo fazer em meu mandato.  Assumi a secretaria de Esporte, Lazer e juventude, conforme meu pai prometeu. 

Não me importo em afirmar que se trata de um caso típico de nepotismo.  Em todos os lugares, desde que o mundo é mundo, as pessoas fazem isso. Em uma empresa, por exemplo, o dono ou o presidente, podendo promover um parente ou um amigo, sempre o faz, mesmo sabendo que este não tem experiência naquilo tanto quanto um desconhecido; mas os julgamentos, quando surgem, são amenos se comparados ao mesmo ato dentro da política.

Não consigo entender a incoerência humana.

Acredito que seja fisiológico. Se você tem a chance de conceder privilégios ou cargos a um filho, não concederia? Claro que sim; e sabe por quê? Porque seus genes lhe dizem isso. 

É a aquela velha situação de escolha entre um filho afogado no mar e um desconhecido. Você se desculparia mentalmente com o fulano desconhecido e se direcionaria para seu filho e o salvaria. 

Então parem com esta "cachaça". Nepotismo é igual em todas as situações. Pensando nisso, abrirei uma campanha com a seguinte enquete: "por um mundo sem hipocrisia".

E não é como se eu estivesse tirando a vaga de outra pessoa mais qualificada. Eu venci por mérito próprio. É claro que não tenho experiência alguma nisso, mas anos participando indiretamente das reuniões do meu pai me deram um certo conhecimento na área. Em todo caso, pedi a ele que não investisse nada além daquilo que o partido já havia investido. Não comprou um horário extensivo em emissora alguma, não comprou votos de nenhum ignorante, não subornou ninguém e não fez boca de urna como outros candidatos fizeram. Mesmo sabendo que meu pai seria incapaz de ser um corrupto, tive que me certificar, afinal, as pessoas podem mudar; mas, ao constatar sua integridade, me orgulhei ainda mais dele.

Na verdade, acho que ganhei mesmo porque o povo confia e gosta do prefeito que têm. O fato de ser filho dele, já era naturalmente um diferencial. A única coisa que fez, após eu ser eleito, foi falar com seus contatos, amigos políticos, para eu comandar a secretaria de Esporte, Lazer e Juventude.

Nada demais, não é mesmo?

Quem deu o pontapé inicial foi ele, plantando em minha cabeça a ideia de ser deputado, mas o único a cultivar isso dentro de mim, foi eu mesmo. Eu reguei, adubei, e cá estou. Inicialmente, não me agradou nem um pouco a ideia de ter tantas responsabilidades e tarefas em um único dia; mas, aos poucos, meu interesse em acrescentar para minha cidade, em cunho social e político, aumentou. Fui tomando gosto; e todas as vezes que me certificava desta decisão, relacionava-se a uma situação ou circunstância que havia presenciado. 

Segundo meu pai, era o sangue falando mais alto, já que todos os homens da família foram políticos. Se eu não me candidatasse, seria o único a quebrar a tradição familiar.

Não sei se concordo com ele, pois estou longe de ser um deputado alienado; conforme meu avô e bisavô foram; assim como meu pai é. Não quero formar uma família tão cedo, mas quando tiver, não abdicarei os  momentos de lazer com meus filhos e esposa, para trabalhar constantemente. E pelo que tudo indica, esta é a características de todos os Mascarenhas. 

Como se fosse para exemplificar minha opinião, hoje ainda é quinta feira e já estou pensando em fazer coisas que nenhum político honroso pensaria em fazer. Quero dizer, tenho consciência da sociedade em que vivo e meu forte senso de dever perante a cidade; mas minha vontade neste momento é fazer um ménage à trois. Será que meu pai se pegava pensando em sacanagem durante o trabalho? Acho que não.

Orgulho e Desejo (Revisando)Where stories live. Discover now