Capítulo 37

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"Somos feitos de carne, mas temos de viver como se fôssemos de ferro. " – Sigmund Freud

Laura

Ao acordar, Bruno já não estava na cama. Arrumei-me o mais rápido possível e seguimos para Reis com quatro seguranças nos acompanhando. Felipe me esperou no carro com dois deles enquanto outros dois me seguiram até a secretaria.

Ao me ver de longe, Raquel anda em minha direção e me abraça apertado.

— Nossa, Laura, que preocupação! Venha, vamos à minha sala para conversarmos.

Ela me oferece uma xícara de café enquanto relato sobre o sequestro. Vez ou outra sua sobrancelha grossa e espessa é arqueada, demonstrando surpresa.

Ao final da conversa, lembro-me de Wellington, Jefferson, Cassiane e de todos os outros.

— Como estão meus alunos? Vim para me atualizar a fim de me organizar quando eu voltar. Ainda tenho que me manter afastada por conta de possíveis retaliações. E também, preciso de um favor...

— Ah, mas não precisava vir só por isso, Laura. Eu poderia lhe passar qualquer informação por telefone ou e-mail. 

— Não se preocupe com isso, era necessário que eu viesse de qualquer forma.

— Pois então, do que precisa?

— Antes, preciso saber se Daiane está na escola...

Raquel percebe que estou ansiosa e logo se intriga. Sua expressão muda e seu olhar se torna cauteloso enquanto espero a explicação que sua face nitidamente transpassa.

— Faz mais ou menos um mês que ela não vem à escola. O padrasto dela, um homem muito bondoso, que sempre capina o matagal daqui da escola e sempre muito presente na vida dela, veio bem no início das faltas nos informar que ela estava doente; mas depois de uma semana não deu mais informações. Ligamos para o celular da dona Rosa, mãe dela, mas está viajando com a família para qual trabalha e só voltará daqui a quinze dias. Ninguém atende no telefone de casa.

A descrição que Raquel faz do padrasto de Daiane diverge do comportamento apreensivo que ela sempre demonstrava quando ele ligava.

 Ah, minha amiga, o que aconteceu com você? 

— Nunca mais deu nenhum parecer? — começo a ficar muito ansiosa e nervosa.

— Não. Se algo de pior tivesse acontecido, o padrasto teria nos avisado. Estou começando a cogitar que seja desistência... Sabe, é normal alguns alunos abandonarem a escola, Laura. Talvez esse tenha sido o caso dela. Tem uma vida muito difícil e trabalha demais para ajudar em casa.

— Não, Raquel. Daiane jamais faria isso. Aconteceu alguma coisa com ela e preciso ir até a casa dela ver como está para me certificar de que não é nada. E esse é o favor. Preciso do endereço dela.

— Tudo bem, Laura, mas se acalme. Como sua amiga, devo lhe avisar que é um local perigoso. Como profissional, devo adverti-la que não é adequado uma professora ir a casa de uma aluna sem aviso prévio. Não está nas suas competências fazer visitas a alunas faltosas.

— Sei bem, Raquel. Mas Daiane é mais que uma aluna para mim, é uma amiga muito querida. Ela não atende às minhas ligações e isso tem preocupado nossos amigos.

— Tudo bem. Se está decidida, então não vou embarreirar, embora eu esteja preocupada com isso, porque a comunidade de Reis não é brincadeira.

— Sei disso. Obrigada por me ajudar.

***

Ao chegarmos à Rua 37, Felipe estaciona o carro, pois o lugar é inviável a passagem de automóveis. Segundo o endereço que Raquel nos deu, devemos seguir à entrada C, que é um beco cheio de casebres um ao lado do outro. Algumas mulheres amamentando seus filhos em suas portas interrompem a conversa para nos encarar, curiosas; até uma das crianças se separa do seio da mãe, deixando o mamilo à mostra, enquanto nos observa com olhinhos arregalados. Os quatro seguranças que nos acompanham, chamam ainda mais a atenção dos moradores.

Orgulho e Desejo (Revisando)Where stories live. Discover now