Capítulo XXII

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Acordo e tateio a cama à procura de Richard. Vazia. Abro meus olhos e observo o quarto. Nenhum sinal dele.

Suspiro e pego meu celular na mesinha de cabeceira para olhar a hora. É um pouco mais de dez da manhã e achei que acordaria mais tarde, mas não foi dessa vez. Dormi a noite toda de forma tranquila, não acordei e não me lembro de ter tido pesadelo. Contudo, o medo que eu tinha sentido ontem à noite se concretizou.

Richard foi embora assim que teve a oportunidade. Talvez ele nem ao menos tenha dormido ontem à noite comigo e só esperou que eu dormisse para poder partir. E como sempre, irei ficar sozinha novamente, sofrendo e perdida em meus devaneios.

A dor de cabeça que sinto é a única coisa que me faz ter certeza de que a noite passada não foi só mais um sonho. O efeito do álcool passou, mas uma leve ressaca assumiu seu lugar. Sento-me na cama, olho mais uma vez ao redor e noto um copo d'água com um comprimido na mesinha de cabeceira.

Sem nem raciocinar direito, tomo o medicamento. Reconheço como sendo para dor de cabeça e para mim é o suficiente. Coloco o copo de volta no lugar e percebo que há uma folha embaixo de onde antes estava o comprido. Pego-a e logo reconheço a caligrafia de Richard. Meu coração acelera e respiro fundo antes de decidir ler.

"Belle (posso te chamar assim?), você estava dormindo de forma muito tranquila e eu não quis te acordar. Tive que ir ao escritório para fazer algumas ligações, mas, quando quiser e se quiser, pode ir lá me procurar.

Espero que eu não tenha entendido errado sobre ontem à noite e que você realmente queira algo a mais de mim além da nossa amizade, assim como eu quero de você. Você me perguntou se estamos numa relação e eu te devolvo a pergunta: estamos? Espero sua resposta, mas deixo claro que é você quem sabe se quer ou não. Não quero te pressionar e nem quero que ache que estou tentando tirar proveito da situação.

Enfim, qualquer coisa, você já sabe onde me encontrar.

Não sei como terminar este bilhete, então deixo apenas um "até logo".

Richard.

PS: Acordei com dor de cabeça e acredito que você acordará também, porque estávamos um pouco alterados ontem à noite, então deixei um comprimido e um copo d'água aí para você, como deve ter percebido.

Ah, antes que eu me esqueça: Bom dia."

E acabou.

Encaro o bilhete e o releio novamente. Então não foi tudo um sonho! Realmente ainda há esperança para mim. Leio a parte do bilhete onde ele fala que quer algo de mim umas três vezes para ter certeza de que não entendi errado. Ele me quer! E nem dá para acreditar.

Estou me sentindo como uma adolescente apaixonada pela primeira vez. Sei que isso é clichê e que Richard não é minha primeira paixão, mas realmente sinto que com ele é diferente. O que sinto por ele é único e especial, não me lembro de ter me sentido assim antes, e finalmente estou sendo correspondida.

Levanto-me e tomo um banho, sorrindo para o nada de forma bem boba mesmo. Apesar de eu querer parecer e agir mais como uma adulta, ainda mais agora que tenho vinte anos, conseguir ter o Richard depois de tanto tempo e já perdendo as esperanças me faz querer ser uma adolescente outra vez.

Como já sei que Richard não vai tomar café da manhã comigo e não sei se minha irmã já está em casa, ligo para a cozinha e peço para trazerem meu desjejum no quarto. Aguardo alguns minutos e logo Joana aparece com uma bandeja com um pão com queijo, um pedaço de bolo de laranja e um café bem forte, do jeito que preciso.

A Primeira PétalaWhere stories live. Discover now