22

108 17 1
                                    

Volto para minha cápsula correndo, forçando os meus pulmões, que ardem pelo esforço, tropeço algumas vezes na minhas próprias pernas. Só quero sair daqui como se nunca tivesse chegado no lugar, me sinto culpada, mesmo sabendo que não tive nenhuma responsabilidade do ocorrido.

Ou tive? Por que esses monstros foram enviados até esta pequena ilha, onde habitavam somente poucas pessoas, talvez para limpar vestígios de uma possível intervenção muito exposta. Talvez quem reduziu as pessoas que eu carrego nestas esferas tenham sido vistas, e tenham precisado limpar a área para não alertar outros. Mas, de uma forma tão brutal e tão incorreta de acordos com as leis do Conselho.

O Conselheiro. É possível que ele o tenha feito, depois das últimas atitudes dele só poderia ser do manejo dele algo tão cruel. Não vou mais me render as ameaças, quando chegar em Plátia eu vou comunicar a todos os representantes dos setes planetas do Conselho.

Entro na cápsula com o peito arfando, coloco meu destino e aperto meus olhos com força, os fechando. Eu fiquei em uma espécie de transe durante toda a viagem e quando abro os olhos estou na Central, alguns seres se movimentam pelo hangar. Alguns humanos geneticamente modificados, se divertem enquanto um califo conta uma história.

Uma rosena está parando em uma das pontes de decolagem, ela busca meu olhar com sua visão que escapa de olhos muito semelhante aos dos pássaros da Terra, permito a mim mesma fugir do contato visual e observar apenas a bela pelagem da criatura. Até que fica inevitável, e tenho que sair da cápsula.

- Projeto Lyra - ela curva a cabeça em rápido cumprimento - Tenho instruções para você.

- Tem? - minha mente ainda divaga.

- Sim, querem que você se dirija até o laboratório onde seu clone está abrigado.- ela fala.

- Antes eu vou falar com o Conselheiro. - digo firmemente.

- Isso não será possível, o Conselheiro está em uma reunião a qual poucos sabem o objetivo, inclusive a senhorita não deve se aproximar das locações do Conselheiro até que o evento acabe. - ela diz de forma mecânica, porque ensaio durante horas esse discurso.

- Acredito que diante dos meus motivos, o Conselheiro abrirá uma exceção. - retruco.

- Creio não ser possível a existência dessa exceção. - ela diz calma.

- Eu sou a comandante da intervenção responsável pela busca da cura, tudo é possível para mim. - me arrependo de ter falado tudo com arrogância.

- Projeto Lyra, essa informação é confidencial, mas percebo que a senhorita vai insistir até o fim- ela suspira brevemente- o Conselheiro está em um restaurador, houve um forte problema com seu estado físico e  ele passa por um procedimento.

Forte problema físico? Seria muito favorável para o Conselheiro ter que se ausentar de visitas neste momento, isso fortalece minha suspeitas de que ele tem a responsabilidade pelo ataque na ilha.

- Antes de ser levado para o procedimento o Conselheiro deixou ordens muito claras para você. - ela voltou a falar.

- Quais ordens? - minha voz exalou mais preocupação do que deveria.

- Ele pediu para que me desse as amostras capturadas, e depois para que se dirigisse para o laboratório onde seu clone está, ele estava um pouco atormentado quando falou que você deveria ser a primeira pessoa a quem sua cópia deveria ver - ela explicou - mesmo com a clara confusão do Conselheiro nós decidimos até suas ordens.

- Quem está no comando atualmente? - questiono.

- O vice Conselheiro.- ela responde.

- E quem é o vice Conselheiro? - pergunto com pressa.

- Infelizmente essa resposta se choca com o limite do que você pode saber. - é a resposta.

Eu decido seguir a rosena depois de entregar as amostras, eu sei perfeitamente como funciona um clone. Ele sempre obedece aquele que primeiro o vê, parece uma paródia mais tosca dos desenhos animados, onde o passarinho quebra o ovo e exclama mama para qualquer um na sua frente, mas é dessa maneira que funciona com os clones.

Mas porque o Conselheiro iria pedir que eu fosse a primeira a vê- la se ele realmente tem objetivos sóbrios, me dá poder sobre o clone seria atirar no próprio pé.

- Aqui, chegamos. - tem uma dúzia de cientistas do lado de fora da sala.

- Vamos lhe dar privacidade - um deles diz e aperta um botão deixando o vidro que dava a visão da sala para o lado de fora - pode ir.

Entro, sem tempo para perguntar o que devo fazer, estou desnorteada,pois nunca participei de um procedimento como esse e nunca questionei a minha restauradora como funcionava, eu poderia consultar no meu extenso bancos de mas antes de alcançar essa parte de minha mente, a bolha que abriga a garota se move levemente.

A bolha se move outra vez e eu me aproximo, meus olhos deve demonstrar o mesmo que os cientistas que fizeram a ovelha Dolly demonstraram, era engraçado de
alguma maneira.

A perfeição daquela experiência, cada falagem feita de forma tão similar a de um humano, não havia nenhuma pista para dizer que aquele ser dentro daquela bolha não era um humano genuíno. A criação daquilo parecia tão simples e comum dentro do Conselho, mas na Terra poderia ser considerado anti ético, até um crime quanto a natureza e a humanidade. No entanto, diferente dos raros clones criados pelos cientistas humanos, os daqui só herdavam as características boas e fortes, por isso possuía uma vida longa e próspera, pois tinha todos os defeitos de sua referência corrigidos.

Essa garota dentro desta bolha, é bem mais forte e poderosa que eu, eu toco a superfície gelatinosa de onde ela está abrigada e ela explode como uma bolha de sabão me assustando. A menina acorda com os olhos arregalados, tanto quanto os meus, ela está sem roupas, os cabelos estão grudados na testa e sua respiração é pesada.

O cérebro dela deve tê-la alertado sobre sua nudez, pois a vejo se encolher tentando não se expor tanto. Encontro um cobertor em uma maca ao lado e me aproximo devagar da garota, tento demonstrar através de meus movimentos que estou com ela e não lhe quero mal.

- Oi - digo jogando o coberto sobre os ombros dela - Sou Lyra - sou tomada por uma estranha empatia diante dela e de sua falta de parentes ou de algum familiar.

- Quero me chamar Clara - ela diz devagar - eu gosto de Lyra.

- Tudo bem, então - me afasto alguns centímetros - Clara, será seu nome.

Somos despertas por batidas na porta e alguns vozes em uma conversa acalorada, a janela deixa de ficar fosca e eu vejo Felipe fazendo sinais com as mãos, decido saber o que ele quer, antes de me afastar uma mão me agarra.

- Um grande mal está por vim - Clara está com os olhos da cor de prata líquida - Tome cuidado Lyra, suas suspeitas estão certas e ao mesmo tempo erradas

----------------------

O livro está próximo do fim, preparem- se, pois uma continuação irá ocorrer.

Quarentena.

EXTINÇÃO Where stories live. Discover now