Capítulo 37

5.3K 494 511
                                    

Esquecimento, foi a desculpa que a Guilhermina deu para não mencionar o fato que estávamos morando a menos de dois quilômetros de distância há quase três semanas. Com Robert Rocha obcecado em me atacar, a vida da minha única irmã corria grandes perigos e eu precisava estar a par dos fatos importantes que lhe envolviam. Eu sei, não podia cobrar explicações sobre cada passo que ela dava. Eu a ignorava sempre e, talvez, minha atitude mesquinha a fez me privar dos seus fatos importantes. Mas, mesmo assim, ela deveria me contar!

Foi quase meia hora uma gritando de um lado pela falta de consideração e a outra replicando os ataques. Depois de muitos xingamentos, no fim tudo deu certo. Ou quase certo. A Guilhermina conseguiu me dobrar e convencer a irmos, juntinhas, na balada na noite seguinte.

Na hora exata, como combinado, Guilhermina me informou através de uma mensagem que ela estava esperando por mim na frente do meu prédio. Retoquei o meu batom vermelho preferido da Mac, o Red Rock, e, antes de descer, dei uma conferida na frente do espelho no vestido curtíssimo que vestia, na maquiagem que fiz para disfarçar o corte da testa e nos cabelos recém pintados de castanho escuro. Eu mesma os pintei com tinta vendida em farmácia, uma descida e tanto para mim. O resultado não ficou profissional, mas consegui cobrir os fios brancos espalhados pela minha cabeça que adquiri nos últimos dois anos. Não eram muitos, mas me incomodavam.

Fazia tanto tempo que não pisava em uma balada que a Maria, a mãe de Jesus, sentia as primeiras contrações quando fui na última vez. Eu já não tinha mais a menor ideia de quais músicas estavam tocando ou como as pessoas se vestiam. Por isso, optei por um look clássico para a balada: vestido curto, maquiagem pesada e saltos.

Ao ver a forma que Guilhermina se vestia, comemorei por não estar tão desatualizada. Ela também usava muita maquiagem - quando digo muita é equivalente a 100x mais do que sua típica make natural que corresponde a minha maquiagem super carregada- e trajava um vestido curtíssimo, fazendo com o meu parecesse longo. Como irmã mais velha, foi inevitável dar alguns conselhos sobre o fato dela expor tanto o corpo, mas Guilhermina tratou tudo como brincadeira e até fez uma alteração desnecessária no vestido para destacar ainda mais seus seios.

Discutimos sobre isso durante todo o trajeto e só paramos porque não queríamos parecer duas pessoas loucas brigando na frente de uma multidão de cinegrafistas e curiosos na entrada da balada. Guilhermina, que adora fofocas, saiu do carro desesperada para conferir o que estava acontecendo e, ao descobrir a razão, puxou-me pela mão para o centro das câmeras.

Como uma pessoa antiquada, eu não conseguia entender até que ponto era normal ter câmeras por todos os lados na porta de uma balada. Deixei-me levar e só fui atrás dela como um animal de estimação.

— Isso é o quê? — perguntei, incomodada com os gritos eufóricos dos jovens e me arrependi amargamente por ter saído de casa. Não era mais para mim... baladas com jovens cheios de vitalidade.

— Estão fazendo uma reportagem sobre a vida noturna dos jovens para um documentário. — comentou ela, estufando os seios para chamar a atenção de algum profissional no meio do aglomerado de pessoas. — Já pensou a gente aparecendo nas telas das pessoas? É a nossa chance de ser famosa, só Deus sabe o quanto quero a fama para mim.

Ela deu um pulinho que chacoalhou os seus seios, chamando a atenção de quem queria.

O cinegrafista.

— Oi, meninas! — Acenou um homem de barba longa e cabelo rastafári de comprimento médio à medida que aproximava de nós duas. Guilhermina usando o seu melhor e mais safado sorriso, empinou seu corpo e jogou o cabelo para trás. Estava feliz por ter atingido o primeiro objetivo da noite. — Estamos produzindo um documentário sobre a vida noturna...

Descendo do SaltoWhere stories live. Discover now