Capítulo XVI

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Brasil – Dias Atuais

ISABELLE

— Como amigo — acrescento rapidamente quando noto o olhar de espanto e curiosidade de Richard sobre mim. — Você é um bom amigo — tento contornar a situação. Sinto minhas bochechas corarem e só então percebo que ainda estou segurando seu braço. Largo-o e dou um passo para trás. — Desculpe.

— Não, tudo bem. — Ele dá de ombros, recuperando-se do choque. — É... — começa. — Acho melhor eu ir embora.

— Tudo bem. — Suspiro. — Mas, é sério, você é uma boa pessoa. Não deixe se abater por opiniões de pessoas que não valem a pena. Pessoas que não estão nem aí para os outros e só pensam nelas mesmas. Você é melhor do que isso, Richard.

— Obrigada. Bem... — Ele se vira. — Vou lá. Tenho trabalho a fazer.

— Tudo bem. — Dou um pequeno sorriso. — Foi bom conversar com você e saber um pouco da sua vida.

— Digo o mesmo.

— Mas você já sabe tudo da minha vida — comento.

Ele dá uma risadinha.

— Foi bom ter alguém para me ouvir, isso que eu quis dizer.

— Ah, sim. Quando precisar, estou aqui.

— Tudo bem, obrigada.

— Nada. — Sorrio de leve enquanto o assisto sair do meu quarto.

Richard fecha a porta, deixando-me sozinha no cômodo.

XXXX

Pensei que depois disso iríamos começar uma amizade e eu poderia conhecer mais sobre Richard. O homem misterioso com um bom coração, mas que guarda muito rancor dentro de si. Acreditei que poderíamos, até mesmo, nos tornarmos amigos. Fui otária, como sempre.

E de novo ele simplesmente fingiu que eu não existia. Passou a nem mesmo me dizer coisas fúteis como "bom dia", "boa tarde" ou "boa noite". Um aceno de cabeça era o máximo que eu recebia dele ao longo do dia, durante todos os dias.

Pelo menos ele conversava com minha irmã. Depois daquele dia, comecei a prestar atenção nos dois e realmente há um diálogo entre eles; entusiasmado, eu diria. Ele sorri para ela! E para mim... É como se eu não estivesse lá.

Quando a Rebecca tenta me incluir no assunto, ele para de responder, diz que tem que ir ou seja o que for. Não me dá espaço para falar. A todo momento eu sinto como se Richard preferisse que eu nem mesmo estivesse aqui nesta casa. E o pior é que nem sei o porquê disso. Não fiz nada contra ele.

Já passei e repassei nossa conversa daquele dia no quarto diversas vezes em minha cabeça e não consigo perceber nada demais em tudo o que disse. Não acredito que a culpa do afastamento repentino dele tenha sido minha.

Para ser sincera, acredito que o problema é ele e não eu. Richard se afasta de todos. Prefere viver em uma bolha só dele a ter que conviver com outras pessoas. Ele tem medo de se apegar a qualquer um, tem medo de ser iludido novamente e, sinceramente, nem sei o motivo. Não sei se foi só o lance da família, acho que tem algo a mais por trás disso, mas como vou perguntar isso a ele se nem ao menos olha na minha cara?

Apesar de os dias parecerem se arrastar, um mês passa desde nossa última conversa. Nem mesmo os dias que passaram mais rapidamente me fizeram sofrer menos por causa de suas atitudes. É horrível estar em um lugar e não me sentir bem-vinda, ainda por cima quando não tenho outra escolha e nem para onde ir. Já pensei diversas vezes em voltar para minha antiga casa, porém não tenho mais emprego e tenho medo da Cíntia não me aceitar de volta, ainda mais depois de o advogado do Richard ter acertado minha demissão com ela, não eu. Não sei a justificativa que ele usou e por isso não tenho nem coragem para chegar até minha ex-chefe e solicitar meu emprego de volta. Além de tudo isso, ainda tenho receio pelo que Richard falou sobre poderem me prejudicar estando naquele Buffet e não tenho a menor ideia de até onde são capazes de chegar para atingi-lo. Também me candidatei em algumas vagas de emprego que achei na internet, mas até agora não consegui ser chamada para nada.

A Primeira PétalaWhere stories live. Discover now