Capítulo VI

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Amir estava deitado pensativo, o braço esquerdo apoiando a cabeça, Anne deitada sobre seu corpo enquanto acariciava distraidamente os cabelos dela. Lembrou da noite anterior, de seu desespero tentando fazer com que Anne acordasse. Pressentiu o perigo e ficou em seu carro perto da casa de Anne até amanhecer. Sentiu a presença de Ezequiel, sabia que ele tentaria mais uma vez atraí-la durante o sono. O dom de entrar na mente das pessoas enquanto elas dormem Amir também possuía, embora Ezequiel fosse muito mais poderoso, conseguindo se materializar, tornando o sonho uma realidade alternativa.

Amir conseguia apenas vislumbrar os acontecimentos do sonho de outras pessoas, nunca tinha conseguido interagir com o sonhador, até aquela noite. Ezequiel tentou seduzir Anne e por muito pouco não conseguiu. Anne resistiu a sedução de um poderoso Upyr, mostrando que era uma mulher mais forte do que ele imaginou. Havia outra presença no sonho dela que Amir não conseguiu identificar. Fosse quem fosse, não intencionava seduzir Anne mas matá-la. Amir sentiu a violência e o desejo de morte que emanava daquela presença desconhecida e desesperou-se ao ver a criatura atacá-la sem que ele pudesse fazer nada.

Antes, estava furioso, dominado pelo ciúme que sentia e por sua incapacidade de fazer qualquer coisa para afastar Ezequiel de Anne. Depois, veio o medo de não conseguir protegê-la, de não impedir o ataque daquela criatura. Tentou aparecer para ela mas não conseguiu, se concentrou o máximo que pôde e fez-se ouvir gritando para que acordasse.

E ela acordou.

Dentre tantos cavaleiros de seu clã, ele foi o escolhido para proteger Anne. Sua missão era encontrá-la, afastá-la de Ezequiel e mantê-la viva até que chegasse a hora em que os Élderes exigiriam sua presença diante do conselho. Parecia uma missão como qualquer outra, até mesmo fácil demais para alguém como ele, que no passado já havia enfrentado tantas batalhas.

Estava preparado para as dificuldades de uma campanha militar, esteve nas trincheiras durante as grandes guerras que o mundo humano conheceu, mas não estava preparado para o medo que sentia por aquela mulher que mal conhecia e que se entregara para ele com tanta paixão.

Amir olhou para Anne que estava dormindo em seus braços e suspirou. Delicadamente a afastou e levantou, sem acordá-la. Vestiu novamente a calça e pegou o envelope que ela havia deixado sobre a mesinha no canto do sofá.

Olhou para o envelope que segurava, embora se sentisse incomodado por invadir dessa forma a intimidade de Anne, precisava saber o conteúdo daquela carta. Precisava saber o que a mãe de Anne poderia ter escrito para a filha antes mesmo de morrer. Talvez algum segredo sobre Ezequiel? Sobre os Darknights? Talvez algo que livrasse a filha do jugo da abominável e temida profecia?

Querida Anne

Quando você receber essa carta já será uma mulher adulta e creio que estará pronta para saber a verdade sobre quem você é. Enquanto escrevo essas linhas, imagino como você será quando sair de meu ventre...

Temo que talvez você nunca escute essas palavras de minha boca, então as gravarei nessa folha de papel para que sempre possa lê-la: eu te amo muito e seria capaz de dar a minha vida por você.

Ficar grávida foi um milagre, nos disseram que seria impossível algo assim acontecer. Um Upyr tem dificuldades para gerar filhos com seus pares, e de um relacionamento entre um Upyr como seu pai, e uma humana como eu, seria impossível. Mas o impossível aconteceu e você é meu pequeno milagre!

Quando os Élderes souberam de minha gravidez vieram até mim preocupados devido a uma antiga profecia que menciona uma criança, filha de um Upyr com uma humana, no caso você, que se tornaria uma poderosa rainha. De acordo com eles, você terá em suas mãos o destino de todos, humanos e Upyr, para o bem ou paro o mal, pois para o lado que seu coração pender, luz ou trevas será a paga.

Herança Sangrenta : GênesisOnde histórias criam vida. Descubra agora