Capítulo VI

841 71 2
                                    

Por um momento e até de forma automática, compartilho o beijo e me deixo ser levada. Até que a ficha cai e percebo que quem está na minha frente é meu melhor amigo e que isso não faz o menor sentido. Pelo menos não para mim.

— Luan! — Empurro-o. — O que significa isso?

— Isa, eu amo você! — ele diz.

— Não, Luan, não fala isso. — Suspiro.

— Você não me ama?

— Como melhor amigo, como irmão. Não da forma que você está pensando. Acho que está confundindo as coisas. Esses dias têm sido desgastantes para todos.

— Não, Isabelle. Eu tenho certeza dos meus pensamentos.

— Luan... — começo, mas me calo.

Ele se aproxima novamente e me beija. Desta vez eu deixo que continue. Estou desorientada e sem forças para impedir. O beijo é como o anterior, desesperado. Mas eu não consigo sentir nada além de amizade por ele, chega a ser estranho. Ele coloca a mão na minha cintura e não reajo, continuo com os braços ao lado do corpo. Quando ele para o beijo, somente o encaro.

— Viu? Você gostou.

— Ah, Luan... — inicio. — Não força, você sabe que eu não tô com cabeça para isso.

— Eu não estou forçando nada! Só acho que você tem que ficar aqui. A gente dá um jeito, Isabelle! A gente sempre consegue dar um jeito, não é mesmo?

— Não é tão fácil assim, você sabe. Por favor, não estraga a nossa amizade.

— Eu não tô estragando nada! — Ele segura em meu pulso e eu o encaro. — A gente sempre se deu bem junto.

— Não como um casal, Luan.

— Isabelle... Só uma chance.

Tento me desvencilhar do seu aperto, mas ele só segura meu pulso mais forte.

— Você está me machucando! — digo e ele se afasta, largando-me. — Luan, vai embora, por favor! — Aponto para a porta. — Você está confundindo tudo.

— Eu vou, Isa. — Ele se vira para a porta. — Mas lembre-se que eu posso te fazer feliz.

Vejo-o saindo pela porta e sento no sofá. Começo a chorar e a pensar no beijo. Eu nunca imaginei que ele pudesse gostar de mim dessa forma. Luan sempre foi muito namoradeiro, nunca parou com uma garota por muito tempo e também nunca ficou sozinho por mais do que algumas semanas. Exatamente o meu oposto. Sempre demos muito certo juntos, mas como amigos, nada a mais. Ele é incrível, gentil, divertido, companheiro, mas... Eu não sei.

O Luan é meu melhor amigo desde que éramos muito novos e nunca o imaginei de outra forma. Luan, Lara e eu estudamos na mesma escola desde a Pré-escola, onde nos conhecemos. Lara e eu passamos todos os anos escolares estudando juntas, mas ele, como é um ano mais velho, estava sempre em uma turma superior à nossa. Não sei me imaginar sem ter um deles na minha vida. Parece até estranho ter dois melhores amigos irmãos, porém é até mais fácil, já que dá para contar a mesma coisa para os dois e geralmente dá para encontrá-los no mesmo lugar quando necessário. Claro que a Lara sabe de mais coisas do que ele, mas nada demais, só situações a ver com relacionamentos que achei melhor poupá-lo.

Apesar de todos os anos de amizade e de tudo pelo que passamos, é dessa forma que o vejo, como melhor amigo, nada mais. Bem, para ser honesta, na hora eu realmente não senti nada além da amizade, porém, agora... As ideias começam a confundir minha cabeça. É tanta coisa acumulada... E mais essa agora.

— Belle! Belle! — Sinto as mãozinhas da Rebecca em minhas pernas e me desvencilho dos meus pensamentos. — Belle, o que houve? Por que você está chorando? Belle? — Ela bate de leve em meu braço. — Belle, fala comigo, por favor.

A Primeira PétalaWhere stories live. Discover now