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Minha substituta estaciona a bicicleta no jardim da própria casa, exatamente como eu fiz, ela está sorrindo e eu não posso negar que sua beleza é tão natural quanto comum. Os olhos dela mostram o tempo um misto de gratidão com felicidade, ela é adotada presumo. Devia ser um daqueles órfãos do lar da cidade, um dos poucos que tem a sorte de conseguir uma família legal. Minha família legal.

Ela caminha para o senhor Carlo, os olhos dele têm o mesmo brilho que tinham no dia em que eu morri... No dia em que ele me matou. Minhas camiseta rasgada; meu sutiã que era quase inútil na época, jogado no chão, meu corpo violado. Já não sinto mais raiva de minha substituta, sinto dó , como eu sempre vou sentir por mim mesma. Não importa quanto tempo passe.

Quando me liberto de meu devaneio, meu assassino já fechou a porta aprisionando sua mais nova vítima. Não hesito por muito tempo e vou para o lugar, Tomaz continua insistindo para que eu obedeça o protocolo, mas as palavras soam tão sem sentido e vagas que eu sigo meus instintos. Os perigosos estimulantes humanos.

Arrombo a porta e vejo meu assassino segurando o braço de sua vítima com violência. Não há dúvida ele iria fazer de novo, ele olha assustado para a porta no chão, só então, me lembro que estou camuflada. A minha substituta espera por um milagre eu encontro a veia perfeita no pescoço do senhor Carlo, golpeio com força e ele desmaia.

- Você vai esquecer de tudo isso - falo para a garota assustada. - Vai para casa - eu acesso o cérebro dela cheio de memórias recentes com minha antiga família - Irá esquecer de tudo isso, pois nunca aconteceu. - ela me obedece. Ela nunca vai se lembrar da experiência que teve hoje, nunca vai ter pesadelos com os braços dele apertando a pele.

Eu sei que eu poderia esquecer, poderia excluir o dia traumatizante de minha própria morte, mas eu preferir manter essas memórias para poder lembrar o quão forte eu sou. E como os humanos podem ser.

- Você quebrou todas as regras do protocolo! - o califa diz no comunicador.

- Sinto muito, mas a missão terá que mudar um pouco . - respondo tentando normalizar minha respiração ofegante.

- Mudar?! Não podemos mudar...

- Por favor, obedeça - suplico e recebo silêncio - saia da nave e reduza este humano, nos o levaremos.

- Está bem, espero que exista uma razão para o que está fazendo - ele responde.

- Existe, obrigada. Eu irei concluir a missão inicial. - eu digo já calma - Por favor, não conte a ninguém dessas alterações de última hora.

- Está me pedindo para mentir? - ele exclama como se eu o tivesse xingado.

- Apenas omita os fatos.

caminho em passos rápidos e largos, em um pouco mais de um minuto eu estou na frente da casa de dona Mirtiz. Sem mentiras, vou contar a verdade. Bato na porta e desativo minha camuflagem. Uma idosa que já passa dos sessenta me olha gentil, sua saias largas e cabelos desgrenhados lhe dão uma aparência de hippie que saiu diretamente da década de setenta.

- Pois não? - ela pergunta sorrindo.

- Ainda faz doce de maçã ?- pergunto.

- Olivia Merlim! - ele me reconhecer, eu era a única pessoa no mundo que cumprimentava usando as palavras doce e maçã.

- Estava certa o tempo todo, dona Mirtiz, realmente existe seres em outros planetas. - eu digo organizando bem as palavras em minha mente, antes que saiam da minha boca.

- Por que não entra, querida ? - ela pergunta, essa era última possibilidade que eu esperava, eu a sigo até a sala. - Eles lhe salvaram , oh meu Deus, eu sabia que eles eram melhor que nós, mais avançados. - ela diz emocionada, enquanto se acomoda da poltrona.

EXTINÇÃO Where stories live. Discover now