Capítulo II

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Brasil – Dias atuais

ISABELLE

Até os cinco anos, antes de ir dormir, meus pais liam contos de fadas para mim. Quando eu finalmente aprendi a ler, passei a lê-los sozinha e com maior frequência. Eu sempre me fantasiei de princesa em aniversários, carnavais ou qualquer outro tipo de festa. Aos doze anos, eu ainda sonhava com um príncipe encantado chegando em um cavalo branco para me buscar.

Eu tenho dezenove anos, mas mesmo assim nunca deixei de acreditar um pouco na magia presente nos contos de fadas. Claro que agora eu tenho total consciência de que não sou uma princesa e parei de sonhar com um cavalo branco. Mas não parei de sonhar com um príncipe encantado ou, pelo menos, com uma espécie de príncipe. Um homem que me ame e me respeite. Não ligo mais para detalhes como condição financeira ou físico, só quero ter alguém decente ao meu lado.

Mas isso nunca me aconteceu. Todos os homens ou garotos com quem já namorei, cinco ao total, no final eram todos "sapos". Já cheguei a acreditar que todos os homens são assim, mas aquela alma de criança que ainda existe em mim faz com que eu não desista de ter esperanças.

— Isabelle, antes de ir trabalhar, deixe a sua irmã na escola, por favor, porque hoje tenho que ir ao banco pegar o dinheiro.

— Tudo bem, mãe. Sem problemas. — Suspiro, desvencilhando-me de meus pensamentos. — Mas até quando vamos receber esse auxílio?

— Não sei, meu amor. Mas ele nos salvou de uma possível fase de dificuldade, porque você sabe que só a pensão que recebemos pelo falecimento do seu pai não seria o suficiente para nos mantermos e muito menos para pagar os gastos que tínhamos na época.

— Eu sei, mãe. Foi muito difícil quando o papai morreu e como era ele quem sustentava a casa, essa ajuda é mais que bem-vinda.

— Sim, gastamos muito com o colégio da sua irmã e sua faculdade.

— Mãe, eu sei que não ganho muito no trabalho, mas...

— Mas nada, você nem deveria trabalhar. É muito jovem para isso.

— Mãe, eu vou fazer vinte anos!

— Mas você tem que estudar. E outra, o trabalho é seu, então o dinheiro é seu também.

— Mãe...

— Não — ela me interrompe. — Estou indo, senão pego fila no banco. Pode deixar que na volta eu busco a Rebecca na escola.

— Ok, mãe.

— Qualquer coisa, me ligue.

— Pode deixar.

— Tchau, filha. Fica bem.

Ela sai de casa e me deixa com minha irmãzinha de seis anos. Meu pai morreu antes de conhecê-la. Quando ele foi para o Haiti, mamãe ainda estava grávida da Rebecca e desde então nos revezamos para cuidar dela e distraí-la quando questiona sobre o pai.

— Belle, tô com fome. — Vejo minha irmã parada na entrada da cozinha coçando os olhos. Ela está vestindo um pijama rosa de fadinhas e segura uma manta em sua mão esquerda.

— Bom dia, dorminhoca. — Sorrio.

— Bom dia. — Ela me abraça do jeito dela, ou seja, na cintura, que é onde alcança. — Onde a mamãe foi?

— No banco, meu amor. Mas depois ela volta.

Passo a mão em seu cabelo encaracolado e loiro, que faz contraste com o meu, que é castanho e ondulado. Só temos uma coisa semelhante no cabelo: os dois passam do meio das costas. Porém, temos olhos iguais aos que meu pai possuía: castanho-claros.

A Primeira PétalaWhere stories live. Discover now