Orgulho e Desejo (Revisando)

Bônus

  "Em todo o tempo ama o amigo e para a hora da angústia nasce o irmão." -Provérbios 17:17

Paula

Estar de volta significa a realização de um sonho; superação de obstáculos; felicidade desmedida. 

Quando saí de Porto Verde com meus pais, aos vinde e um anos, para morar em outro Estado, representara uma tragédia culminante. Mesmo significando uma oportunidade melhor para os meus pais, nada justificava sair da minha terra natal e me separar dos meus melhores amigos. 

A palavra "amigo" significa tão pouco para o que realmente somos, uma vez que, hoje em dia, as pessoas não sabem dar valor ao real significado desta palavra. 

Tínhamos uma amizade íntima e afetuosa, cheia de cumplicidade e lealdade. Uma verdadeira irmandade, literalmente. Contávamos um com o outro para qualquer parada. Uma aventura louca, desde disputas de quem bebe mais vodca até pular pelados do penhasco de uma cachoeira só para sentir a adrenalina, era o que diferenciava nossa amizade genuína. Na verdade, não sei porque usei tantos verbos no pretérito imperfeito. Ainda temos uma amizade, e ainda contaremos muito um com o outro, afinal, eu estou de volta depois de cinco anos.

 Acho que agora conjuguei certo.

Pular pelados era só um adicional que a mente "criativa" (para não dizer sórdida)  deles sugeriram, alegando que se era para viver a peripécia e explorar o máximo dela, deveríamos tirar nossas roupas e agir como verdadeiros selvagens. Fizemos isso algumas vezes, bem do jeitinho que viemos ao mundo.

Nunca houve olhares maliciosos sobre mim; tanto Bruno quanto Rubens tratavam-me como um homem. Bem, eles sabiam que eu era uma garota como qualquer outra, às vezes brincavam dizendo ser eu o sexo frágil do "bando", mas no quesito atração sexual, ambos me viam com um pênis entre as pernas. E para mim, isso era importantíssimo. 

Eles me trouxeram para a vida. Me fizeram viver quando eu estava a sobreviver; me ensinaram a olhar para mim mesma e ver não somente a gorda espinhenta que um dia eu fui, mas a garota linda que eu poderia ser se eu quisesse; me fizeram enxergar que eu não precisava acreditar no que as pessoas falavam e pensavam a meu respeito, se eu soubesse quem era a Paula de verdade; fizeram de mim o que sou hoje.

A primeira vez que o famoso Bruno Mascarenhas olhou verdadeiramente para mim, foi quando eu estava sendo espancada covardemente por um garoto que se achava o máximo e me achava um nada. Eu era apaixonada por Tobias Mello. Quando ele demonstrou um interesse demasiado, nada típico, visto que nenhum garoto queria beijar-me devido a minha forma redonda e aparência, imediatamente pensei ser ele o meu príncipe encantado. Então certo dia, aceitei o convite dele entusiasmadamente para ir atrás da escola, lugar destinado à pegação, vulgarmente conhecido como "esconderijo do amor", a fim de dar o meu primeiro beijo, mas chegando lá, não sabia que seria forçada a dar outra coisa também. Tobias tentou abrir o zíper da minha calça, mas quando me neguei a fazer o que ele queria, começou a me beijar, a apertar minha bunda e seio com força, machucando-me; logo que percebi que aquilo não era o beijo dos sonhos, eu me afastei e corri, com medo da expressão malvada que aquele verme maldito fazia. Ele não somente correu atrás de mim, mas também me alcançou e me bateu, me cuspiu e me humilhou. Pensei que estava morrendo, e na verdade, eu queria mesmo morrer.

Foi então que um anjo apareceu, me impedindo de dormir para sempre. 

Eu sei que a maneira como descrevo essa situação parece dark e fantasiosa, mas essa é a maneira como me sentia naquele momento, era assim que via o garoto mais cobiçado da escola, me defendendo e me protegendo dos murros e chutes do "cavalheiro das trevas". Mesmo sentindo muita dor, ri internamente do último comentário que Bruno fez à Tobias: "Ai que medinho". Foi engraçado porque a impressão que tinha do Bruno era de um garoto altivo, metido, pegador e soberbo. Eu quase o endeusava por ele ser tão lindo. Então vê-lo agindo debochadamente e fazendo gestos de desdém e sarro, depois de ter brigado por mim, foi contra tudo o que eu achava sobre ele, e então, uma nova opinião havia sido formada sobre sua personalidade.