Capítulo 3

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O grande dia havia chegado logo no fim de semana. E por ser fim de semana, e fim de semana é, literalmente, a boca do caos, cheguei três horas de antecedência ao aeroporto para fazer o despacho das malas. Para minha surpresa tudo estava calmo, nem parecia que estávamos em um fim de semana e pleno verão na América do Norte, um momento perfeito para visitar Califórnia ou Orlando e seus parques, ou até mesmo Chicago.

Aproveitei a rara calmaria e comecei a desenvolver uma milagrosamente dieta, com base em longos estudos feitos com a ajuda da querida Internet, que poderia secar o corpo em questão de dias. Mal tinha começado a quebrar os miolos em seu desenvolvimento e já me visualizava entrando em um jeans tamanho 36 e exibindo um corpinho de cinquenta quilos bem distribuído nos meus 1,71 cm de altura.

Folhei as anotações sobre as dietas mal sucedidas e eliminei tudo que tivesse glúten, lactose, proteína animal e sacarose. Trabalharia apenas com hortaliças e algumas frutas e legumes. Segundo alguns sites de dietas inovadoras, algumas frutas e legumes eram maléficos para pessoas que tinham o objetivo de secar o corpo. Eu não podia bobear em nada. Após a cuidadosa seleção, comecei a registrar no caderno a forma e o horário que os alimentos deveriam ser consumidos. Estava tão imersa na missão que não percebi quando o Gregório Louise chegou e sentou ao meu lado. Foi ao tossir que ele me fez perceber a sua presença e, sem demora, joguei todas as anotações dentro da minha bolsa de mão.

― Gregório Louise, faz tempo que você está aqui? ― perguntei, disfarçando a preocupação. Não queria que ninguém tivesse acesso as minhas anotações por motivos, digamos, peculiares. Ser julgada por apenas querer emagrecer de modo intransigente era algo que queria evitar ao máximo. Não aguentava mais escutar das pessoas que deveriam insistir na terapia.

― Não, Srta. Steven ― Ele respondeu sem tirar a atenção do celular que estava em mãos.

― Okay. ― Dei um discreto suspiro de alívio.― Já fez o Check-in?

― Sim.

― Ótimo! ― E mais um suspiro de alívio por Gregório ter realizado o primeiro passo corretamente.― É melhor irmos para o portão de embarque porque falta quase meia hora. E daqui a pouco a companhia vai anunciar.― falei ao verificar a hora no meu novo relógio de pulso. Uma nova aquisição que custou, como dizem por aí, o olho da cara. Eu mereci o presentinho, fui uma boa pessoa.― Sempre tem uma fila quilométrica e totalmente desnecessária. Vamos logo!― ordenei, sem querer, de modo autoritário.

Gregório do jeito que estava, ficou. Não moveu e nem disse uma sílaba sequer, continuava com atenção no maldito aparelho.

― Não escutou, Louise?― disse, um pouco irritada.

― Hã?― soltou ele, implicitamente desinteressado e não olhou para mim em respeito aos princípios básicos da educação. Quando alguém está falando com você, por lei você deve olhar para a pessoa.

― Temos que ir agora.― reforcei.

― Pode ir, irei depois.

― Tá bem, portanto não se atrase! Atrasou já era, entendeu? ― Esperei que o Gregório confirmasse com a cabeça, mas isso não aconteceu e me vi na obrigação de perguntar novamente. ―Você entendeu?

― Eu sei. Tô ciente disso.― respondeu sem me dar mínima atenção.

― Tudo bem, te vejo no avião.― Levantei-me da cadeira e recolhi todas as minhas coisas, mas antes de partir dei umas importantes orientações ao Louise. ― Gregório, esta viagem vai ser memorável para você, uma que, pela primeira vez na vida, você viajará na executiva. Não consuma todo o estoque de bebidas do avião e nem coma exageradamente toda a comida. Eu sei que gente como você não tem o privilégio de usufruir e consumir artigos de luxo. Quando gente como você vê algo assim e de graça... ― Procurei usar palavras certas para não ofendê-lo.― É algo muito trágico. Não me faça passar vergonha, entendeu?

Descendo do SaltoWhere stories live. Discover now