Alina

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Alina tinha apenas 16 anos, ela gostava de músicas eletrónicas, "nights" bem agitadas e costumava frequentar lugares com pessoas perigosas, mas ela nem se importava tudo o que gostava se encontrava em um só lugar, músicas, bebidas, sexo e dinheiro.


Sua mãe viúva há quatro anos começou a trabalhar como doméstica no centro do Rio de Janeiro, residentes na Favela de Mangueira, seu pai foi brutalmente assassinado pela polícia. Ela passava dias a trabalhar fora de casa, deixava os seus quatro filhos pequenos com a filha que não tinha responsabilidade para cuidar deles e de estudar.

Uma adolescente de dezasseis anos que não tinha a mínima noção de vida o, ser e não ser. Levava uma vida rodeada de pobreza e pecados, inocência e maldade, assim ela pensava.

Uma menina de olhos cor do céu, magra, cabelos louros e pele morena, que vivia uma vida que não lhe pertencia, frequentava lugares de pessoas adultas, usava álcool, droga e deixava seu corpo a mercê de cães vadios e famintos.

Uma vez ou outra, sua mãe tentava lhe dar uns conselhos, pedir-lhe que a ajudasse com os mais pequenos, _ por favor minha filha, eu preciso muito de ti, eu te amo. _Preciso trabalhar, tu sabes bem que eu não tenho escolaridade suficiente por isso a única forma que tenho de vos alimentar é trabalhar como doméstica, e tu sabes que aquelas pessoas ricas não querem saber de nossas vidas e das nossas dificuldades.

_ Tu és linda minha menina, tens que pensar no teu futuro. Esses seus amigos não são uma boa companhia.

Malcriada e estúpida, ela não sabia o queria da vida.

_ Me deixa mãe, a vida é minha e eu sei o que faço, e aquelas pessoas, elas são meus amigos e eu não vou deixar de vê-los por tua causa, eles me dão o que senhora não me dá. - Não vês mãe, somos pobres, olha para esta casa parece mais uma lixeira do que casa, tenho vergonha desta vida de merda, tenho vergonha da senhora. Eu quero ser rica e vou ser rica, ainda verás mãe.

A chorar com lágrimas de ilusão e vergonha, Alina saiu batendo a porta sem olhar na cara da sua mãe, uma mulher batalhadora.

Sentada no único sofá da casa todo velho e seus outros quatros meninos sentados no chão triste encarando-a.

_ Não choras mãe, ela é doida mesmo.

_Oh meu anjinhos venham aqui, queria tanto que o vosso pai estivesse vivo.

Homens casados, solteiros, jovens e velhos não interessavam desde que sejam ricos, e pudessem lhe proporcionar umas horas de luxúria, ela dava seu corpo em troca.

Algumas vezes recebia muito dinheiro em troca, mas em outras era humilhada a única recompensa seria um copo de Martini, um beijo na testa, uma boleia num carro luxuoso até a estrada perto da casa, porque tinha vergonha de dizer que mora numa favela.

O meu fim foi nesse dia, jamais me esquecerei desse dia. Alina.

Eram quase nove horas da noite, ao chegar em casa algo estranho estava a acontecer, mas quem se importava para ela o melhor seria nunca mais poder voltar para aquela casa.

Era seu aniversário de 17 anos, sua mãe comprara um vestido na rua, e tinha pedido licença de trabalho para dar os parabéns a sua única filha, preparou tudo, fez um bolo caseiro com cobertura de chocolate, convidou todos os vizinhos da idade dela, queria que sua menina tivesse a melhor festa que podia proporcionar.

Alina andava descontraída e pensativa, não gostava de magoar a sua mãe, mas ela não entendia que aquela vida não era digna, que sua filha podia ser alguém na vida. Ela saiu de seus pensamentos e abriu a porta e logo se assustou com os gritos.

_ Surpresa-aaa.

_ Parabéns minha filha.

Todos começaram a cantar, parabéns a você...

_ Que porra mãe, o que é isto, que coisa mais podre. Alina olhava para todos com desprezo no rosto.

Ai, como me arrependo de tudo.

Admirados, todos pararam de cantar, era visível a felicidade nos olhos de todos, um brilho enorme que foi apagado nos olhos de sua mãe.

_Mas... mas filha, hoje é seu aniversário.

_É sim, e tu achas que eu quero festejar meu aniversário nesta caverna com um bando de pessoas que fedem a pobreza e a comer isso aqui, é bolo ne, olha o que faço com isto.

Ela jogou no chão o bolo feito com tanto amor, mas pegou no seu vestido de presente e levou consigo. Saiu do quarto perfumada e maquilhada, estava linda, nem olhou nos olhos de sua mãe, nem percebeu que ela estava a chorar sentada em cima de seu bolo de aniversários espalhados pela casa.

Bateu a porta e saiu sem olhar para trás, entrou num jipe preto com dois homens e foi se embora.

Aquele seria meu último dia, a última vez que veria minha mãe. Bebi, fumei, dançei loucamente, e fiz sexo com vários.

Alina nem se apercebeu que as suas bebidas estavam envenenadas, ao se sentir cansada e sonolenta saiu na rua para refrescar e se deparou com o seu amigo Pérsio que logo se ofereceu para levá-la em casa, cansada ela aceitou o convite de Pérsio, ele era rico morava numa mansão o que ela sempre quis.

Vencida pelo cansaço e efeitos de drogas e medicamentos, ela dormiu no caminho e não conseguiu ver que não estavam a ir para a sua casa ou a casa dele.

Quando ela acordou estava deitada num colchão velho dentro de um quarto pequeno e Pérsio estava sentado á sua frente a digitar no seu telemóvel.

Ao fundo tinha mais três miúdas que aparentavam terem a mesma idade que ela, todas pareciam exaustas mas não assustadas.

_ Pérsio, onde eu estou, que quarto é este, quem são estas meninas?



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