Capítulo 22

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Eu não acreditava que havia conseguido em meio uma madrugada tediosa escutando o chiado forte que a respiração do Gregório fazia, remarcar o voo por uma taxa a preço de uma bagatela. Estava aliviada por voltar para casa, apesar do medo. Retornaria com um status rebaixado e na companhia de traumas que antes eram, mais ou menos, ignorados. Não sabia o que e como faria para dar uma engrenada na minha vida e continuar, não vivendo porque já não podia fazer aquilo, existindo.

Arrumar um emprego em qualquer área seria um desafio. O meu nome estava manchado no mercado corporativo, ninguém queria ter a surtada e mal-agradecida no time. A única opção, além do plano B idealizado por minha mãe, era chorar todas as pitangas no ombro do James para conseguir um cargo na empresa decadente de sua família e desfazer de todos os meus bens. Eu precisava arrumar uma solução para pagar as contas e me alimentar, mesmo que a solução acabasse com pouco de sanidade, paciência e dignidade que me restavam.

Falando em dignidade... queria morrer por ter colocado uma camisola curtíssima e de decote ousado na mala em vez de incluir mais um pijama normal. O pijama composto e de estampas divertidas que usava antes de me trocar para descer ao bar, sujou de lip tint. E outro pijama luxuoso, usado na noite anterior, estava fedido. Acho que babei mais do que normal quando estava desmaiada de sono. Só restava camisola sexy e teria que redobrar os cuidados. Gregório, como homem, atiçaria a sua mente pervertida ao ver uma mulher quase pelada no seu quarto e poderia interpretar de maneira errada. Acharia que aquilo seria um sinal para consolar o coração partido em meus braços. Não os meus braços, literalmente. Um pouco mais embaixo e escondido.

Tinha uma tarefa simples para cumprir enquanto Gregório estivesse no quarto e desperto, manter-se debaixo da coberta. Talvez ( talvez!), não teria mais tanto pulso se ele iniciasse a saga tentar algo. Era bonito demais para meu tipo, mas era bonito demais! Possuía o combo quase perfeito, se fosse bem mais feinho poderia ser classificado como perfeito dos perfeitos. O corpo estava bem cuidado e com gominhos no abdômen à vista, os cabelos eram o meu sonho de consumo. Hidratados, sem pontas duplas e com mechas naturalmente douradas. Não só possuía a capa quase perfeita, também apresentava o conteúdo. E que grande conteúdo! E, a melhor parte e a mais significativa, estava desperdiçado. Homens ou mulheres com corações tristes por causa do término de um relacionamento se entregam muito naquele momento. Querem provar para si e seus parceiros, embora não possam ver ou sentir a desenvoltura, que são os melhores na cama. Por isso que o James me achava fascinante, a deusa do sexo. Chamava-o sempre que sofria ou causava um término. Ou quando queria liberar endorfina e não possuía boas opções.

Era uma situação de vida ou morte me manter coberta e lutar com os meus hormônios para permanecer em equilíbrio. O meu corpo dava sinais que entrava na loucura do período fértil e o Gregório com o coração desperdiçado em minha frente, sacanagem! Uma afronta aquilo e precisava manter a cabeça em outros lugares. Ou em outras pessoas. A versão feminina do Gregório era uma boa escolha ou... podia ser a Elena, James ou Barack Obama.

Ou irritá-lo até me fazer gargalhar.

No fim, deu certo a junção das escolhas. O fogo hormonal foi contido e nem pensava mais tanto assim como seria a sua performance.

Gregório, com humor típico de ressaca após um porre pesado, se estressou facilmente por uma brincadeirinha boba. Um chute, leve como uma plumas, nas suas costas nuas. Ainda bem que havia se livrado da blusa horrenda, eu surtaria outra vez se o visse com aquela coisa no corpo e na minha frente.

Soltando fumaças pelas narinas, ele se levantou da cama, onde sentava bem na beirada e de costas para mim, e relatando das supostas agressões sofridas durante o intervalo de vinte quatro horas, sentou-se na única cadeira do quarto que estava de frente a janela. Entretanto, não demorou muito por lá. Fez questão de se levantar e ir até a mim para esfregar na minha cara o hematoma que os meus dentes causaram em seu peito.

Descendo do SaltoWhere stories live. Discover now