Prisioneiros do tráfico

28.1

_Eu tinha 17 anos quando tu desapareceste, vivia em Portugal com meus pais, meu sonho era te conhecer, minha mãe dizia que minha prima era tão linda como a irmã mais nova dela então já viste como eu me sentia. _Talvez os teus pais nunca te falaram sobre mim mas acredito que não seja por mal eles eram muitos amigos ao ponto de não desejarem que seus filhos se unissem.

_Depois minha mãe morreu de um AVC, meu pai ficou tão transtornado que nem conseguia olhar para minha cara, sentia como se eu fosse o culpado de tudo, aliás no fundo acho que sou, eu era muito rebelde, lembro que minha mãe estava sempre irritada comigo porque não estudava, eu saía para noitadas e voltava tarde enquanto meu pai ficava horas no escritório dele.

_Um dia qualquer cheguei em casa minha família estava estranha, meu pai estava exausto seu semblante o denunciava minha mãe parecia um dragão soltava fogo pelas entranhas, naquele momento calmamente levei meu skate para o quarto arrumei minhas coisas e fui ver o que estava acontecendo mas senti algo partindo no quarto de hóspedes e corri na direção do quarto abrindo a porta e lá estava uma miúda de quase a mesma idade que eu.

Milena, encarava Peter com muita atenção tentando entender e reavivar sua memória porque aquela voz não lhe era estranha.

_Assim que adentrei o quarto ela se assustou e encolheu num canto, tentei falar com ela para saber quem ela era mas, seu corpo tremia não parecia assustada mas em pânico, quanto mais eu me aproximava ela tentava se encolher, se a parede fosse mole eu aposto que entraria nele, Peter sorri desconcertante. ~

_Mais um passo e ela gritou tão alto que eu me assustei e sai correndo de lá dando de cara com os meus pais também correndo na direção do quarto assustados.

O que fazes aqui filho, perguntou a minha mãe que sem esperar pela minha resposta dirigiu-se para o quarto.

Meu pai simplesmente ficou ao pé da porta observando tudo, ele sim parecia exausto e preocupado.

_Após a mamãe tranquilizar aquela miúda, fomos para a sala, eles me explicaram porque ela estava na nossa casa.

_Seu nome era Nairomi, tinha 16 anos e viveu dois anos trancado num hotel com muitas outras garotas exploradas por uma rede de tráfico em Suriname, e minha mãe trabalhava numa ONG que protegia pessoas das camada mais desfavorecidas e por coincidência encontram-na vagando pelas ruas assustada, sendo meu pai um advogada eles tentavam tirar um depoimento dela, mas ninguém conseguia chegar perto dela senão minha mãe, até que semanas após viver na nossa casa ela se acostumou comigo, viu que eu não faria nada de mal a ela até porque minha mãe fazia questão que eu fosse gentil com ela.

Peter colocou suas mãos encima de o da Milena, os dois sorriram com mais brilho, ele levantou e tirou do seu bolso uma carteira e dela uma foto de uma menina e mostrou para a Milena.

_Ela é linda pois não?

_É sim.

_Se chama Núbia, o nome que Nairomi deu-lhe.

_Nossa Peter tu és...?

_Não... ele a interrompe e diz, ainda não terminei.

_ Nairomi estava grávida, claro ela não sabia quem era o pai, após descobrirem a sua gravidez semanas depois de levarem-na para Lisboa, ela disse que sabia que iriam matá-la como faziam com quem não precisavam, injetavam drogas ou até enterravam-nas vivas como lição para as outras, mas ela conseguiu uma breja e escapou, mas para isso teve de agredir e assaltar uma camareira.

_Nunca ninguém soube o que realmente aconteceu com ela durante o tempo que passou na mão dos traficantes, mas ao dar a luz, ela deixou bem claro que não queria que a filha fosse para adoção por isso minha mãe adotou Núbia e hoje eu cuido dela como filha.

Um silêncio se fez entre os dois.

Lágrimas começaram a escorrer pelo seus olhos, Milena começou a chorar novamente e daquela vez era de alegria, finalmente alguém a que, ela poderia confiar e acreditar, os dois se abraçaram e Peter a convidou a passar um dias na casa dele, lá ela estaria segura e poderia ficar o tempo que quiser, Núbia vivia aos cuidados dos pais de Milena então quando fosse a hora certa eles encontrariam uma forma de juntá-los.

Peter sabia que enquanto Robert Spencer estivesse solto a sua prima não estava segura, várias fotos de Milena foram encontradas no laptop dele e muitas declaração de amor, alguns policiais até debochavam além de mafioso o homem era romântico.

A sua ligação com pessoas de alto cargo na política e juízes estavam a dificultar o trabalho da polícia em indicia-lo, somente o testemunho da Milena e Flávio poderiam incriminá-lo.

***

A reunião que juntou chefes de inteligência da polícia com intuito de descodificar uma varreduras nas memórias de computadores de Robert Spencer e juntar mais provas contra o homem que supostamente pode ser um dos criminosos mais perigosos para a sociedade, transformou numa batalha e uma grande dor de cabeça para os membros da mesa de reunião.

Mensagens do tipo I25f14 levados sem danos com sucesso, B10 e GT35U , aguardando por mais f'm, ocidental carregamentos pesados.

Para a polícia são simplesmente códigos de produtos mas Peter pensava ser algo a mais, códigos usados para relatar transportação de pessoas.

Na pasta Robert Spencer um vídeo de uma miúda dando depoimento foi encontrado, mas Steve não conseguia fazer a ligação entre ela e o acusado sendo que o único nome ouvido era de um tal Rehx.

Canetas batiam na mesa, vozes falavam altos, cochichos e até risos acontecia ali, mas Peter ainda sabia que alguma coisa não se encaixava ali, então ele levantou pedindo ou quase implorando atenção de todos os presentes.

_ Eu sei que todos nós estamos apreensivos para encontrar a cabeça da quadrilha, não é a primeira vez que deparamos com crimes desse porte mas é a primeira vez que algo não se encaixa.

_ Todos nós aqui estamos ciente que tráfico de pessoas não envolve somente um grupo de quatro ou cinco pessoas mas normalmente centenas delas, e sempre quem comanda a operação fica de fora, mas desta vez a sorte caiu para o nosso lado e temos um suspeito um líder, por isso a nossa acção deverá ser sigilosa e muito estratégica, porque não envolve fecharmos ou não o caso, mas muitas vidas estão em jogo.

_Será mesmo (risos) uma voz no fundo cochichava.

E Peter ignorou e continuou, _ as vidas em jogo são de pessoas inocentes, jovens que podiam hoje... ele parou... fez uma pausa e depois tentou continuar, mas aquela voz continuava.

Peter dirigiu calmamente para o local , com a voz enfurecida ele se apoiou sobre a mesa gritando para o colega, Carlos entenda uma coisa para ti aquelas pessoas talvez não valem nada, mas lembre que a vida da tua família também está em jogo ou te esqueceste que na última operação alguém nos delatou para os criminosos . Ironicamente Peter diz lhe, a não ser que a tua família esteja segura.

Cada agente de inteligência ficou responsável de decifrar e analisar um conjunto de documentos e mensagens Peter para não expor muito a vida da Milena ele ficou com a parte do caso do arquivo que tratava de dela.