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Eu não existo mais.

Eu sou apenas o vazio, outra vez.

Eu estou morta.

As mesmas mãos que mataram uma vez, me mataram de novo.

E agora eu estou de novo aqui.

Pairando neste lugar desconexo.

Sinto uma mão agarrar o meu nada, sinto ela puxar o meu vazio. Ela puxa e me obriga a passa por um ralo.

Eu passo, não tenho escolha.

Não tenho direito a reação.

- Lyra... - uma voz surreal me chama de outra dimensão - Volte, eles prometeram que você voltaria.

Tem luz entrando em meus olhos.

Eu tenho matéria de novo.

- Lyra, eu sinto muito- a voz é chorosa sinto um pano úmido nos braços.

A luz e a imagem estão embaçadas, movimento a cabeça de um lado para o outro e ela dói.

- Calma. - a voz continua - Não se mexa, eles disseram que você vai levar um tempo maior para se regenerar. - eu enxergo apenas por um olho.

- Quem é você? - minha voz sai como um coaxar.

- Sou o humano, não se esforce. - ele põe a mão na minha testa, ainda afundada.

Meu único olho me possibilita uma visão limitada, mas eu já consigo enxergar o rosto de Felipe a minha frente. O rosto dele está preocupado e assustado, provavelmente ele nunca viu alguém deformado como eu devo está.

- Você disse que eles não feriam ninguém.

- E eles não ferem, quem me trouxe? -eu pergunto quando percebo que estou em casa.

- Um platium choroso e tão horrorizado que não parava de tremer, ele passou uns vinte minutos implorando perdão. - ele diz devagar removendo os panos de um ponto a outro em meu corpo - Tem algo muito errado acontecendo Lyra, mas agora você deve dormir.

-Hum...

-Dorme !

Escuto água pingando e o pano úmido novamente em minha pele, posso imaginar a cena com clareza, Felipe está limpando meu corpo martirizado, hidratando para que os ferimentos curem mais rápido. Molha o pano, espreme; barulho da água, umidade na pele.

Eu acordo agora com os dois olhos, sinto meu corpo revigorado não estou mais deformada, a substância tirou meu poder apenas por um período, já não sinto mais a fraqueza humana. Não sou mais Olivia, sou projeto Lyra outra vez. Todas as coisas que eu passei nos últimos dias me fazem querer chorar até não restar uma única gota líquida em meu corpo, tento enumerar os acontecimentos para poder cair no choro, mas não consigo as lágrimas chegam e eu fico me achando fútil, por não consegui organizar os motivos pelos quais eu choro tão desesperadamente.

- Ei, está tudo bem. - é Felipe quem me abraça - Vai passar.

Ele fica ali meio receoso no início por causa do contato físico tão íntimo, mas depois de cinco minutos de ranho e soluço ele já afaga minhas costas e fala palavras de consolo perto de meu ouvido, sinto - me protegida.

- Obrigada. - solto um gemido baixo.

- Ele está lá embaixo. - ele diz se afastando de meu corpo.

- Quem está lá embaixo?

- O tal de Tomaz, ele chegou quase agora, e quer te ver. - Felipe sai do quarto.

- Eu já vou. - falo alto.

EXTINÇÃO Where stories live. Discover now