Epílogo

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O que pode acontecer em doze meses? Além de adquirir novas linhas de expressão, é claro. Uma guinada, algo como um enredo perfeito para Hollywood ou... nada. Continuar sem alteração na trama. E assim você segue seu caminho tedioso até chegar ao dia que foi predestinado para sua morte. Viver na monotonia é confortável. Ter sua vida virada de cabeça para baixo depois de ser obrigada a descer do salto é tão desesperador. Você nunca sabe como vai decorrer o dia e tem que carregar sempre lenços demaquilantes e um canivete na bolsa, além de moedinhas extras e um cartão de visita.

Eu não consegui ter tempo para processar os últimos acontecimentos. Passei a morar com Salete e sua grande família, e fui contratada por ela e a Guilhermina para cuidar das suas redes sociais. Tive que abrir uma agência por causa disso e, ainda sem me recuperar de todos traumas recentes, voltei a ter contato com pessoal do meio publicitário. Estou novamente lidando com aqueles vermes que tentaram me prejudicar no LinkedIn. Como tudo que faço é perfeito, minha agência está indo tão bem que precisamos abrir um escritório em um dos edifícios comerciais mais renomados de São Paulo e contratar pessoas para fazer parte da equipe.

Com o sucesso do empreendimento, deixei para trás o caos da casa da Salete e retornei a morar praticamente sozinha. Eu e Guilhermina dividimos o mesmo apartamento, mas devido à sua transformação em uma influenciadora aclamada, ela raramente está presente.

Uma reviravolta e tanto em minha vida. Consegui conquistar o meu lugar de volta em tão pouco tempo e de forma honesta.

Pensava que não fosse possível.

Quando você desce do salto, reerguer-se parece algo tão improvável.  No entanto, quando se tem uma vontade irresistível de acertar suas contas, as coisas começam a se encaixar. Minha tia favorita costumava dizer que na vida temos duas opções: afundar cada vez mais no abismo sombrio ou iluminar os buracos escuros e construir uma escada baseada em bons princípios.

Escolhi a segunda opção.

Escolhi acertar minhas contas e recomeçar do jeito certo. Ou quase certo, afinal ninguém é tão certo assim.

********

Após semanas enfrentando inúmeros problemas, finalmente consegui um momento de tranquilidade. Estava completamente entusiasmada com a liberdade de ter um dia só para mim e nem sabia por onde começar. Pensei em passar o dia todo deitada, relembrando os traumas recentes, mas descartei essa ideia assim que me veio à mente o sabor do meu bolo favorito no mundo. Já fazia mais de um ano desde a última vez que o provei, e sentia tanto a falta daquela calda espessa de chocolate escorrendo em minha boca e... dele.

Peguei minha bolsa e, sem hesitar, decidi voltar ao meu antigo bairro para comprar o delicioso bolo de chocolate. Como já previa, havia uma enorme fila na frente do restaurante, todos aguardando ansiosamente pelo bolo. Prendi meu cabelo num coque alto e fui para o final da fila. Enquanto aguardava a minha vez, distraí-me com o celular, acompanhando as últimas tendências e modas nas redes sociais.

― Laura.

Ouvi alguém pronunciar o meu nome e, de imediato, ergui os olhos para procurar a origem daquela voz tão familiar. Inicialmente, não avistei ninguém que pudesse ter me chamado e voltei minha atenção para o telefone.

― Oi. ― Uma mão áspera tocou o meu braço e, assustada, ergi os olhos e me deparei com ele. Gregório George Louise. Meu coração parecia parar e, inexplicavelmente, uma tremedeira percorreu meu corpo.

Não deveria reagir assim.

Mas... ele estava tão bonito, com os cabelos compridos e a pele bronzeada.

― Oi. ― respondi de forma fria ao guardar o telefone na bolsa e dei alguns passos à frente, pois a fila avançou.

Há algum tempo atrás, logo depois que tudo veio à tona, Gregório Louise ultrapassou todos os limites e, praticamente, seguiu Guilhermina todos os dias para convencê-la a revelar onde eu estava. Ele queria se redimir e chegou a tentar se entregar à polícia, mesmo sem eu ter feito uma denúncia.

Ele queria arcar com as consequências de seu crime e estava disposto a divulgar um vídeo pedindo perdão. Ao tomar conhecimento disso e, como eu queria evitar que o assunto ressurgisse, precisei entrar em contato com ele e pedir que ele não mencionasse mais o assunto.

— Laura, eu...

— Por favor, Gregório! — Interrompi-o com um gesto da mão e dei mais dois passos à frente. — Não traga de volta o assunto.

— Eu te devo um milhão de desculpas. — disse ele, me acompanhado. — Eu não devia...

— Gregório, chega! — Toquei em seu braço para que ele parasse de vez, mas ao tocar, percebi algo diferente nele. Havia uma textura estranha em seu braço e olhei para ver do que se tratava. Era uma cicatriz que não existia antes. — O que é isso? — perguntei, curiosa.

— Nada. — respondeu, escondendo o braço atrás das costas. — Foi um acidente de trabalho.

— A agência agora usa machadinha para fazer edições? — questionei, encarando seu rosto pela primeira vez desde que... a ruína aconteceu. Seus olhos estavam tão vazios e tristes, era como se a vontade de viver não fizesse mais parte daquela máquina que costumavam fazer pessoas radiantes. Aquele não era meu Gregório Louise.

Ele comprimiu os lábios e tentou sorrir.

— Não sou mais publicitário.

Aquela confissão me deixou atordoado. Gregório era um dos publicitários mais talentosos que eu já conheci. Ela amava a profissão quanto a viver.

Viver... talvez algo que ele não amasse mais.

— Você abandonou sua carreira por causa do que fez por mim? Não consigo acreditar que voltou para a fazenda! — Meu tom era acusatório e necessitava de uma explicação.

Antes que ele respondesse alguma coisa, a sua versão feminina o chamou aos gritos do outro lado da rua.

— Aquele é a Mer... — disse ele, sinalizando para ela. — Hoje o dia dela não está bom. Tenho que ir.

E foi, deixando-me perturbada com a sua nova realidade.

Em momentos de raiva e saudades esmagadora, desejei coisas ruins para o Louise, mas era da boca para fora. 

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** Deveria ser postado antes, mas.... esqueci. Acredita? **

ACABOUUU!! Se você conseguiu chegar até aqui, uau que demais! Fico IMENSAMENTE feliz compartilhar as minhas abobrinhas criaturas maravilhosas, não mais do que saber a opinião do público.

Essa nova versão da abobrinha mudei quase tudo. Praticamente, uma nova história. Essa mudança afetou em cheio a continuação. Teremos ou não? Eu não sei.

Então.... para todos que leu, muito obrigada! Espero que lá no fundo tenha gostado um pouquinho. Mil beijos e até próxima aventura (?)

Vocês são minhas criaturas favoritas!

Descendo do SaltoOnde histórias criam vida. Descubra agora