Capítulo 21

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Se eu pudesse voltar no tempo tudo seria mais suportável para todas as partes. Em especial para a Laura Steven, a pessoa que mais sabe disfarçar as dores e traumas. Não tinha noção e nem um pingo de maturidade ao planejar uma vingança e executá-la de modo covarde. Não pensei nas consequências que detonariam com toda a sua vida profissional e, também, pessoal. Não levei um segundo sequer em consideração em tudo que fez para ocupar um cargo importante ou em sua mentoria que, apesar das peculiaridades, me ajudaram a crescer profissionalmente.

Não tive a sensibilidade de me colocar no lugar dela e perceber que ela era gente com sentimentos reais. Fui um covarde! Pensei, em primeiro lugar, em meu bem-estar e na alegria dos meus companheiros de trabalho, em especial da Rachel.

Tirei tudo que sustentava a Laura, a sua única ação que havia dado certo na vida e silenciava um pouco a sua família tóxica. Por mais que ela tratasse todos na agência com arrogância e tivesse a irritante necessidade de ser o centro das atenções, eu e ninguém tinha o direito de decretar uma punição, forçando-a a descer do salto. Levando-a às sombras, novamente.

Conhecendo-a um pouco melhor e tendo a terrível experiência de conviver algumas horas com sua maldita família, entendia o seu desespero de acabar com sua vida e todo seu drama. Ela queria ser respeitada por eles e vista como alguém capaz de construir uma carreira com seu próprio esforço, sem interferência de favores sexuais ou algo da natureza.

Ninguém de sua família de merda a levava a sério, tratava feito um lixo. Não conseguia ver que a Laura era uma pessoa com sentimentos e necessitava um pouco de carinho ao invés de julgamento sobre ofensas. Não via o quanto ela era inteligente e, mesmo vivendo um inferno, divertida. A família não via isso. A família! Eles deveriam ser os primeiros a acreditar, acolher nos tempos de dificuldades e comemorar com as suas vitórias.

Escutei comentários tão perversos a respeito da Laura na festa de sua mãe que me causaram arrepios e raiva.

Raiva deles e de mim.

O que ela fez de tão errado para a família tratar assim? E porque fiz o que fiz para derrubá-la do salto?

Cada palavra, carinho ou ofensa trocada com Laura, ficava, sem querer, mais próximo e essa proximidade custava a minha paz. Não conseguia olhar para a Laura sem sentir nojo ou vergonha de mim. Queria apagar o momento que invadi os seus computadores e a expus no anonimato feito a porra de um canalha de merda.

Queria poupá-la de sentir aquele amargo na alma e protegê-la das maldades das pessoas que possuíam o mesmo sangue que ela. Era o meu desejo. E ele intensificou ainda mais o nosso passeio pelo Navy pier de Chicago. Eu pude conhecê-la um pouco mais. E tocá-la um pouco mais. E me arrependi muito mais.

Estava sendo uma noite divertida, apesar do susto que levei ao chegar do seminário e encontrá-la praticamente desmaiada, até que a verdade sobre o meu relacionamento veio à tona de forma crua e nua. Rachel não me priorizava como eu a ela. Aquilo doeu na alma, eu tinha feito uma barbaridade para deixá-la feliz! Eu zelava por sua felicidade e ela? Ria de mim na companhia de outro. Ou, outros. Não se sabe, não é?

A pessoa que foi vítima do meu atentado estava lá; ao meu lado, acalmando-me de uma forma atípica. Com a família que foi exposta, eu entendia a dificuldade de ser empática.

— Gregório, vai passar! — disse Laura, disfarçando a sua falta de interesse, passando a mão em meu braço.

— Eu sou patético! Bebendo e chorando por uma ordinária. — reclamei com meu próprio drama ao virar o sétimo copo. Em seguida, fiz sinal para o barman trazer mais uma rodada.

— Todo mundo já chorou por alguém assim. — Tentou me animar, mesmo estando impaciente com toda aquela lamentação.

Era deplorável o estado que possuía por causa de uma infeliz que não soube me valorizar. Por que não escutei a minha tia, a voz do conhecimento? Ela sempre falava que Rachel possuía cara de sonsa e não podia confiar em uma só vírgula vindo dela. Eu a ignorei e até cheguei a me chatear com sua implicância.

Descendo do SaltoWhere stories live. Discover now