Capítulo 35

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Depois de receber uma notificação do corretor sobre o fechamento da venda, foi impossível prestar atenção em uma única palavra dita por Gregório. Uma sensação de mal-estar se apoderou de mim, quase me fazendo vomitar. Embora eu estivesse aliviada em finalmente encerrar tudo que lembrava da minha vida perfeita, o medo me dominava. Era oficial, o ciclo da minha melhor fase tinha chegado ao fim e eu não fazia a menor ideia de como iria continuar sobrevivendo.

O dinheiro obtido com a venda do imóvel não seria suficiente para sustentar uma vida mediana por muito tempo, e com a minha reputação profissional tão suja quanto os tubos de esgoto de São Paulo, eu não conseguiria um emprego condizente com minha formação e inteligência. A não ser que eu me mudasse para um pequeno interior e conseguisse um emprego de baixo salário, como garçonete ou caixa de supermercado. Ou... o plano B da minha mãe.

Respirei fundo e antes que Gregório percebesse a confusão mental dentro de mim, comecei a interagir com ele. Era o melhor para mim. Ocultar as minhas dúvidas e focar em outras coisas. Mais tarde, quando estivesse sozinha, poderia me concentrar nesse novo dilema e, talvez, encontrar o caminho menos áspero para prosseguir.

— Eu não entendi, repete! — exclamei, demonstrando empolgação, enquanto colocava meus pés sobre o painel do carro.

— Qual parte? — perguntou ele, estranhando a súbita empolgação, ao bater em minha perna para que eu retirasse os pés do painel. — Colabore com a organização. — Olhei para o seu rosto, incrédula por ele me repreender por me acomodar de maneira mais confortável. — Por favor, deu trabalho limpar isso.

— Tenho certeza de que estou cada vez mais próxima de descobrir o motivo pelo qual a Rachel te deixou.

Removi meus pés e ele comemorou com um grito de guerra, levando um tapa na cabeça.

— Agora, sim! — comemorou uma outra vez.

— Quê? — Dei mais uma tapa.

— Parece que está melhorzinha e posso parar de falar coisas nada haver. — respondeu, cutucando minha barriga. No mesmo instante, empurrei sua mão para longe de mim. Aquilo poderia liberar vômito. — Não precisa ter medo. Você vai se curar e estou aqui! Posso te acompanhar nas consultas, marcar e te orientar sobre o horário dos medicamentos.

Achei fofo de sua parte expressar apoio e quis chorar. Eu sei. Várias vezes ele deixou explícito o quanto me ajudaria em qualquer coisa, porém naquele momento... era diferente. Eu estava encerrando de fato um ciclo o que me deixou muito sensível.

— Não faz essa cara.

Ele tocou em minha coxa e soltou um beijo no ar.

— Estou um pouquinho emotiva. Vendi o apartamento. — comentei, e ele ficou surpreso. Quase estacou o carro. — A ficha caiu. Antes eu estava descendo do salto, mas agora não. — Fiz uma pausa dramática. — Eu desci do salto de vez para, talvez, subir.

Coloquei uma pitada de otimismo para não ser sempre tão dramática e negativa.

— E seus planos? Vai continuar com a loja on-line? — perguntou, preocupado, ao dividir sua atenção entre a estrada e meu rosto. — Vai ficar na cidade ou sumir?

— Mais tarde vou pensar nisso. — falei, como se a falta de um bom plano não me afastasse. — Foi bom a venda do apartamento. Eu estou aliviada.

— E feliz? — perguntou, e eu assenti. — Merece uma comemoração!? — sugeriu em dúvidas.

— Uma despedida. — Ele deu um estalo com a língua e estendeu uma das mãos para mim. Segurei-a. — Precisa entregar todos seus esforços. Dar o suor. Quero um resultado singular, Gregório George Louise. Precisamos mostrar nossa marca!

Descendo do SaltoWhere stories live. Discover now