Capítulo 13

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"Esconder é fácil, difícil é deixar de sentir. O tempo ameniza, mas não cura. A novidade preenche, mas não substitui." - Martha Medeiros 


Laura

É verão lá fora, mas meu corpo permanece frio. É verão lá fora, mas minhas lágrimas caem geladas e petrificam-se quando batem ao chão. É verão lá fora, mas meu corpo treme constantemente com a brisa congelante que faz bem aqui dentro do meu peito. É verão lá fora, mas estou tremendo. Tremendo com o quê? Com a solidão ou com o desejo? Não sei. Apenas peço um favor ao verão: aqueça-me!

A vida nos ensina matérias jamais lecionadas na escola, seja em qualquer nível. Por mais que eu tenha me esforçado para ser excelente na minha vida acadêmica, sou digna de uma nota zero quando o assunto é agir coerentemente no momento que o mundo me poe em prova.

Mamãe sempre ensinou-me sobre a vida e o mundo em forma de parábolas. Eu não entendia no começo, mas com o passar dos anos me esforcei para entendê-la. É claro que suas parábolas vinham acompanhadas de explicações, mas para mim, era desafiador desvendar seu significado antes dela iniciar a compreensão.

Tudo na teoria é maravilhoso. Você pode dominar os assuntos sobre física quântica, matemática aplicada, sobre a anatomia humana; saber o nome de cada junta ou cada osso em nosso corpo; ser expert em neoromarketing, só para induzir o consumidor a comprar e a enaltecer aquela marca específica; pode saber o nome dos astros e de toda a constelação; pode até ter descoberto a existência de água líquida em Marte, constatando então, a hipótese de que há vida naquele lugar; mas se você não sabe fazer escolhas certas em momentos difíceis quando a vida lhe põe em prova, nada disso vale.

Este pequeno órgão em minha boca, denominado língua, tem a função de nos proporcionar a arte da comunicação verbal, além de nos agraciar com o paladar. Por mais que ela seja um pequeno órgão de suma importância para nós, também tem o poder de destroçar os sentimentos de quem nos ouve em um momento de raiva ou frustração. Por isso repito: não vale de nada conhecer a teoria de tudo se não soubermos como nos comportar em situações onde a língua deva ser freada.

Meu estado depressivo começou quando uma mulher não soube frear sua língua. Depois eu agi da mesma maneira, e subitamente ele agira assim. É como um efeito dominó. Uma palavra mal dita em um lugar inapropriado atrai muita divergência e ódio.

Às vezes fico pensando se aquela conversa infeliz com a mãe dele não tivesse acontecido, e assim, não tivesse fugido para o banheiro a fim de encontrar um lugar mais calmo para processar aquelas verdades, e consequentemente, ter confirmado tudo. Será que teria sido diferente? Se nada disso tivesse acontecido, eu estaria nos braços dele, sendo beijada e acariciada. 

Com as lamentações elevadas e com o coração partido, só consigo pensar nos rumos contrários que esta noite poderia ter sido findada se eu, pelo menos, tivesse contido minha língua e minha raiva.

Não sei porque eu fui tola a ponto de desafiá-lo daquela maneira. Tudo o que eu queria era mostrar-lhe sua incapacidade de finalizar o plano. Estava desmedidamente raivosa. Sem pensar nas consequências, brinquei com o fogo e saí com queimaduras de terceiro grau; daquelas em que as cicatrizes ficam permanentemente, no qual nem cirurgia plástica resolveria. Tenho, portanto, a certeza de que fui a única responsável por estar me sentindo solitária, congelada e triste neste momento.

Pego meu diário a fim de anotar todas aquelas experiências, e lembrar de jamais cometê-las novamente. Anoto tudo bem rápido, para não perder nenhum detalhe sobre minha reflexão. Com a ausência dos meus melhores amigos Elisabete e Declan, meus pais, o único a saber sobre minhas mazelas e alegrias é o meu diário. É solitário, mas reconforta-me o suficiente para saber que não estou só.

Orgulho e Desejo (Revisando)Onde histórias criam vida. Descubra agora