Capítulo XX

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— Como assim você não precisa mais dos meus serviços? — Vociferou Amir, recebendo em retorno uma espécie de rugido da boca do Lorde.

— Eu não gaguejei e não falei em outra língua, Amir Borislav. Lembre-se de onde você está e com quem você está falando. — Respondeu Lorde Barrington fazendo um enorme esforço para manter o tom de voz amigável. — Você cumpriu sua missão, encontrou e protegeu a jovem Anne até que viesse à minha residência, agora seus serviços não se fazem mais necessários e você já pode voltar a seu clã. Lorde Zaffir já sabe que estará de volta o mais rápido possível.

— Não pode estar falando sério! Eu mal a encontrei e Ezequiel continua sendo uma ameaça, ela é apenas uma humana, precisa de mim para protegê-la, não entendo o motivo de estar me dispensando..

— Amir, ela está sob meu teto, todos aqui são de minha inteira confiança, e portanto, está protegida. A guardarei de Ezequiel Vladmir e de qualquer outra pessoa que queira prejudicar o cumprimento benéfico da profecia. Volte para sua casa, seu clã precisa de você, ela não precisa mais.

— Isso é tudo o que importa? Essa maldita profecia? E o que ela quer? Fique sabendo que ela não quis dormir aqui, eu tive que convencê-la! Como pretende fazê-la ficar aqui indefinidamente, Lorde Barrington?

— Mais uma vez mostra que é um soldado competente, fez muito bem em convencê-la a ficar! Não se preocupe em como a manterei aqui, não é mais de sua conta e não precisarei convencê-la a ficar, é o melhor para ela, ainda que ela não saiba disso.

— Pretende mantê-la aqui a força? — Amir engoliu em seco e olhou para o chão. Tinha que haver uma maneira de convencer o Lorde de que aprisioná-la era um erro. — Ela é uma humana adulta, tem conhecidos, está na faculdade, não pode estar pensando em mantê-la cativa!

Lorde Barrington deu as costas para Amir e saiu da biblioteca sem dizer mais nada. Amir passou a mão pelos cabelos e fechou os olhos com força, tentando se controlar na presença do Lorde. Já havia extrapolado em seu comportamento, estava abertamente desrespeitando um Lorde em sua própria residência. Lorde Barrington sempre teve muita paciência com os mais jovens, mas era um ancião que valorizava as tradições. O desrespeito de Amir poderia em breve levar a uma punição nada agradável.

Como podiam esperar que ele simplesmente deixasse Anne naquela mansão e voltasse para sua terra como se nada tivesse acontecido? Amir tinha quase certeza que o Lorde desconfiava de seu envolvimento com Anne e estava deliberadamente os separando. Não conseguia decidir se a intenção do Lorde era motivada por preconceito, visto que Amir não era um nobre; se por causa da maldita profecia que ele odiava cada vez mais ou se pelos dois motivos ao mesmo tempo. Não fazia diferença, Amir não tinha a menor intenção de se afastar de Anne, mas no momento não sabia o que fazer. Mal conseguia pensar, a decisão do Lorde o havia pego desprevenido.

Como o conselho pôde se reunir para decidir a vida de Anne sem nem ao menos consultá-la ou se importar com os interesses dela? O Lorde não estaria pensando em mantê-la na mansão contra sua vontade, ou estaria?

— Tenho um bom pagamento pelo seu trabalho, meu jovem Amir! Escute o que tenho a dizer...

*****

Amir passou a mão pelo rosto e saiu da biblioteca a passos lentos. Sua mente ocupada com perguntas sem respostas e incertezas. Sempre fora fiel ao conselho de Élderes, mas agora se perguntava se deveria se manter apenas um obediente fantoche.

Seguiu caminho até a cozinha e encontrou Jorge ocupado preparando o almoço. Amir não havia tomado café da manhã ainda, mas não estava com fome. A conversa com Lorde Barrington o havia feito perder o apetite. Seguiu caminho de volta para o quarto de Anne e a encontrou sentada na cama com as pernas cruzadas no estilo indiano e lendo um livro.

Herança Sangrenta : GênesisWhere stories live. Discover now