Capítulo VII

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Vejo o Luan partir sem compreender direito o que aconteceu, ou melhor, o que está acontecendo. Como eu fui parar onde estou? Como tudo aconteceu tão rápido?

Ainda o observo por mais alguns segundos até o Luan entrar em seu carro e ir embora. Percebo que o motorista está me aguardando, então entro no carro sem falar nada e me acomodo ao lado de minha irmã.

O motorista fecha minha porta, dá a volta para entrar em seu lugar, fecha a porta e liga o carro. Observo minha casa enquanto o carro começa a andar e uma sensação de nostalgia misturada com tristeza vem à minha mente.

Lembro-me do meu pai e de como eu ficava feliz quando ele voltava do hospital. Eu era tão pequena... Lembro-me do dia do meu aniversário de sete anos, quando ele chegou bem tarde do hospital. Estava de plantão e não importa quantas vezes minha mãe tenha me mandado dormir, eu não dormi. Fiquei sentada no sofá até ele chegar, era quase meia-noite. Mas ele sempre me dava feliz aniversário, todo ano, sempre passava o meu aniversário comigo. E então, quando eu já estava quase dormindo no sofá, ouvi o barulho de seu carro parando na garagem e, um tempo depois, da porta sendo aberta.

Meu pai me olhou com um enorme sorriso no rosto e também com um leve ar de espanto.

— Ainda está acordada, minha princesa? — ele perguntou, pegando-me no colo.

— Claro, papai — eu disse sorrindo. — Você não me deu feliz aniversário ainda!

— Ué?! — Ele me olhou fingindo surpresa e eu, na inocência, acreditei. — É seu aniversário hoje?

— Papai, claro que é! Você sabe disso, você sempre sabe!

— É claro que eu sei. — Ele me girou no ar. — Agora, espere um instante.

— Ok! — Sorri para ele enquanto o mesmo me colocava no chão.

Ele foi até o carro e voltou um tempo depois com um saco na mão.

— Feliz aniversário, princesa! — ele disse enquanto retirava um grande embrulho do saco.

Rasguei-o com todo cuidado e dei um grito de emoção quando vi o que era... Um castelo para minhas bonecas. Eu sonhei tanto com esse presente quando era mais nova.

— Obrigada, papai! — disse, pulando em seu colo.

— Gostou do presente?

— Sim! — respondi toda feliz.

— Que barulho é esse? — falou minha mãe, saindo meio sonolenta do quarto. — Isabelle, você ainda não foi dormir?

— Não, mamãe. Eu estava esperando o papai — respondi.

— Oi, amor — disse minha mãe e deu um beijo rápido no meu pai.

— Eca — eu disse e os dois começaram a rir. — Papai, guardei bolo pra você!

— Guardou? — Meu pai me olhou feliz. — Não precisava, pequena.

— Mas é claro que precisava! A mamãe fez bolo das princesas pra mim! Eu já volto! — Saí correndo e fui até a geladeira. Abri-a, peguei um pedaço de bolo totalmente torto que eu havia feito questão de guardar para ele e voltei para a sala. — Este é o primeiro pedaço, papai. Guardei especialmente para você!

— Obrigada, minha princesa. — Vi meu pai secando uma lágrima.

— De nada. — Sorri sem entender o porquê da lágrima.

Aquele dia não tinha sido um bom dia para meu pai, já para mim havia sido normal. Fui ao parque e depois minha mãe fez uma festinha chamando meus amiguinhos, e é claro que a Lara e o Luan estavam presentes. Mas meu pai... Havia perdido um amigo que estava internado no mesmo hospital em que ele trabalhava, além de ter presenciado a morte de mais outras duas pessoas que chegaram para serem atendidas por ele, vítimas de atropelamento, as quais infelizmente não conseguiu salvar.

A Primeira PétalaWhere stories live. Discover now