Capítulo XI

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A sala de jantar era ampla, ricamente mobilhada como o resto da mansão. Cortinas pesadas e deprimentes obscureciam o ambiente. Quadros raros de pintores famosos cobriam as paredes ostentando o poder financeiro do dono do imóvel. Fotos antigas, provavelmente de antepassados representando uma época distante, estavam arrumadas de maneira elegante sobre uma antiga arca negra. O jantar foi servido em uma ampla mesa de madeira com cadeiras maciças e desconfortáveis de espaldar alto. Uma verdadeira peça de museu. Os utensílios eram de prata e brilhavam, limpos, polidos, elegantes.

Tudo refletia o poder e a tradição que o anfitrião tinha orgulho de exibir, representando a si próprio apesar de sua ausência.

Jorge puxou uma cadeira para que Anne se sentasse, indicando uma cadeira do outro lado da mesa para que Amir sentar de frente para ela.

Ambos estavam vestidos a rigor. Depois da conversa que tiveram no quarto em que Anne ocupava os dois tiveram mais um momento de intimidade. Se entregaram e permitiram que seus corpos expressassem o que sentiam um pelo outro, embora nenhum dos dois conseguia dizer exatamente que sentimento era aquele. Uma mistura de forte atração sexual, encanto, carinho...

Nenhum dos dois perdeu tempo analisando rótulos, apenas se deixavam viver.

Amir se despediu de Anne com um beijo na testa e seguiu para o quarto dele para se trocar. Antes que ela tivesse tempo de perguntar como se trocaria, Amir saiu do quarto fechando a porta atrás de si.

Anne estava confusa pois não havia levado nenhuma peça de roupa para que pudesse se vestir para o jantar. Estava ainda enrolada na toalha quando Jorge bateu em sua porta trazendo uma grande caixa de papelão branco e uma sacola com o logo de uma conhecida grife francesa. Dentro da caixa, um vestido vermelho longo com uma fenda na perna e na sacola, um par de sapatos de salto alto. Anne sorriu impressionada, com certeza o valor de ambos seria suficiente para comprar o Beetle que ela tinha pedido aos pais de presente. Dentro da sacola, Anne também encontrou um cartão com uma mensagem escrita em uma elegante caligrafia cursiva.

"Humildemente espero que seja de seu gosto.

Anne fez uma careta quando leu a assinatura de Lorde Barrington. Se estivesse tão preocupado com formalidades, não os teria deixado sozinhos. Embora, internamente, estivesse grata, a ausência do Lorde não tinha sido tão desagradável quanto sua presença. Ela não tinha brincado quando disse a Amir que o Lorde lhe causava arrepios. No entanto, a decepção tocou-lhe o coração, desejava que o presente fosse de Amir, ou ainda mais, no fundo, imaginava que esse era o tipo de presente ofertado por alguém como Ezequiel.

Meia hora depois, abriu a porta do quarto e encontrou Amir no corredor a aguardando para irem juntos à sala de jantar. Anne admirou Amir sem disfarçar, o jovem upyr parecia um modelo de revista vestindo um Terno obviamente feito sob medida. Seus cabelos estavam penteados para trás, comportados pelo uso de uma leve camada de gel, apenas o suficiente para domar os fios. Amir manteve o centímetro de barba perfeita no rosto, pois sabia que Anne preferia assim, ela mesma havia lhe dito.

Os lábios de Amir exibiam um sorriso orgulhoso por ser alvo do olhar desejoso da jovem a sua frente. Ela estava perfeita, sexy, sedutora, elegante e inocente. Corpo de mulher e olhos de menina, um conjunto que o deixava a mercê dessa jovem. O vestido, longo e vermelho, caía como uma luva, exaltando a beleza das curvas femininas de seu corpo. A perna direita, se fazendo notar pela fenda do vestido, o fez desejar rasgá-lo, atirá-la na cama e fazer do corpo dela seu jantar, saciando outro tipo de fome. Do tipo em que ela sentiria tanto ou mais prazer do que ele. O jeito que ela o olhava o fazia desejar ouvi-la gemer seu nome em êxtase enquanto ele estivesse devorando cada centímetro da parte mais íntima de seu corpo.

— Por que está me olhando desse jeito? — Anne perguntou trazendo a mente de Amir de volta a realidade.

Amir sorriu e respirou fundo, encantado pela inocência da jovem a sua frente, contrastando com as cenas que haviam passado pela sua cabeça.

— Você está linda, Anne!

— Você também está um gato! 

Amir sorriu e entrelaçou seus dedos aos de Anne e ambos se dirigiram à sala de jantar. e mãos dadas.

Jorge puxou uma cadeira para Anne sentar logo após indicar a cadeira em frente para Amir.

"Por que Jorge não me deixou sentar ao lado de Amir?"

Pensou irritada. 

Toda aquela formalidade a estava incomodando. Havia mais um lugar preparado à mesa ao lado de Amir, que Anne pensou que era para si.

— Está esperando mais alguém, Jorge?— Perguntou Amir, parecendo adivinhar o pensamento dela.

— Sim, senhor! Nosso outro hóspede chegou mais cedo do que esperávamos e deve-

A porta dupla do outro lado da sala de jantar se abriu e uma mulher entrou, interrompendo a fala de Jorge. O clique do salto alto de seus sapatos ecoou pelo recinto, quebrando o silêncio que sua entrada havia causado. Estava vestida de maneira elegante como Anne, porém seu vestido negro era um tanto mais revelador. Sua pele alva e aveludada dava-lhe um ar fantasmagórico que em nada diminuía sua extrema beleza.

Seus olhos verdes brilharam ao encontrarem o olhar de Amir e seus lábios vermelhos se contorceram em um sorriso que exibia perfeitos dentes brancos. Ela seguiu na direção de Amir, ignorando propositalmente a presença de Anne. Extremamente charmosa, prendeu uma mecha de seus longos cabelos vermelhos atrás da orelha e esticou a mão para cumprimentá-lo.

Amir mal podia acreditar no que estava vendo. Depois de tantos anos pensou que nunca mais encontraria aquela mulher. Mulher por quem foi apaixonado, que uma noite fez com que a paixão que sentia se transformasse em ódio. Mulher que, na noite em que ele a levou para conhecer membros importantes do conselho de Élderes, fez com que ele a odiasse. 

Ódio pela traição, pelo coração partido.

Ela que um dia ele chegou a pensar em chamar de esposa, ela que ele encontrou no banheiro do restaurante com outro...

— Bianca!


Herança Sangrenta : GênesisWhere stories live. Discover now