Capítulo 35

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Não existe família sem adúltera. - Nelson Rodrigues


Bruno

Nunca pensei que velar o sono de uma pessoa fosse tão hipnótico e agradável. Enquanto a leve e profunda respiração imprime seu estado adormecido, e suas longas pestanas acobreadas descansam, sinto como se tivesse acabado de confirmar que meu lugar era exatamente ao seu lado. A pele macia e aveludada contribui para aquela áurea singular que estou até agora admirando. Seus lábios levemente inchados e com aquele atípico tom avermelhado dão um toque sensual no semblante tranquilo.

Enquanto me dedico unicamente a observar a Laura dormir, meu celular toca insistentemente às três da manhã, então me apresso em atender antes de acordá-la.

— Quem é? — pergunto desconfiado ao ver que se trata de um número privado.

— Por favor, Bruno, preciso de ajuda.

A voz de Larissa soa engasgada, despertando-me a curiosidade, mas decido não me importar; seja lá o que for, procurou por aquilo.

— Você discou o número errado; aqui não é emergência — digo sem esconder o sarcasmo.

— Me ajude, por favor! Só você consegue me fazer parar — ela diz entre soluços.

Ergo meu corpo, intrigado o suficiente para levantar da cama.

— Pare de dramatizar, Larissa; tenho mais o que fazer. — Insisto no desdenho para ver até onde ela vai com aquilo, embora eu esteja começando a achar que seja algo sério.

De repente a ligação é finalizada; segundos depois recebo uma mensagem com uma foto em que Larissa está deitada com a cabeça sobre o vidro de uma mesa e com cocaína espalhada por todo lado. Sua aparência está horrível; maquiagem borrada e olhos tão vermelhos que mais parecem feridos.

Dizer que não me incomoda vê-la naquele estado deplorável seria mentira, mas também não sinto a mínima vontade de sair daqui para ajudá-la. Tenho problemas suficientes para ter lidar com os dela.

Mas, foda-se, minha consciência não vai me deixar dormir mesmo, então paro de dar desculpas para ocultar minha preocupação. Estou preocupado mesmo, afinal, ela é uma amiga. Visto uma calça de moletom e saio do quarto para evitar que Laura acorde. Procuro o telefone de Henrique Sckloviz na agenda e explico-lhe a foto que sua filha acabou de me enviar. Ele não demonstra preocupação, como se aquilo fosse normal. A cada minuto que passa e continua falando sobre uma parceria entre a BWF e sua linha de hotéis cinco estrelas, mais me preocupo. Me Sinto um pouco desconfortável por ter que ouvi-lo falar tantos assuntos que não seja sua filha viciada.

— Henrique, vá à cede da BWF e fale com Rubens Vieira. Não estamos em horário comercial para tratarmos de negócio agora. — Tento soar educado, mas a maneira com que ignora o principal motivo daquela ligação me frustra um pouco. É como se eu não tivesse feito nada pela Larissa. — Bem, agora que já lhe informei o estado de sua filha, não há mais nada para conversarmos. — Desligo o telefone em seguida.

É o máximo que posso fazer. Apesar de ser uma amiga, Larissa é uma filha da puta por ter agido contra mim.

Essa ligação me deixou ainda mais sem sono, então fico perambulando pela casa, caminhando e pensando no meu futuro com a Laura e com os ataques de Inácio.

— Tá com insônia também, cara? — Felipe pergunta assim que chego à sala de estar.

Assusto-me com uma voz quebrando o silêncio.

— Gosto de pensar que sou o único a estar acordado. Obrigado por desfazer minha sensação de poderio, Felipe. — Ele se deita no outro sofá e parece procurar uma posição confortável. — A propósito, temos quartos de hóspedes, não precisa se conformar com a sala de estar.

Orgulho e Desejo (Revisando)Where stories live. Discover now