Capítulo 30

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Em uma semana muitas coisas mudaram. A lojinha estava frenética e, sem querer, virei quase uma pessoa pública de tanto Salete repostar em seu perfil os stories do Instagram da loja que eu fazia. Seus seguidores começaram a tratar a conta da loja não como comercial, mas como uma conta pessoal e, infelizmente, algumas pessoas conseguiram me reconhecer. Queriam saber mais detalhes do meu surto e, alguns haters, destilaram veneno. Eu nem dava trabalho a responder, ganhei um grupo de defensores guiados por minha prima e, mais tarde, uma defensora de peso surgiu.

Guilhermina foi a pessoa em questão. Ela, praticamente, passava o dia inteiro monitorando os comentários nas publicações e pronta para armar um barraco se alguém me destratasse. Ela chegou até a gravar uma live ameaçando expor todas as pessoas que perderam seu tempo fazendo piadas horríveis comigo e postou uma sequência de fotos minhas em sua página com uma canção de igreja de legenda. A sua obsessão a transformou em minha nova funcionária não remunerada. Ela ficou responsável em acompanhar os novos pedidos e me notificar sobre o surgimento deles. Além, obviamente, zelar pela minha integridade moral.

Salete e Luiz, mesmo com um milhão de obrigações, não me deixaram sozinha com as vendas. Sempre que dava, monitorava os envios das encomendas, emitia as notas fiscais, respondia os comentários e endossava mais um pouco o marketing. E não satisfeitos de me ajudar tanto, emprestaram sessenta mil reais para serem pagos, como eles mesmo disseram, quando puder.

Somando com o dinheiro que ainda possuía no banco, o empréstimo do casal e as vendas do meu desapego, o valor da primeira parcela já estava garantido. Fiz tudo que Robert me recomendou, saquei todo valor e entrei em contato com ele para a entrega do dinheiro.

Não fiquei nem um pouco impressionada com o endereço que o Robert me passou. O meu antigo apartamento em uma área não tão nobre que, agora, servia de escritório para os trambiques dele e da sua turma.

Cheguei dez minutos antes do combinado, não queria que ele se ofendesse com meu atraso e tentasse me punir de alguma forma. Assim que o porteiro notificou a minha presença, fui autorizada a subir. Pressionei a bolsa contra o peito e, suando frio, entrei no elevador, selecionei o andar desejado e roguei a todas criaturas celestiais, terrestres, aéreas e aquáticas por proteção.

Robert, brincando com um cigarro entres os dedos, me esperava na entrada do apartamento que ficava bem frente ao elevador. Sem querer parecer nervosa, dei uma piscadela de olho e estendi a bolsa para ele enquanto caminhava em sua direção.

— Boa garota. — disse ele ao colocar o cigarro na boca e pegando, logo após, a bolsa de minhas mãos.

— Não sou trapaceira, Robert. — falei, cruzando os braços e erguendo a cabeça para tentar reforçar uma imagem confiante.

Ele deu uma tragada e correspondeu a piscadela.

— Entre, vou conferir em sua frente. — ordenou, abrindo espaço na porta para que pudesse adentrar enquanto dava mais uma tragada no cigarro.

Obedeci-o. Entrei no meu antigo apartamento que permanecia quase igual do jeito que deixei. Robert não fez quase nenhuma alteração. Os móveis velhos e cafonas continuavam preenchendo o pequeno espaço e a pintura não foi renovada. Em alguns lugares a tinta estava se descascando. A única diferença era o isolamento acústico que ele investiu no local e o excesso de aparelhos eletrônicos e máquinas espalhadas pela mesa de jantar e nos minúsculos balcões da estreita cozinha. O apartamento era todo em conceito aberto e o único cômodo, separado por paredes, era o banheiro.

Robert afastou um pouco das tralhas que tinha na mesa e começou a retirar os dinheiros e pôs sobre ela junto com seu cigarro aceso. Pacientemente, contou cédulas por cédulas por mais de duas vezes.

Descendo do SaltoWhere stories live. Discover now