Capítulo XII

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Um mês passou desde aquele dia em que cheguei da faculdade e encontrei Richard me esperando para jantar. Apesar do tom diferente em sua voz que percebi em sua voz, ele não falou mais nada, só mandou a comida ser servida e ficou em silêncio durante todo o tempo. E essa foi basicamente a nossa relação durante todo esse mês. Na verdade, eu posso definir Richard como contraditório.

Certos dias, quando estou na biblioteca arrumando seus livros, ele chega até mim, conversa comigo, pergunta dos lançamentos, discute leituras em comum e tudo o mais. Ri e se distrai. No escritório, a mesma coisa. Inclusive às vezes até me ajuda quando vê que alguma dúvida sobre onde organizar algo em específico surge.

Em outros dias – a maioria deles – é como no começo. Ele só me cumprimenta e passa o dia todo dentro de seu escritório fazendo sabe-se lá o quê; pedindo para algum funcionário me avisar quando está na hora de eu organizar algo. Aparece durante as refeições, mas dificilmente comenta algo. Há dias em que ele prefere jantar com a Rebecca e quando chego da faculdade tenho que jantar sozinha.

Minha mãe continua na mesma desde aquela segunda-feira em que fui lá e não teve nenhuma hemorragia. Os médicos dizem que ela está se recuperando bem, mas que não podem fazer mais nada, que agora é com o organismo dela, que tem que decidir quando vai "voltar".

Estou a visitando duas vezes por semana, como combinei com o doutor. Agora que já conversei com a Rebecca sobre o estado da nossa mãe (não de forma muito profunda, já que ela não entenderia), pelo menos uma vez na semana levo-a comigo até o hospital, mas só por alguns minutos. Minha irmã sente muito a falta de nossa mãe, assim como eu. Talvez ela tenha ainda mais medo de perder a mamãe, pois ela não conheceu nosso pai, nunca o viu pessoalmente e ele partiu... cedo demais, sem ter a oportunidade de conhecê-la pessoalmente. Ou seja, ela sofre com receio de que o mesmo aconteça com a mamãe e só reste eu. Algumas vezes no hospital ela abraça nossa mãe e chora baixinho, tentando passar despercebida, porém eu obviamente a percebo. Com isso, tento distraí-la ao máximo.

Com relação ao Luan, ainda não passei o endereço da casa para ele, não sei, mas tenho medo que venha até aqui. Além de termos nos beijado algumas vezes e de não sabermos como lidar com a situação toda (ainda acho que só vamos dar certo comigo amigos, porém percebo que há uma chama de esperança acesa no Luan, mesmo que não tenhamos ficado nenhuma vez no último mês), ele não gosta do Richard. Mesmo que nunca o tenha conhecido pessoalmente, ele tem medo que o Richard "tente me roubar dele". Apesar disso, sempre que dá, levo minha irmã para passear com o Luan. Eles gostam tanto um do outro que não tenho como negar aos dois alguns momentos juntos. Ele a leva para parques e praças, paga algodão-doce, sorvete... Pelo menos ela se distrai um pouco com isso e ele a faz bem.

No mínimo uma vez na semana encontro a Lara em algum lugar (shopping, praça, sorveteria...) para colocarmos os assuntos em dia. Ela me conta suas novidade e principalmente sobre a pessoa que está roubando seu coração no momento: Alexander, o monitor americano de Inglês Instrumental I. Já eu conto para ela dos meus dias e... do Richard.

Ah, Richard. Esse jeito de um dia me dar total atenção e no outro me tratar como se eu fosse um incômodo na vida dele está acabando comigo. Ele é simplesmente incrível, atencioso e até mesmo carinhoso, mas... quando quer. E quando não quer é esse ser humano todo misterioso. E o pior de tudo: isso está me atraindo e muito.

A cada dia que passa me sinto mais e mais atraída por ele. Fico imaginando nós dois juntos e, não querendo admitir, mas admitindo, quero beijá-lo. Sei que só o conheço há pouco mais de um mês. Sei que ele era amigo do meu pai, que é mais velho que eu, que esconde segredos e que usa até mesmo uma máscara, mas, sinceramente, não dá mais. Eu sinto alguma coisa por ele e nem ao menos sei direito o que é.

A Primeira PétalaWhere stories live. Discover now