Capítulo XXIII

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Uma semana passou desde que Richard e eu decidimos ficar juntos e há dois dia a Rebecca descobriu sobre nossa relação. Ela nos viu dando um beijo no quintal e saiu gritando pela casa que iríamos casar. Sim, minha irmã é exagerada a esse ponto. Todavia, nós optamos por não colocar rótulos na nossa reação. Nos juntamos de uma forma tão bagunçada e inesperada que achamos melhor não definirmos o que estamos vivendo e apenas aproveitarmos o momento.

Durante esses sete dias fui descobrindo mais sobre o Richard, que mostrou ser carinhoso, sorridente e até mesmo brincalhão. Apesar disso, ele nunca me deixa ver por baixo de sua máscara, mesmo que eu já tenha pedido umas três vezes. Depois da última vez, percebi que isso o estava magoando muito, então parei. Posso estar muito curiosa para ver o que tanto ele esconde e se é tão terrível assim, mas tenho total noção de que é um direito do Richard optar por não quer me mostrar suas feridas.

Ainda estamos no começo da relação e também não posso ficar exigindo que ele tenha total confiança em mim. Não tenho ideia nenhuma a respeito do que Richard teve que enfrentar depois que teve seu rosto prejudicado e perdeu seus melhores amigos, por isso tenho que respeitar seu espaço. Sei que não é da noite para o dia que passamos a confiar em alguém, então quero ir com calma com ele, dando um passo de cada vez.

Meu plano é deixar mais claro a cada dia que estou aqui para ele e que realmente não me importo com o dinheiro ou o que tem por baixo da máscara, que nenhum desses fatores influencia no que sinto. Porém, sem nenhuma pressão. Se eu não gosto de me sentir pressionada, imagino que ele também não goste.

Além do mais, chega a ser engraçada a conexão que temos. Nós não conversamos muito e também não sentimos a necessidade. Foi tão confuso chegar até aqui que não perdemos muito tempo com palavras, ao invés disso preferimos demonstrar em gestos. Tenho a impressão de que justamente isso faz com que sejamos capazes de entender e respeitar melhor um ao outro sem precisarmos explicar muita coisa.

Basicamente só conversamos sobre nosso passado, até como maneira de nos conhecermos um pouco melhor. Fora isso, quase não falamos nada. Até então, Richard me contou sobre a época dele no exército e que se mudou para os Estados Unidos logo depois que voltou do Haiti. Também dialogamos sobre nossas famílias. Abordei um pouco sobre como foi viver com minha mãe e a Rebecca depois da morte do nosso pai. Já ele contou sobre sua família, mas o mínimo possível. É nítido que esse assunto é muito complicado para ele transmite certa insegurança.

Mas não foi só isso que pude perceber em tão pouco tempo. Notei um homem ferido pelas atitudes do pai e ainda com medo de que algo ruim possa acontecer. Richard me explicou que ainda tem que se esconder um pouco, porque, querendo ou não, ele é conhecido por pessoas ruins por ser filho de quem é.

Richard me mostrou algumas fotos que recebeu de Katharine, em que estão ela e a mãe. Apesar de ter um jeito de "perua", daquelas que compram casacos de pele e botas de couro, além de completar o look com óculos de sol de tamanho exagerado, a mãe dele pare ser um amor e é sempre muito sorridente.

Já Katharine, ah, é a cópia da mãe. Só pelas mensagens que ela manda para o irmão dá para perceber que é muito extrovertida e nitidamente mimada.

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— É ela de novo. — Richard revira os olhos quando vê que seu celular está tocando.

Estamos em meu quarto, ele sentado na cama e eu com a cabeça apoiada em seu colo.

— Atende logo. Sabe que sua irmã vai ficar ligando até você atender.

— Ok. — Ele bufa e atende, colocando no viva-voz. — Fala. — Revira os olhos mais uma vez.

A Primeira PétalaWhere stories live. Discover now