Capítulo 2

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Tudo já estava pronto. Velas aromatizantes ao redor da banheira, a música de fundo tocava e a minha maior inimiga não parava de encarar. Respirei fundo, entrei na banheira e procurei ocupar a minha mente com outras coisas enquanto me banhava, mas não deu certo. Ela estava na minha frente. Era impossível se concentrar em algo. Não pensei duas vezes e fui ao seu encontro. Examinei minuciosamente cada centímetro seu e depois observei com precisão a imagem nua do meu corpo refletida no espelho do meu banheiro.

― Vamos ver agora quem venceu. Dizem que quem ri por último, ri melhor. ― falei com firmeza ao mesmo tempo que subia na minha pior inimiga.

Números apareceram em sua pequena tela e um flashback da minha conturbada adolescência passava como um filme em minha cabeça. Os risos dos meus colegas de sala e familiares por causa do meu sobrepeso eram audíveis. Como nas outras vezes, eu estava tão ansiosa que minhas pernas não paravam de tremer e os números não paravam de se movimentar. Daquele jeito, nunca saberia quem era a vencedora. Respirei fundo mais uma vez e fiz com que meu corpo ficasse inerte; gradativamente, os números começaram a parar de se movimentar e...

― Apenas duzentas gramas a menos? Ontem não comi quase nada! ― Frustrada, desci da balança. ― Você está quebrada!

Empurrei-a para longe e corri para a cozinha, onde possuía outra balança. Em alguns momentos, quando estava focada na dieta, me pesava antes e depois de comer ou beber. Respirei fundo algumas vezes antes de subir na balança e, ao subir, fechei os olhos. Depois de quase cinco minutos, tive coragem de abrir os olhos e encarar sua tela. E lá estava... apenas duzentas gramas a menos!

― Laura, você é um caso perdido mesmo. ― suspirei, decepcionada. Tudo que fazia para emagrecer não surtia bons efeitos, eu seria a Laura baleia da escola para sempre. E aquilo me cortava a alma e nem tempo para cultivar o sofrimento eu tinha; o trabalho me chamava.

E aquilo era bom. Pessoas bem-sucedidas não dispunham de tempo para lamentar-se pelos cantos da casa.

Eu havia conquistado ao menos uma coisa na vida e me orgulhava disso. Era feliz em minha carreira profissional

Era.



Os indivíduos ao meu redor perceberam que eu não estava tendo um bom dia e fizeram questão de torná-lo ainda mais difícil. Assim que cheguei à Lex, me deparei com uma série de problemas que precisavam ser resolvidos com urgência. Respirei fundo para tentar manter a calma e, ignorando os cumprimentos dos funcionários que cruzavam meu caminho, segui até a minha sala. Entrei tão rápido que nem percebi a presença do Gregório Louise, sentado à vontade em uma das minhas poltronas.

― O que faz aqui? ― perguntei-lhe assim que o notei, olhando dos pés à cabeça para ter a real certeza de que era o Gregório Louise em minha sala com uma hora de antecedência do seu horário. Ele era um dos funcionários que mais se atrasava e sempre culpava o trânsito.

― Bom dia, Srta. Steven. Tudo bem? ― disse ele, assustadoramente eufórico, enquanto levantava da poltrona. ― Sou eu mesmo, o próprio Gregório Louise. ― Apontou para si com os dois dedos indicadores. ― Você não está sonhando. Cheguei com uma hora de antecedência e trouxe o projeto impresso e, também, enviei para o seu e-mail.

Parecia que o Louise tinha lido os meus pensamentos

― Impressionante sua atitude e comportamento. Contudo, não fez mais do que sua obrigação. Depois verifico o seu projeto.― Tomei os papéis de sua mão, me dirigi à minha mesa e os pus sobre ela.

― Beleza, Srta. Steven! E outra vez, um bom dia.― disse ele com um sorrisinho insuportável de felicidade, deixando-me um pouco ressabiada.― O dia está tão lindo, não está?

Descendo do SaltoOnde histórias criam vida. Descubra agora