Capítulo 9

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Gregório, em silêncio, não parava de se movimentar pelo quarto. Caminhava estranhamente apressado, quase correndo, de um lado para outro com as duas mãos massageando as têmporas. Já estava estonteada e fui obrigada a tomar uma medida eficaz que acabasse com aquela agitação. Dirigi-me a ele e segurei seu rosto com firmeza, interrompendo seus movimentos repetitivos e perturbadores.

― Aqui não é um julgamento. Apenas relaxa!

Ele franziu os lábios e colocou a mão sobre o meu ombro. Eu criei uma expectativa fora do comum para ouvir o fardo que tirava a sua paz, e fixei meus olhos de maneira intimidadora nos seus. Precisava muito saber. A curiosidade me consumia por completo e ele estava ciente disso. Devido ao meu estado, ele se viu na obrigação de movimentar a mandíbula e falar qualquer coisa.

― É... — começou, nervoso, olhando para os lados.

— É? — pressionei-o, apertando mais o seu rosto que fizeram suas bochechas se sobressaírem e seus olhos se voltarem para os meus.

— É complicado, Laura. — disse, retirando minhas mãos do seu rosto e afastando-se.

— Tudo bem. Não precisa ficar nervoso porque é apenas uma conversa. Às vezes uma conversa é tudo que precisamos para melhorar. — falei, indo atrás dele, aplicando uns ensinamentos que escutei em alguma das sessões de terapia. — Por que você acha que não deveria ter feito o que fez? É a culpa? — perguntei, parando em sua frente. Ele nem olhou para mim e deu uma meia volta, ignorando-me. — Gregório, por que essa autodefesa? Posso te ajudar assim como você está me ajudando. É uma troca simultânea de favores. — disse, seguindo-o novamente e detendo-se em sua frente. — Eu sei o que estou fazendo. Sei de tudo de psicoterapia, agora senta e faz o seu trabalho. — Apontei para cama e ele, descontraído pela primeira vez desde que tocou no assunto, riu.

— Você é engraçada.

— E tenho conhecimento em psicoterapia. — Apontei outra vez para cama, e ele riu mais uma vez invalidando os meus conhecimentos. — Vai ser importante para mim concentrar as minhas energias em você, e para você será importante porque vai entender que não precisa ficar assim.

— Você acabou de dizer que a conversa é tudo que precisamos para melhorar? — Sua pergunta saiu como uma afirmação, mas, mesmo assim, confirmei. — E você falou que trocava duas palavras com o pai. — Ele fez uma cara confusa e apertou a minha bochecha antes de concluir sua fala. — Por que não aplica na sua vida, dona psicoterapia?

— Não mude o foco. — disse, afastando a sua mão do meu rosto.

— Não vive o que prega. Perdeu a credibilidade. — Ele fez um bico e, de novo, apertou a minha bochecha. — Você é muito engraçada. Nunca imaginei que fosse assim, parecendo que até te substituíram. — acrescentou ao deixar livre a minha bochecha.

— Mudando de foco. — resmunguei, com ar de ofendida. — Não é todo dia que se encontra uma quase profissional para tratar do seu problema de graça.

Ergui as mãos para cima, indicando que não me importava mais em saber do seu trauma. No entanto, no fundo, ainda me importava. Seria tedioso não ter algo na cabeça para se desdobrar a noite inteira além dos meus monstros interiores acrescidos com os meus problemas recentes.

— Agradeço por sua disponibilidade. Qual é seu nome mesmo? — De forma provocativa, ele ofereceu a mão para mim.

— Há. Há. Há. — dei uma risada forçada e empurrei a sua mão.

— Sinceramente, eu não esperava que você fosse gente como a gente. — falou, parecendo surpreendido ao conhecer uma versão menos formal de mim. — Você não é a chatice em pessoa o tempo integral, a megera vindo do inferno, a histérica demoníaca ou a fingida de quinta categoria. A verdade é que...

Descendo do SaltoWhere stories live. Discover now