Capítulo XXVIII

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   (Narrativa de Anne)

Durante toda a noite, não consegui dormir direito. Tentei pensar em lugares e situações alegres e que me tranquilizassem, tentei lembrar de bons momentos da minha infância, tentei até contar carneirinhos, mas nada adiantou.

Toda vez que fechava meus olhos, a imagem de Bianca nua na cama de Amir aparecia como se meu próprio cérebro estivesse propositalmente me torturando.

Para piorar, na única vez que consegui pegar no sono, tive um pesadelo terrível e acordei chorando. Depois de acordar com o coração batendo acelerado e dificuldade para respirar, ficou praticamente impossível voltar a dormir.

Amir não voltou a tentar falar comigo e não tenho certeza se me sinto aliviada ou decepcionada com isso. Honestamente, eu gostaria de vê-lo se esforçando para que continuássemos juntos. Eu sempre desejei que um dia alguém gostasse tanto de mim que jamais desistiria, que lutaria por mim, que achasse que eu valho a pena...

Passar a noite em claro me obrigou a pensar em minha situação com Amir. Ele quis um relacionamento comigo, veio atrás de mim tentando se explicar, e pelo volume de voz que ele usou enquanto falava comigo pelo lado de fora, tenho certeza que a ruivona ouviu. Isso significa que ele não tinha sentimentos por ela, certo?

De todo modo, não adiantava tentar adivinhar o que se passava no coração e na cabeça de Amir. O melhor a fazer era me acalmar e conversar com ele. Foi exatamente isso que decidi fazer tão logo o encontrasse. E seja lá o que ficasse acertado entre nós, eu estava decidida a sair daquela mansão, de preferência naquele mesmo dia. Não me interessava saber se o Vampirão se aborreceria ou se viria atrás de mim. Eu não estava nem aí para profecia alguma, queria voltar para casa, rever minha família e seguir com minha vida. Não nasci para ser prisioneira de um vampiro velho que acha que sabe melhor do que eu o que era melhor para mim.

Cerca de vinte minutos depois saí do banheiro me sentindo renovada. Limpa e energizada, me vesti e, tão logo abri a porta para sair do quarto, me deparei com Jorge. O mordomo estava com o rosto ainda mais sério do que de costume e, com os olhos voltados para o chão, me desejou bom dia e me informou que Lorde Barrington desejava ter uma conversa comigo na biblioteca. Jorge se ofereceu para me acompanhar até lá. O acompanhei me sentindo estranha. Ele, que apesar de formal sempre se mostrou educado e jovial comigo, mal olhava para mim. Por outro lado, estava com fome. Poxa, custava o vampirão esperar eu tomar meu café da manhã antes de querer falar sabe lá o que comigo?

Paramos de frente para aporta da biblioteca, mas antes que jorge a abrisse, eu segurei o braço dele.

Jorge, o que está havendo com você? Perguntei cruzando os braços sobre o peito. Não estava mais aguentando ele se comportar comigo como no dia que em cheguei. Já faz uns dias que conversamos e ele se comportava quase como um amigo... Bem... um mordomo formal, porém amigável...

Não há nada comigo, Milady. Jorge respondeu ainda sem me olhar nos olhos. Ainda que ele negasse, continuei a achar o comportamento dele esquisito.

Como não há nada com você? O que te deu para me chamar de Milady? E eu não sou inglesa, nem tenho nada de nobre e-

Antes que eu pudesse concluir minha fala, a porta se abriu e Lorde Barrington apareceu. Ele me olhou de cima a baixo e, sem nem ao menos olhar para Jorge, fez um movimento com a mão e o mordomo se retirou sem dizer nada. Em seguida, Lorde Barrington fez um gesto com a mão para que eu entrasse e sorriu, um sorriso sinistro, parecendo um lobo e pela primeira vez pude notar os caninos dele que pareciam estar mais desenvolvidos que o normal. Pelo menos o que era normal para mim das vezes que o vi antes.

Herança Sangrenta : GênesisDove le storie prendono vita. Scoprilo ora