Capítulo 42

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Não segui as orientações corretas e, por isso, não pude realizar um dos exames mais importantes para o diagnóstico da minha doença: a endoscopia. É necessário estar em jejum e evitar alimentos pesados no dia anterior. Eu me empanturrei com a feijoada e à noite devorei uns pãezinhos de queijo que o James preparou uns dias atrás com Coca-Cola, e fora as comidinhas gordurosas que devorei junto com o Gregório. Foi remarcado para semana seguinte e o Gregório, com a volta da síndrome pai de todos, deu um chilique e se comprometeu consigo mesmo em me avisar todos os santos dias as recomendações necessárias para realização do exame. Não tive culpa. James preparou um magnífico café da manhã e deixou em minha frente! Que pessoa em sã consciência rejeitaria aquelas comidas?

Gregório passou quase meia hora se lamentando por atrasar em mais uma semana o meu diagnóstico final enquanto dirigia a um café recém inaugurado, segundo ele, o lugar era incrível e eu devia conhecê-lo o quanto antes. Não estava com disposição em ir, uma que atrasaria os meus planos e outra, não aguentava mais comer, mas o Gregório estava tão animado que deixei passar.

Fui sem vontade.

********

Ao contemplar a grandiosidade do lugar, minhas pupilas se dilataram, confirmando que Gregório não exagerou em nada ao descrevê-lo. O estabelecimento possuía uma decoração que fazia referência ao Rei do Pop, Michael Jackson. Tudo ali remetia a ele. Os cardápios tinham o formato de luvas, porta-retratos com a imagem do ídolo adornavam todas as mesas e as paredes estavam preenchidas com réplicas de suas roupas usadas em shows e pôsteres exclusivos. Os funcionários, uniformizados, trajavam vestimentas que remetiam ao estilo de Michael. A música que ecoava no local, como não poderia deixar de ser, era do magnífico e extraordinário Rei do Pop.

Sempre fui uma grande fã de Michael. Aprendi alguns passos de sua dança ao assistir a um de seus shows gravado em uma fita VHS. O passo que dava a impressão de andar para trás era o favorito do meu pai, e eu adorava reproduzi-lo.

— Gostou? — Gregório perguntou enquanto movia a cadeira para que eu pudesse sentar. Agradeci e respondi com um grande sorriso. — Tem um pão na chapa que não tem igual no mundo, precisa provar! — disse ele, sentando-se em minha frente e folheando o cardápio.

— Não venha me engordar, Gregório! — disse, puxando o cardápio de suas mãos para verificar as opções do local. Precisava manter as medidas e, por isso, escolhi o sanduíche natural acompanhado de um suco de laranja sem açúcar, que era a opção mais saudável.

Gregório optou pelo pão na chapa e um cappuccino com milhares de camadas de cremes e chocolate.

— Uma pena não provar o pão na chapa. — lamentou ele, fazendo um biquinho dengoso para mim.

— Com a mania do James em cozinhar, extrapolei.

Ele tentou disfarçar, mas não conseguiu esconder a expressão de desagrado ao ouvir o nome do James e apressado, trocou de assunto antes que eu mencionasse o nome do James uma outra vez.

— Já decidiu para onde vai?

— Mais ou menos. — menti, para não parecer uma desajuizada.

— Vai ficar por perto ou sair do país?

— Tenho que calcular tudo. — respondi, debruçando um dos cotovelos na mesa. Era complicado ter que escolher um caminho depois da descida do salto. — Sair do país é atrativo, mas sem promessa de emprego é complicado. Tenho medo de torrar todo dinheiro ao tentar sobreviver e, no fim, ter que voltar ao país e agarrar um viúvo rico para me sustentar.

— Vai ficar no país, então?

Confirmei com a cabeça, era a escolha mais sensata a se fazer. Optar por ficar em um lugar afastado, mas com um mínimo de conforto. Viver no interior, conseguiria garantir uma refeição diária e, quem sabe, até abrir um negócio. Talvez, sairia como candidata à câmara municipal e viveria às custas do povo, mas com consciência de classe. Trabalharia para a população, no entanto não pouparia de ficar sem fazer os meus tratamentos estéticos.

Descendo do SaltoWhere stories live. Discover now