Capítulo 25

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James, para compensar o seu péssimo posicionamento e minimizar os efeitos colaterais, fez coisas que eu deveria ter feito a muito tempo atrás. Como encontrar e colocar o celular para carregar, desfazer as malas e pôr as roupas sujas na máquina de lavar, fazer compras de supermercado por aplicativo, lavar os banheiros com bastante cloro, passar um aspirador no tapete gigantesco da sala e um pano úmido nos móveis para retirar a poeira. Ele fez tudo isso enquanto eu devorava toda comida e assistia o chaveiro consertar a fechadura danificada.

Ele, sem a menor sombra de dúvida, era o pior cafajeste de todas as galáxias e às vezes um pouquinho egocêntrico, mas possuía um bom coração. Gostava de ajudar as pessoas e tentava ser o melhor pai para os seus filhos, além de suportar a Carmem e as suas chantagens emocionais. Por ele, estaria divorciado há um século da esposa, mas a Carmem era terrível. Principalmente com ela mesma. Não o largava e nem facilitava o divorcio para o pobre do meu amigo. Usava até os seus filhos com escudo para impedir o James de continuar com seu desejo, que era o melhor para as crianças e ela.

Eu, tirando algumas partes, admirava muito James e possuía um grande apreço por ele. Falávamos um para o outro que éramos uma versão fracassada, e nada de acordo pelo comitê de cupidos, de almas gêmeas quando estávamos na fase melhores amigos da vida. Éramos próximos, mas nem sempre nos encontrávamos tão próximos. O trabalho, relacionamentos e as grandes divergências que tínhamos em algumas questões sociais e até políticas, arrastavam-nos para longe. Mas sempre voltamos a falar e tudo era igual.

James estava por mim sempre que o solicitasse e eu, dependendo do dia, humor e disposição, para ele. Raramente, em comparação com toda sua disponibilidade, estava por ele, mas eu já estive por ele. E muitas vezes. Importante ressaltar! Isso conta muito para as elaborações de punições do tribunal divino. Eles colocam tudo na balança e as boas ações enfraquecem a gravidade das punições. Se bem que... acho que não contou muito as minhas boas ações. A minha punição veio sem dor ou piedade.

Talvez, as minhas boas ações não foram tão boas assim ou o tribunal divino seja maldoso demais.

Incansável de fazer tudo por mim, James ainda lavou o rol de entrada do meu apartamento assim que o chaveiro terminou o seu trabalho, guardou todas as compras na despesa, foi até a farmácia repor os meus medicamentos, preparou um shake vitaminado para ajudar a ingerir os analgésicos e passou a noite inteira vigiando o meu sono. E segurou forte a minha mão quando a crise de ansiedade se manifestou no meio da madrugada.

*********

O apartamento possuía som de músicas carnavalescas e cheiro de pão quentinho logo nas primeiras horas do dia, reavivando a luz sucateada da pequena esperança dentro de mim. Viver poderia ser bom, se eu não me empenhasse em atender às expectativas alheias. Cambaleando, tentei me aproximar do James, que batia algumas frutas no liquidificador, sem que percebesse. Queria fazer uma surpresa ou dar um susto, iria depender de sua reação. Porém a minha coordenação desconfigurada, fez com que batesse uma das pernas na geladeira, o que chamou a atenção dele.

— Coração, bom dia! — disse ele, rindo, ao me ver. — Estou perdoado por me expressar tão mal ontem? — perguntou ao desligar o liquidificador e, logo após, soltou um beijo no ar em minha direção.

— Ainda não sei. — respondi, deslocando-me até o fogão para verificar o que de fato estava assando no forno. Tinha cheiro de pão, mas era impossível o James ter feito pão caseiro de modo tão rápido.

— É pão recheado. Uma receita que inventei e não é bom abrir agora. Interfere na qualidade do cozimento. — disse ele, apressado, antes que eu abrisse o forno.

Afastei-me do fogão e, arrastando-me, fui até a enorme ilha de mármore que ficava no centro da cozinha e debrucei o meu corpo sobre ela. Estava exausta de tanto dormir e precisava dormir mais para acabar com exaustão.

Descendo do SaltoWhere stories live. Discover now